Metafísico e bucólico, poeta baiano ganha nova antologia
O destaque do volume é "Heléboro", livro de estreia do autor que havia sido editada por uma pequena gráfica
A obra de estreia de Espinheira é a grande pérola literária de "Estação Infinita e Outras Estações", volume com a poesia reunida do autor que Bertrand Brasil lança agora.
Com escritos de 1966 a 1973, "Heléboro" traz procedimentos poéticos sofisticados, com neologismos e temáticas que partem de lugares-comuns e desembocam em preocupações metafísicas elevadas.
"Julgado do Vento", sua obra seguinte, muda o rumo de sua poesia, que passa a ser permeada de elementos bucólicos e assuntos sentimentais.
A virtude da reunião é dispor cronologicamente essas transformações recorrentes na produção de Espinheira, que alterna esses dois registros: por vezes predomina a poesia idealista, composta de mitologias e temas transcendentais, em outras o hedonismo campestre e romântico.
O poeta diz que sua meta é atingir o ideário que une vida e obra como unidade indissociável. "Escrevo com a vida, sem qualquer projeto estético ou filosófico predeterminado. Tento escrever o que vou vivendo. A trajetória de minha poesia é simplesmente a trajetória da minha existência", afirma Espinheira.
Sobre suas influências, o poeta destaca o diálogo de seus escritos com o cânone literário.
"Minha poesia nasce da tradição e nela se inclui. Modernamente, está ligada a certas vertentes surgidas nos primeiros anos do século passado. Não fiz uma escolha intelectual, mas me reconheci quase de imediato nas vozes de Manuel Bandeira e Mário de Andrade", comenta.
Em relação ao seu método de escrita, Espinheira diz ora trabalhar com a espontaneidade da inspiração imediata, ora diante da reescrita.
"Não sei exatamente como escrevo, o que significa que para mim a criação é algo obscuro, destituído de planejamento. Às vezes o poema vem pronto, outras vezes aos pedaços, sem qualquer ordem, e em certos casos exige um longo tempo de burilamento", conta.
PREMIAÇÕES E ABL
Também autor de prosa, ensaios literários e livros infantis, Espinheira foi por diversas vezes finalista do Prêmio Jabuti -levou o segundo lugar na categoria poesia em 2006, com "Elegia de Agosto e Outros Poemas".
Esta obra angariou o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras, o que suscita com frequência a pergunta sobre uma possível candidatura do poeta baiano.
"Muita gente me pergunta sobre a ABL. Não teria nem como fazer a campanha, já que moro longe [em Salvador]. Ser nordestino que vive no Nordeste é uma condição que pesa muito, embora eu acabe sendo uma espécie de milagre, já que consegui ganhar alguns dos principais prêmios literários do país e ser editado pelas mais importantes editoras", conclui.
ESTAÇÃO INFINITA
AUTOR Ruy Espinheira Filho
EDITORA Bertrand Brasil
QUANTO R$ 59 (588 págs.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário