sábado, 1 de dezembro de 2012

A pátria em bigodes - Xico Sá


Símbolo de macheza latina desapareceu dos gramados, mas volta à seleção com Felipão e seu fiel Murtosa
Amigo torcedor, amigo secador, com Felipão e o seu fiel escudeiro Murtosa, voltamos a ser a pátria em bigodes. Pelo menos nesse critério macho-jurubeba, como tratamos o homem à moda antiga livre de modismos e sintomas metrossexuais, retomamos à velha escola.
Já o futebol, bem, aí é outra história. Bigode por bigode, o de Vicente del Bosque, técnico da Espanha, é bem mais discreto e infinitamente mais quixotesco.
E voltamos a ser uma pátria em bigodes em um momento em que esse símbolo da macheza latina desapareceu dos gramados. Não se vê mais um "mustache" como o de Rivellino, talvez o mais farto e famoso dos bigodudos que alcançaram a condição de gênios brasileiros.
Sim, o de Toninho Cerezo, outro fino da bola, também impunha moral e respeito. Outro craque ao mesmo estilo foi o Júnior, do Flamengo e da canarinha.
Sem a mesma arte e delicadeza com a redonda, Chicão, do São Paulo, marcou época como um bravo portador do enfeite capilar que metia medo nos adversários. Todo xerife que se prezava carecia, além da bravura indômita, de um bigodão como arma letal na hora do duelo.
Para continuar na cabeça da área, o Vampeta pré-"G Magazine", o picaresco e bom jogador do Corinthians, também adotou a tendência dos volantes de antigamente. Foi um dos últimos cavaleiros a encampar estes usos e costumes.
Ah, teve o Fred, artilheiro do Fluminense. Ele mesmo, porém, disse que era apenas uma onda para comemorar o título do tricolor. Caiu bem o traçado no melhor gênero "O amigo da Onça", o personagem sacana do desenhista Péricles.
Lá fora, tivemos grandes bigodudos que sabiam tratar a pelota. É só lembrar de Gullit, da seleção da Holanda, e Breitner, da Alemanha. Este último, aliás, disse esta semana ao jornal "O Globo", em passagem pelo Rio, que o Brasil estava 20 anos atrasado em matéria de estilo de jogar futebol. Pode ter exagerado um pouco no tempo. Razão, porém, não falta na sentença. Mas aí só o Tostão, qual um genial Freud ludopédico, pode explicar nas suas crônicas.
E por falar em futebol macho-jurubeba, hoje temos a decisão da Série C. Icasa, time de origem operária de Juazeiro do Norte, faz a peleja com o bravo Oeste, de Itápolis. Vai ser no fio do bigode. Futebol na linha "onde os fracos não têm vez".
ESTANTE DO FUTEBOL
O Grêmio se despede do seu velho estádio, mas fica na praça um belo livro sobre a saga tricolor na sua casa: "Jogos monumentais -Memórias do Estádio Olímpico" (Ed. Arquipélago), do jornalista Marcelo Ferla.
Um luxo à parte na obra, lançada recentemente em Porto Alegre, são as ilustrações de Hélio Devinar, artista que desenhava os gols da rodada para publicações gaúchas nas décadas de 1950 e 60. Clássico.

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