Paloma Oliveto
Estado de Minas: 29/12/2012
Notícias sobre idosos que caíram em golpes conhecidos, como o falso bilhete de loteria premiado, são cada vez mais comuns. No Brasil, não há estatísticas, mas nos Estados Unidos estima-se que pessoas com mais de 60 anos tenham perdido US$ 2,9 bilhões somente em 2010, devido a fraudes que vão de pequenas trapaças a complexos desvios financeiros. Depois de ver o próprio pai e a tia serem enganados por desconhecidos, a neuropsicóloga Shelley E. Taylor, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), resolveu investigar por que os idosos são o alvo mais fácil dos bandidos. Os resultados foram publicados na revista da Academia Nacional de Ciência dos EUA.
O problema não tem a ver com inteligência, mas com uma área do cérebro envolvida com o julgamento. Em idosos, ela é pouco ou nada ativada diante de rostos que não inspiram confiança. “Julgamentos afetivos ou que envolvam a confiança são processados nas regiões límbicas, que incluem a ínsula anterior. Fizemos dois estudos para ver se o fato de os idosos serem mais vulneráveis que os jovens está relacionado a uma alteração nos padrões de ativação dessas regiões neurais e constatamos que isso é verdade”, relata Taylor. Para descartar diferenças cognitivas, todos os participantes, independentemente da faixa etária, tinham nível de escolaridade semelhante.
Na primeira pesquisa, os voluntários viram diversos retratos e tiveram de classificar os rostos como nao confiáveis, neutros ou de confiança (veja infografia). Como esperado, os jovens demonstraram uma percepção mais aguçada, enquanto os idosos não apresentaram a mesma habilidade. “A maior parte dos adultos mais velhos deixou passar dicas faciais que geralmente são bem fáceis de distinguir em pessoas desonestas, como o tipo de olhar e de sorriso”, conta Taylor.
O outro estudo examinou o comportamento do cérebro por meio de um exame de ressonância magnética funcional. Quando os mais jovens viam as fotos de pessoas que pareciam não ser de confiança, a ínsula anterior era fortemente ativada. “Esse padrão era perceptível mesmo quando eles olhavam para faces honestas. É como se, só de saber que terá de julgar alguém, essa rede neuronal fique de sobreaviso. Quanto aos mais velhos, os sinais cerebrais foram muito fracos.
Aparentemente, o cérebro não lança nenhum sinal de aviso”, explica Elizabeth Castle, aluna de graduação que analisou as imagens geradas pelo exame. “Uma das funções da ínsula anterior é captar os sentimentos corporais e interpretá-los para o cérebro. De certa forma, ela regula o que chamamos de intuição. Nos idosos, a comunicação visual não gerou uma resposta significativa nesse sentido”, diz.
Alarme fraco De acordo com Shelley E. Taylor, quanto mais velha uma pessoa, mais vulnerável ela fica. As duas pesquisas mostraram que mesmo quem não é idoso já começa a perder a capacidade de julgamento de honestidade. “A partir dos 50 anos, esse sistema de alarme no cérebro fica mais fraco. Não é à toa que o perfil das vítimas de fraude financeira são pessoas por volta de 55 anos, com experiência na área de investimentos”, afirma. A neuropsicóloga explica que isso não significa que o indivíduo fique menos inteligente. “O problema é que, como o julgamento sobre honestidade deteriora, a habilidade de fazer bons negócios pode cair.”
Alarme fraco De acordo com Shelley E. Taylor, quanto mais velha uma pessoa, mais vulnerável ela fica. As duas pesquisas mostraram que mesmo quem não é idoso já começa a perder a capacidade de julgamento de honestidade. “A partir dos 50 anos, esse sistema de alarme no cérebro fica mais fraco. Não é à toa que o perfil das vítimas de fraude financeira são pessoas por volta de 55 anos, com experiência na área de investimentos”, afirma. A neuropsicóloga explica que isso não significa que o indivíduo fique menos inteligente. “O problema é que, como o julgamento sobre honestidade deteriora, a habilidade de fazer bons negócios pode cair.”
