quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

Corrupção Futebol Clube
O novo e amplo esquema de manipulação de resultados de partidas de futebol identificado em ação conjunta de polícias europeias não chega a surpreender quem acompanha esse esporte.
Casos análogos, com vistas a ganhos em apostas, vêm se verificando nas últimas décadas em vários países -entre os quais o Brasil. Com efeito, já se vão mais de 30 anos desde que a revista "Placar", então dirigida pelo jornalista Juca Kfouri, revelou uma engrenagem de subornos para forjar resultados de jogos da Loteria Esportiva.
Em 2005, a revista "Veja" expôs um esquema fraudulento que resultou na anulação de 11 partidas do Campeonato Brasileiro e teve como principal personagem o árbitro Edilson Pereira de Carvalho, acusado de envolvimento com apostas pela internet.
Na Europa, onde se concentra a elite do futebol mundial, os desvios se multiplicam. Em 2006, a tradicional equipe Juventus, de Turim, foi rebaixada para a segunda divisão italiana em decorrência de práticas desse tipo. No ano passado, novas manipulações foram flagradas naquele país.
Os dados agora revelados pela Europol impressionam. São 380 jogos sob investigação em 15 nações da Europa, além de 300 outros realizados na América do Sul, na América Central, na África e na Ásia. Algumas das partidas faziam parte de competições de ponta, como as eliminatórias da Copa do Mundo e a Copa dos Campeões, principal disputa europeia de clubes.
Além da manipulação de placares, são frequentes os escândalos de corrupção em instituições esportivas, como a própria Fifa, órgão máximo do futebol. Foi sob a acusação de receber propina naquela entidade que Ricardo Teixeira se viu constrangido, no ano passado, a deixar a presidência da Confederação Brasileira de Futebol.
Até mesmo a eleição de países para sediar Copas do Mundo tem sido alvo de suspeitas. Há pouco a revista francesa "France Football" publicou reportagem com indícios de que dirigentes teriam recebido comissões na escolha do Qatar para hospedar o Mundial em 2022.
Não são poucas, portanto, as evidências de que a mais popular modalidade esportiva do mundo é terreno fértil para ilícitos que ameaçam sua credibilidade.
Para combatê-los, além das investigações da polícia e da imprensa, seria desejável mais transparência e controle sobre a administração do esporte -para evitar, por exemplo, a perpetuação de dirigentes e o voto secreto em decisões sobre grandes negócios, como a escolha das sedes da Copa.

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    Estragos na Petrobras
    Estatal aumenta sua dívida líquida em mais de 40%, premida pelos investimentos bilionários do pré-sal e pela sujeição a ditames do Planalto
    O mau resultado no balanço da Petrobras estava previsto, mas nem por isso causa menos apreensão.
    O lucro líquido caiu para R$ 21,2 bilhões, valor 36% menor que o de 2011. A produção de petróleo e derivados decepcionou, com média de 1,974 milhão de barris por dia em 2012 -uma queda de 2,35% em relação ao ano anterior.
    A despeito do lucro contabilizado, o fluxo de caixa -uma vez deduzidos os investimentos- tem sido negativo. Apenas no último trimestre de 2012 o movimento da empresa consumiu R$ 11,7 bilhões.
    A sequência negativa de resultados vem de longe. Decorre, em boa medida, da gestão anterior da empresa, politizada e refratária a critérios de eficiência.
    A troca de comando no governo da presidente Dilma Rousseff, com a saída de José Sergio Gabrielli e a ascensão de Maria das Graças Foster, foi bem recebida por investidores, que veem disposição na nova presidente para consertar estragos.
    A tarefa será árdua. Estão programadas várias paralisações de plataforma para manutenção no primeiro semestre, por exemplo, o que reduzirá produção e receitas.
    A causa principal da lucratividade menor foi, paradoxalmente, o aumento da demanda por combustíveis. Vendas internas de gasolina e diesel cresceram 17% e 6%, respectivamente, no ano. Como a produção caiu, a Petrobras foi obrigada a importar ambos a preços maiores que os praticados no país.
    O governo não autoriza reajuste completo dos preços, como forma de contrabalançar outras pressões inflacionárias. Com isso, dificulta à Petrobras cumprir seu ambicioso programa de investimentos -só neste ano estavam planejados desembolsos de R$ 97,7 bilhões.
    Para manter o programa, a empresa se endivida. A deterioração de suas finanças é evidente. A dívida líquida (já excluídos os valores em caixa) chegou ao fim de 2012 em R$ 147,8 bilhões, perante R$ 103 bilhões no ano anterior.
    A fim de conter a sangria de recursos, a Petrobras decidiu cortar pela metade os dividendos distribuídos aos detentores de ações ordinárias. Elas caíram mais de 8%, ontem, no pregão da Bolsa.
    A despeito das expectativas quanto à capacidade da direção de arrumar a casa, o fato é que a situação da companhia não parece estar sob controle. Longe disso.
    O governo errou ao definir um modelo de exploração do pré-sal que sobrecarrega a petroleira, por obrigá-la a participar de todos os campos. Continua em erro ao represar preços de combustíveis.
    A decantada afinidade entre a presidente da República e a presidente da Petrobras, como já se apontou aqui, pode fazer mais mal à empresa do que beneficiar o país.

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