Lucien Gainsbourg diz ter começado com covers para eliminar de cara sombra do ídolo francês
Caçula do compositor de "Je t'Aime Moi Non Plus" trabalha agora em segundo álbum, só com canções próprias
Usando chapéu de feltro marrom cobrindo os cabelos longos, casaco roxo e anel de caveira, toma uma Coca diet.
"Ainda estou me recuperando de uma balada que varou a noite", explica.
Aos 26, Lucien Gainsbourg já passou muitas noites em claro. Quando não está em bares ou clubes, pode ser encontrado no estúdio de gravação que tem em casa, no bairro nova-iorquino de Flatiron. "Durmo só quatro ou cinco horas por noite."
Filho caçula de Serge Gainsbourg, iconoclasta da música francesa morto em 1991, Lulu, como é conhecido, lançou seu primeiro álbum nos EUA em novembro.
"From Gainsbourg to Lulu" é um tributo a seu pai, no qual Lucien reinterpreta muitas das canções famosas de Serge, incluindo "Bonnie and Clyde" e "Initials B.B.".
No álbum, Lulu é acompanhado por um elenco de nomes reconhecíveis, entre eles Rufus Wainwright, Scarlett Johansson, Johnny Depp, Vanessa Paradis, Iggy Pop e Marianne Faithfull.
Pode parecer um início inesperado para um jovem em busca de que se ouça sua própria voz. Mas, para Gainsbourg, a única maneira de emergir da sombra de seu pai foi iluminar a fonte.
"Eu sabia que teria que encarar o tema em algum momento", explica, falando com forte sotaque francês. "Ou eu faço isso agora e depois nunca mais, ou evito o assunto por algum tempo. Mas, se eu não fizesse agora, meu pai ainda estaria à minha espera depois do meu último disco."
Enquanto isso, procura alternativas profissionais. Frequenta o mundo da moda e recentemente assinou contrato com a agência de modelos IMG -já posou para as revistas "L'Uomo Vogue", "W Korea" e "Elle France".
Embora só agora esteja ficando conhecido nos EUA, na França é famoso desde bebê.
Quando ele tinha dois anos, seu pai o pôs sobre o palco de um de seus últimos shows no Le Zenith, em Paris. O clipe, que mostra o garotinho visivelmente assustado ("estava muito", lembra ele) sob os holofotes, faz parte do léxico cultural francês.
Filho da modelo franco-vietnamita Caroline von Paulus, conhecida como Bambou, Lulu tinha 5 anos quando seu pai morreu.
"Ele [Serge Gainsbourg] foi nosso Baudelaire, nosso Apollinaire", disse à época o então presidente francês, François Mitterrand. "Elevou a canção ao nível de arte."
Lucien Gainsbourg não fugiu da atenção pública. "Meu pai costumava dizer: 'As pessoas vão gostar de você ou vão rejeitá-lo. O que importa é que falem sobre você'."
Ele estudou piano e técnica vocal num conservatório de prestígio e gravou a canção de seu pai "Ne Dis Rien" em dueto com sua mãe. Aos 17 anos, apareceu num filme indie ousado, "Dandy - A Banda do Drugstore", sobre um grupo de jovens, fazendo o papel do mascote do grupo.
Cinco anos atrás Lucien Gainsbourg deixou Paris para fazer algo que seu pai nunca fez: aprender inglês. Mudou-se para Londres por um ano e depois para Boston, onde se matriculou no Berklee College of Music.
Formado, radicou-se em Nova York, onde hoje vive num apartamento grande, cheio de teclados, equipamentos de computador, fotos originais de Michael Jackson e muitas guitarras.
"Vim para cá para ser alguém por contra própria, para ter meu próprio espaço."
Ainda estudante, já pensava em seu primeiro álbum. "O diploma foi um presente meu para minha mãe", diz. "O álbum é para meu pai."
Ele buscou conselhos de velhos amigos, como Johnny Depp. "Eu o conheço desde meus 12 anos, é como o pai que nunca tive." A semelhança entre os dois -o ar preocupado e certa inclinação a usar cavanhaque, óculos escuros e cartola- é de fato assinalada com frequência.
O cantor lançou "From Gainsbourg to Lulu" primeiro em seu país, em 2011 - o álbum estacionou no 16º lugar na parada francesa.
Após excursionar pela França e pelo Japão, estreou nos EUA, com um concerto de homenagem a seu pai no Hollywood Bowl, em Los Angeles, repleto de nomes indies -Beck, por exemplo, interpretou "Les Sucettes", canção maliciosa escrita por Serge Gainsbourg em 1966 para a cantora pop France Gall.
Agora, faz aulas semanais para aprimorar seu inglês e trabalha no segundo álbum. "Sem nenhum cover", adverte. "Será tudo original."
FRASES
"Eu sabia que teria que encarar o tema [do meu pai] em algum momento. Ou eu faço isso agora e depois nunca mais, ou evito o assunto por algum tempo. Mas, se eu não fizesse agora, meu pai ainda estaria à minha espera depois do meu último disco"
"Vim para os Estados Unidos para ser alguém por contra própria, para ter meu próprio espaço. [...] O diploma [do Berklee College of Music, onde estudou em Boston] foi um presente meu para minha mãe. O álbum ["From Gainsbourg to Lulu"] é para meu pai."
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