Irlam Rocha Lima
Estado de Minas: 10/03/2013
O que há em comum entre Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga, Billy Blanco, Monarco e Martinho da Vila, além de serem responsáveis por importantíssima contribuição para a história da música popular brasileira? Todos eles têm nos netos seguidores de sua arte. Cada um, à sua maneira, em seu segmento, de alguma forma mantém viva a memória dos avós.
Mesmo vivendo experiências bem particulares em outro momento, Daniel Jobim, Mariana de Moraes, Alice Caymmi, Daniel Gonzaga, Pedro Sol, Estrela Blanco, Lua Blanco, Juliana Diniz e Dandara Ventapane deixam claro que trazem no sangue o gene artístico dos antepassados e falam deles com orgulho. A maioria os vê como referência, mas há quem busque seguir o seu próprio caminho – evitando comparação. O Estado de Minas conversou com todos e traz aqui uma série de depoimentos exclusivos.
Mariana de Moraes
“Aos 11 anos, passei a ter intensa convivência com meu avô (Vinicius de Moraes). Era o xodó dele. Quando fui morar em Paris com minha mãe, Vera Barreto Leite, continuamos a nos ver com frequência. Isso porque naquela época (período entre 1977 e 1980) ele fazia turnês pela França e outros países da Europa. Em Paris, certa vez, ele levou um gravador para eu registrar uma música e me chamou de parceirinha. Fiquei toda prosa. O via como grande referência, mas minha maior influência era Gal Costa, que havia me adotado artisticamente. Comecei a carreira de cantora em 1997, depois de, aos 15 anos, ter sido protagonista do filme Fulaninha, de Davi Neves. Gravei um CD de samba com Elton Medeiros e Zé Renato, que teve boa repercussão. Agora, no ano do centenário de Vinicius, estou preparando um tributo ao meu avô, com show e disco. Tenho conversado muito com minha tia Suzana (filha mais velha de Vinicius) sobre isso. Ela é quem vai coordenar tudo o que vier a ocorrer, em termos de comemoração.”
Daniel Jobim
Alice Caymmi
“Ano passado, lancei meu disco de estreia e, das 10 faixas, nove são de minha autoria, que compus entre 16 e 22 anos, entre elas Água marinha, Arco da aliança, Rompante e Sargaço mar. A única que não é minha é Unravel, de Björk. Para mim, a influência de meu pai (Danilo Caymmi), dos meus tios e do meu avô (Dorival Caymmi) flui de maneira natural. Afinal de contas, é da minha origem. Mas busco não repetir o que foi feito por eles. Tenho certeza de que Caymmi não desejaria que eu o repetisse de forma piorada. O importante, para mim, é a criatividade que posso transmitir para as pessoas que vierem a ter contato com o meu trabalho”.
Pedro Sol
“Minha família sempre foi muito musical e a inspiração maior vinha do meu avô (Billy Blanco), grande compositor, autor de clássicos como Tereza da praia e Samba triste, que fez com Tom Jobim e Baden Powell; e Estatuto da gafieira, que compôs sozinho. Por causa dele, sou músico desde os 11 anos. Toco vários instrumentos e, ao violão, compus minha primeira música, o que o deixou orgulhoso. Em nossa casa temos o grupo Família Blanco. Formei banda, fiz shows solo e, desde 2007, tenho participado de musicais de sucesso, como O despertar da primavera, Beatles num céu de diamante e Milton Nascimento – Nada será como antes, todos com direção de Charles Möeller e Cláudio Botelho. Tudo isso, de alguma forma, devo ao meu avô, que sempre exigiu muito da gente. Tive o prazer de compor músicas com ele e de acompanhá-lo no último show que fez.”
Daniel Gonzaga
“Tinha 14 anos quando meu avô morreu. Tenho muito dele na minha memória. Gonzaga era uma pessoa bem expansiva, excelente contador de histórias, e apreciava o fato de eu estudar piano. Já como músico profissional, ouvir suas músicas contribuiu muito para minha formação, minha noção de ritmo e de tempo. Assum preto, Balança a rede, Cacimba nova estão entre as minhas preferidas. Na celebração do centenário de Gonzaga, contribuí prestando esclarecimentos, juntando material, contando histórias, fazendo shows e dando palestras em escolas. O mais bacana foi falar sobre meu avô para crianças e adolescentes.”
Juliana Diniz
“Meu avô (Monarco) foi quem primeiro soube que eu queria ser cantora, quando fiz 15 anos. Muito carinhoso, ele me mostrou vários sambas e sugeriu alguns como Alvorecer, de Dona Ivone Lara, para que gravasse no meu primeiro disco solo. O CD tem apresentação de Zeca Pagodinho, que é muito amigo do meu pai (Mauro Diniz) e do meu avô, e me apadrinhou artisticamente. Aliás, no álbum Quintal do Pagodinho, gravei Coração em desalinho (Monarco e Ratinho), um dos maiores sucessos do meu avô. Ele, que me abriu muitas portas, foi me assistir algumas vezes no Sassaricando, musical de Sérgio Cabral e Rosa Maria Araújo, que faço desde 2007.”
Dandara Ventapane
“Embora tenha iniciado na música profissionalmente aos 17 anos, desde a infância sou ligada ao samba e à Vila Isabel. Meu avô (Martinho da Vila) é meio babão comigo e uma das primeiras vezes que cantei em show foi ao lado dele e da minha mãe (Analimar). Tenho participado também de shows da minha tia (Mart’nália), que me dá muita força. Todos eles são importantes na minha formação e nas minhas escolhas. Além de cantar, gosto muito de dançar e por isso estudo dança na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desfilo na Vila há vários anos e, no carnaval deste ano, fui a terceira porta-bandeira. Ainda estou comemorando o título que conquistamos e mais feliz ainda porque meu avô é um dos autores do samba-enredo.”
Estrela Blanco
“Por influência do meu avô (Billy Blanco) estou envolvida com a música desde a infância. Ainda criança, já participava de shows com meu pai e meus irmãos. Comecei a trabalhar aos 13 anos, fazendo o musical A noviça rebelde. Desde então, venho atuando nessa área, com participação na montagem de O despertar da primavera, Hair e Milton Nascimento – Nada será como antes, que está sendo apresentado em São Paulo e depois segue para Curitiba. A cada conquista, me vem a lembrança do meu avô, que sempre foi muito presente na vida dos netos”.
Lua Blanco
“Pedro Sol, Estrela, Daniel e eu somos a terceira geração da família Blanco. Todos ligados à música, tendo como referência nosso avô. Canto desde criança, mas foi em 2006, aos 19 anos, que fiz minha estreia profissional com a Lágrima Flor, banda de pop rock. Tenho formação de atriz e tomei parte do espetáculo O despertar da primavera. Em 2010, entrei para o Rebeldes, grupo que protagonizou novela homônima e fez muitos shows pelo país. Fui três vezes a Brasília e numa delas, na Esplanada dos Ministérios, formos assistidos por 80 mil pessoas. No momento, estou em fase de pré-produção de meu primeiro disco solo”.
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