Movimento de protesto contra desigualdade de renda e setor financeiro foi alvo de força-tarefa antiterror nos EUA
Grupo de direitos civis critica o uso de informações recolhidas de pessoas que agiam dentro da legislação
Em setembro de 2011, um agente de uma força-tarefa antiterrorismo do FBI em Nova York notificou funcionários do Museu das Finanças Americanas e do Federal Hall que "os edifícios haviam sido identificados como pontos de interesse para o Ocupe Wall Street".
Isso ocorreu na mesma época em que os ativistas montaram acampamento no parque Zuccotti, no sul de Manhattan, desencadeando uma série de protestos ao redor dos EUA e levando a desigualdade de renda para o centro dos debates no país.
Nos meses seguintes, agentes do FBI em todo o país se envolveram rotineiramente em troca de informações sobre o movimento com empresários, polícias locais e universidades.
Um memorando de outubro de 2011 da agência do FBI em Jacksonville, na Flórida, era intitulado "Assunto: Administração do Programa de Terroristas Domésticos" e afirmava que agentes discutiram eventos do movimento e sua disseminação.
O comunicado dizia que os agentes deveriam entrar em contato com os ativistas para verificar se pessoas que participavam dos atos tinham "tendências violentas".
O medo do FBI era que o Ocupe poderia ser um canal para "um criminoso solitário explorando o movimento por razões ligadas à insatisfação geral com o governo".
Desde os ataques de 11 de de setembro de 2001, o FBI é alvo de críticas por usar agentes da divisão antiterrorismo para monitorar organizações ambientais ou grupos de protesto contra crueldade com animais e pobreza.
A divulgação dos documentos do FBI ocorre pouco mais de um ano depois de a polícia ter expulsado os manifestantes do parque Zuccotti, em novembro de 2011. Em outras cidades americanas, policiais fizeram o mesmo com ativistas do grupo.
Os documentos foram obtidos pela Parceria pelo Fundo de Justiça Civil, uma organização de direitos civis de Washington, por meio de um pedido de divulgação invocando a Lei de Liberdade de Informação.
Muitos trechos dos documentos foram rasurados pelo FBI para impedir leitura de partes tidas como estratégicas. Os documentos mostram quão profundamente envolvidas as autoridades americanas estavam no monitoramento do Ocupe.
Em um memorando de agosto de 2011, o escritório do FBI em NY se reuniu com funcionários da Bolsa de Valores para discutir "o protesto anarquista intitulado Ocupe Wall Street".
"Numerosos incidentes ocorreram no passado mostrando tentativas de grupos anarquistas de atrapalhar ou impedir o funcionamento de distritos financeiros."
"O FBI reconhece o direito de indivíduos e grupos se engajarem em atividades protegidas pela Constituição", disse o porta-voz do FBI Paul Bresson. "O FBI é obrigado a investigar qualquer alegação séria de violência, mas não abrimos investigações baseadas apenas em atividades ligadas à Primeira Emenda (de liberdade de expressão)".
Segundo Mara Verheyden-Hilliard, diretora-executiva do Parceria, os documentos mostram que o FBI agiu de maneira imprópria ao colher informações sobre americanos envolvidos em atividades lícitas.
"São informações sobre ações baseadas no direito de livre expressão das pessoas, e essas informações serão armazenadas em bancos de dados, e não se sabe quando ou como serão usadas", declarou ela.
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