quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Fernando Brant - Que brinquem os meninos‏

O que continua valendo são as manhãs em que a meninada faz algazarra em torno dos presentes
 

Fernando Brant
Estado de Minas: 26/12/2012 
Hesito entre espichar-me no sofá ouvindo as coisas do Moacyr Santos ou tomar um café expresso sem açúcar. Fico com os dois. O lombo assado, farofa, arroz e feijão, tudo caseiro, trouxeram-me enorme preguiça. Olhos fechados e ouvidos atentos, concentro-me, na véspera de mais um Natal, em buscar ideias novas ou antigas na memória e na imaginação. O resultado, agora que acabei de acordar, saberei agora. Colhi algo nesse rápido cochilo? Na cozinha prepara-se um lombo de bacalhau gadhus morua para o almoço de amanhã.

Para quem é bacalhau serve, dizia-se em tempos passados, quando o peixe norueguês era servido em qualquer casa, acompanhado de chuchu, em dias comuns. Quem realmente merecesse o afeto e a admiração dos pais era recebido com iguarias mais finas e trabalhosas da cozinha mineira. Mesmo porque nas primeiras lembranças que tenho de bacalhau, nos armazéns de minha infância, os peixes salgados ficavam expostos e todos os que entravam para comprar tiravam uma lasquinha e levavam à boca. Aquele sal vive firme em minha lembrança. Na mesa, ele não tinha essa importância de hoje. Não competia com o jogo, pedaço do peito do frango, carne branca, que servia para uma disputa entre os irmãos para saber quem ficaria com a parte maior do ossinho assado. Mas, em matéria de manjar, sem contar as sobremesas que minha mãe fazia aos domingos e dias de festa, nada batia as simples e saborosas sardinhas à milanesa preparadas sempre às sextas-feiras, logo depois da feira semanal. Ao contrário de hoje, bacalhau, conhecendo várias formas de degustá-lo, naquele tempo não valia uma mexerica carioca ou uma maçã nacional bem ácidas.

No Natal, o que valia, e continua valendo, são as manhãs em que a meninada faz algazarra em torno dos presentes recebidos. Bonecas, bicicletas, jogos. Para os pequenos era o encantamento e isso continua existindo, pelos menos com os que convivo. Irmãos mais velhos, pais e avós têm de expulsar ou adiar o sono para se integrar na festança infantil. É o que vale o ano cheio de trabalho e amolações. É o que compensa o mundo injusto e cruel, a renitente violência dos poderosos e suas guerras.

Olho para as caras de governantes de Brasília e de todos os lugares e não consigo enxergar neles nenhum traço de meninos, que, pela lógica do tempo, devem ter sido. Não é necessário citar nomes, eles são múltiplos e se reproduzem. Mas faça essa experiência. Concentre o olhar na imagem de alguns desses que estão por aí, mentindo e se aproveitando da inocência e ignorância da população. No máximo eles cuidam dos seus, o que não os redime. Se meninos foram, eram, sem botar as mães no meio, uns absolutos filhos da p....

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