Taylor conta que, há pouco tempo, o pai dela, de 75 anos, entregou US$ 6 mil para um desconhecido porque achou que se tratava de uma “pessoa do bem”. “O homem passou uma conversa, meu pai acreditou”, relata. A tia da neuropsicóloga também foi vítima ao comprar uma joia falsa de uma pessoa que conheceu pela internet. “Era um brinco de vidro no lugar de diamante.”
Uma das explicações para o declínio desse tipo de julgamento é o fato de que idosos geralmente são menos estressados do que os mais jovens e tendem a enxergar a vida de forma mais positiva. Diversos estudos mostram que eles se recuperam melhor de eventos negativos, não se irritam muito com situações desagradáveis e memorizam mais experiências boas do que as ruins. “Essa sensação de bem-estar é muito boa, mas, ao mesmo tempo, diminui o estado de alerta. Quando se é muito otimista, a tendência é acreditar mais nos outros”, resume Taylor. Ela aconselha que os mais velhos tomem algumas precauções. “Não é preciso ficar paranoico e pensar que todo mundo é mau-cárater. Mas também não saia por aí dizendo que tem dinheiro, evite passar informações pelo telefone ou pela internet e só feche um negócio em instituições sérias”, enumera.
Para Peter Finn, psicólogo e professor da Universidade de Indiana, pesquisas como a da UCLA têm implicações não apenas nos casos de fraudes financeiras. Finn, que estuda o processo de tomada de decisões em idosos, afirma que o declínio da capacidade de julgar pode afetar os indivíduos também em relação a vícios. “À medida que envelhecem, muitas pessoas se tornam dependentes de álcool e de jogo, por exemplo. Parte disso se deve porque elas estão em desvantagem na hora de tomar decisões”, avalia.
Não seja enganado
Veja quais são os principais golpes aplicados em idosos
Conto da aposentadoriaA vítima não é contribuinte da Previdência Social. O golpista se identifica como fiscal do INSS e, demonstrando bom conhecimento de assuntos previdenciários, prontifica-se a conseguir aposentadoria para a vítima. Esta aceita a proposta e paga várias parcelas em dinheiro pelo serviço.
Reajuste atrasado
O golpista se identifica como funcionário de algum sindicato ou associação e age na saída de bancos ou próximo a entidades de classe. Ele aborda as vítimas dizendo que elas têm direito a receber por reajustes atrasados do benefício previdenciário, oferecendo-se, imediatamente, para agilizar o processo. Para isso, pede alguns documentos e, para cobrir as despesas, um depósito de 10% do valor ao qual, segundo ele, a vítima terá direito.
Cartão engolido
O golpista, usando um produto aderente, faz com que o cartão magnético do banco utilizado pela vítima fique preso no caixa eletrônico. O estelionatário fica a distância observando a vítima digitar a senha do cartão. Após várias tentativas, a vítima desiste de usar a máquina e deixa o cartão. O golpista retira o cartão e saca todo o dinheiro disponível na conta-corrente.
Recadastramento bancário
O golpista liga para a vítima e diz ser representante do banco no qual ela tem conta. Na conversa, induz o correntista a fazer seu recadastramento bancário, digitando os números da sua agência, da sua conta e da sua senha. Com equipamentos capazes de identificar os números digitados, os golpistas conseguem ter acesso a essas informações e sacar o dinheiro da vítima.
Golpe do cartão eletrônico
Semelhante ao golpe do cartão engolido. Em primeiro lugar, o golpista coloca no caixa eletrônico um dispositivo que prende o cartão magnético do cliente. Logo depois, os estelionatários esperam a vítima. Um deles fica em frente ao caixa eletrônico e coloca um aviso com o logotipo do banco e o telefone para informações. A vítima, ao ver seu cartão retido, pede informações ao golpista. Este afirma que o caixa deve estar com defeito, pois foi colocado um aviso do lado de fora da cabine. A vítima decide usar o telefone e é atendida por outro estelionatário, que se faz passar por funcionário do telemarketing do banco. A vítima fornece dados como o número da sua conta e a sua senha numérica e é orientada a procurar uma agência bancária para formalizar o extravio do cartão. Com a senha e o cartão em mãos, os golpistas sacam o dinheiro da conta.
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