domingo, 10 de março de 2013

Suzana Singer - Folha Ombudsman

folha de são paulo

A exumação de Chávez
QUANDO MORRE alguém realmente importante, cabe ao jornal, mídia com espaço maior para reflexão, resumir seu legado histórico. Nessas ocasiões, a Folha arrisca, às vezes, manchetes que servem como lápides -"Morre o maior arquiteto do Brasil", dizia a edição de 6 de dezembro passado, sobre Oscar Niemeyer.
O controverso Hugo Chávez deve ter dado uma canseira no editor da "Primeira Página". A capa de quarta-feira o definiu como "líder populista" e, no caderno especial, ele era o presidente "influente e polêmico".
Não foram escolhas muito felizes. "Líder populista", cada um entende de um jeito, já que nem entre os cientistas políticos há consenso sobre o significado da palavra. "Polêmico" e "influente" são dois adjetivos óbvios e vazios.
A dificuldade em rotular Chávez reflete o desafio que foi cobrir o seu governo. O jornal acertou ao criar o posto de correspondente em Caracas em 2007 e errou ao fechá-lo no final de 2011, quando havia eleição marcada para o ano seguinte e já se sabia que Chávez tinha câncer.
No conjunto, a Folha foi o jornal brasileiro que melhor cobriu o tal "socialismo do século 21": as estatizações, a aproximação com Cuba e com Gaddafi, as bravatas anti-EUA, o desabastecimento, a entrada no Mercosul. Mereceram atenção especial as iniciativas autoritárias do presidente venezuelano, principalmente as investidas contra a imprensa independente.
O enfoque crítico ofuscou, porém, o relato dos progressos obtidos nos 14 anos de chavismo. A melhoria na vida dos miseráveis ficou em segundo plano, como se toda a popularidade do "comandante" viesse da presença constante na televisão e do culto à sua personalidade.
Ao longo da semana, deu para notar o esforço da Folha em fazer um balanço mais equilibrado. Sem deixar de destacar as manobras chavistas para permanecer indefinidamente no poder, as análises e reportagens ressaltaram os progressos obtidos no combate à desigualdade e a sensação de empoderamento dos mais pobres.
Com uma visão menos maniqueísta do legado de Chávez, fica mais fácil entender a comoção que tomou Caracas.
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MANCHETE-LÁPIDE
Em geral, a Folha faz títulos insossos sobre a morte de famosos ("Morre, aos tantos anos, Fulano da Silva"). Abaixo, algumas exceções:
"Câncer mata Hugo Chávez, 58, líder populista da Venezuela"
6.mar.2013
"Morre o maior arquiteto do Brasil"
Oscar Niemeyer, 6.dez.2012
"Morre Eric Hobsbawm, o historiador das revoluções"
2.out.2012
"A gente só morre uma vez. Mas é pra sempre"
Millôr Fernandes, 29.mar.2012
"O criador de personagens"
Chico Anysio, 24.mar.2012
"Música perde a alegria de Tim Maia"
16.mar.1998
"O Brasil sem Elis Regina"
20.jan.1982
"Leila, tão cedo e tão longe"
Leila Diniz, 16.Jun.1972
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