sábado, 1 de dezembro de 2012

Editoriais FolhaSP


Desinvestimento
Avanço do PIB no terceiro trimestre vem abaixo de todas as previsões; governo Dilma Rousseff fracassa em destravar motor da economia
Causa não pouca frustração o aumento de apenas 0,6% do PIB no terceiro trimestre, na comparação com o anterior (e de 0,9% contra o mesmo período de 2011). De novo coube ao investimento o maior destaque negativo, com redução de 2% -a quinta queda seguida.
Setores que há pouco ainda surpreendiam também estagnaram, como serviços, que representam 57% do PIB e tiveram agora crescimento zero. Apenas o consumo manteve força, com alta de 0,9%, um padrão nos últimos anos.
É certo que o PIB encerrará 2012 com alta bem abaixo de 1,5%. Mesmo contando com uma recuperação no quarto trimestre -a julgar por dados parciais da indústria e do comércio-, analistas já projetam crescimento de apenas 1%.
Por que o investimento e a indústria permanecem tão deprimidos, a despeito de todos os estímulos governamentais, como a queda dos juros, as desonerações setoriais e o empuxo de crédito público?
O quadro externo desfavorável tem seu papel, pois em quase todas as grandes economias houve decepção com o investimento empresarial. O fraco crescimento da demanda mundial e a restrição imposta pelo endividamento no passado continuam a tolher as economias dos EUA e da Europa.
O PIB da China, por sua vez, volta a ganhar terreno com o impulso habitual do investimento público, que cresce mais rápido desde meados do ano. Poucos creem, no entanto, que terá avanço exuberante nos próximos meses.
Aqui, são os entraves domésticos que predominam. Um deles, talvez o principal, é a perda de competitividade na indústria. Mesmo com produção em queda de 3,5% até setembro, em comparação com 2011, os custos salariais continuam a se expandir à taxa anual de 4%. Uma espiral negativa difícil de evitar.
O real desvalorizado até proporciona algum alívio, mas não o suficiente. E deixa efeitos colaterais, em particular no caso do investimento, que depende de importações de bens de capital, encarecidas após a mudança da taxa de câmbio. É o resultado de anos de esgarçamento da teia industrial, com substituição de produção local por importados.
Do lado do governo, pouco se vê. Esforços louváveis, como a redução das tarifas de energia e a pressão para a redução dos juros, acabam caindo em solo infértil, pelo menos por ora.
O desafio, portentoso, impõe uma visão muito mais larga, um real esforço para reformular o papel do Estado e encetar reformas. O país precisa de estrategistas, mas é governado por gerentes -e mesmo assim com desempenho tacanho.
É certo que haverá aceleração do PIB em 2013, mas os últimos dados sugerem que pode se revelar pífia, por falta de um plano ambicioso. Perdido em seu labirinto pseudodesenvolvimentista, o governo Dilma Rousseff não parece estar à altura da 

Violência sectária na Síria
Após 20 meses de combates que deixaram talvez 40 mil mortos, a guerra síria vive uma reviravolta estratégica que, pela primeira vez, permite vislumbrar o fim da ditadura de Bashar Assad.
Nas últimas semanas, combatentes rebeldes consolidaram posições ao redor de Damasco, impondo um sítio quase completo à capital. Bases militares nas redondezas foram tomadas pelos insurgentes, que já controlam a periferia. Atentados atribuídos a grupos ultrarradicais, como a Al Qaeda, espalham terror e caos no coração do regime.
Durante a maior parte do conflito, a bem equipada Força Aérea síria garantiu supremacia militar a Assad. Mas, nesta semana, os rebeldes derrubaram um caça e um helicóptero, em menos de 24 horas de intervalo, num sinal de claro aumento de seu poder de fogo.
Em outra derrota governista carregada de simbolismo, o aeroporto de Damasco está inoperante desde a quinta-feira, por força de combates perto da pista. Boa parte da ajuda externa ao regime (militar, logística e financeira) chega de avião.
Num gesto de desespero, o governo interrompeu conexões de internet e telecomunicações para dificultar a movimentação inimiga.
O avanço rebelde é impulsionado pela recém-obtida união política entre facções oposicionistas, que selaram uma trégua para facilitar o recebimento de armas e dinheiro de seus patrocinadores -Turquia, monarquias do golfo Pérsico e potências ocidentais.
Assad ainda tem a seu favor uma base de apoio popular significativa. Esse respaldo explica em parte por que o conflito sírio se arrasta há tanto tempo, diferentemente das demais revoltas árabes, que tiveram desfecho mais rápido (Tunísia, Egito, Iêmen e Líbia).
O Estado secular comandado por Assad é o único na região a garantir segurança e direitos iguais para todos os grupos étnicos e confessionais que compõem sua sociedade. O ditador protege não só o seu clã de origem -a seita alauíta, que prega um islã liberal- como todas as outras minorias: cristãos, xiitas, ismaelitas e drusos. Boa parte da oposição vem da maioria sunita.
Áreas de Damasco povoadas por algumas dessas minorias já são alvo constante de ataque por extremistas do ramo dominante entre rebeldes, num prenúncio da violência sectária que desafiará qualquer eventual governo pós-Assad.

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