Pesquisa nos principais pronto-socorros
de BH mostra que, além dos danos à saúde, consumo de álcool está
relacionado a boa parte dos atendimentos de urgência. Só entre
envolvidos em violência, 38% tinham bebido ou apresentavam sintomas de
embriaguez
Paula Sarapu
Estado de Minas: 22/03/2013
Os males da bebida vão além dos danos
conhecidos à saúde. Pesquisa realizada em várias capitais e concluída
este ano pelo Ministério da Saúde dá a dimensão de como o consumo
excessivo de bebidas é combustível para acidentes e ações violentas que
resultam em atendimentos nas urgências e emergências dos hospitais
brasileiros. O problema é grave também em Belo Horizonte: os números do
estudo na capital mineira, a que o Estado de Minas teve acesso, indicam
que o consumo de álcool está relacionado a 18% dos atendimentos
decorrentes de acidentes de trânsito e que 38,7% dos atendidos por
envolvimento em atos violentos estavam sob efeito de bebida. A pesquisa
em BH foi feita nos pronto-socorros do João XXIII, Risoleta Neves e
Odilon Behrens.
Os dados fazem parte da pesquisa Viva (Sistema de
Vigilância de Violências e Acidentes). O objetivo do trabalho era
conhecer a situação dos atendimentos de lesões que não provocaram morte,
mas que representam uma parte importante da demanda por assistência,
como acidentes de trânsito, agressões e quedas. Em BH, 1.533 vítimas de
acidentes e violência responderam as perguntas e o resultado confirmou o
impacto do consumo de bebidas nos atendimentos: 14,1% dos entrevistados
com 18 anos ou mais admitiram ter feito uso de álcool ou demonstravam
sinais de embriaguez.
“Infelizmente, esse é o dia a dia das
emergências”, lamenta o diretor da emergência do João XXIII, Tarcísio
Versiani. “E a gente observa um crescimento nos atendimentos motivados
pelo consumo exagerado de bebida”, acrescenta. Segundo a pesquisa, 50%
das vítimas de violência foram atingidas por objetos que perfuram ou
cortam e 30,1% sofreram espancamento ou foram agredidas. “A bebida deixa
as pessoas mais agressivas, com a sensação de que tudo pode. Elas
acabam potencializando a raiva e não medindo as consequências. Perdem o
controle, afirma o diretor da emergência do João XXIII. O médico destaca
ainda que boa parte das brigas tem motivo banal.
Trânsito A
pesquisa coletou também dados sobre um problema conhecido: a bebida no
trânsito. E revelou que, além de motoristas, pedestres alcoolizados
também ampliam o risco de acidentes. Segundo o estudo, havia suspeita de
embriaguez ou confirmação de consumo de álcool em 23,3% dos pedestres
que procuraram atendimento em um dos três hospitais belo-horizontinos.
Entre os condutores, esse percentual foi de 13,4%. “Muitos pedestres já
atravessam fora da faixa e no meio dos carros, sem nem olhar para o
lado. Quando bebem, então, estão mais encorajados a se arriscar”,
analisa Tarcísio Versiani, do João XXIII, que reforça o alerta para o
perigo de misturar bebida e direção. “Às vezes, frações de segundos são
vitais para uma decisão no trânsito e a bebida não permite esse
raciocínio claro, já que deixa os reflexos diminuídos e causa letargia”,
diz. “Nos fins de semana e período noturno, a grande maioria dos
acidentes com carros e motos estão relacionados à bebida. Um simples
exame clínico comprova a voz embaraçada, os olhos vermelhos e a falta de
concentração”, completa.
Outro dado do estudo revela que os
pacientes que beberam tiveram mais necessidade de internação e demoraram
mais tempo a ter alta do que aqueles que não fizeram consumo de álcool e
também se envolveram em acidentes ou foram vítimas de violência.
Segundo a pesquisa da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da
Saúde, a proporção de alta foi maior (77%) e a de internação hospitalar
menor (14,4%) entre aqueles que não beberam. Dos pacientes que
consumiram bebidas alcoólicas, 64,8% tiveram alta e 26,1% necessitaram
de internação hospitalar.
Para o psiquiatra Valdir Ribeiro
Campos, especialista em dependência química, as condições dos pacientes
que beberam são piores. “O álcool não é uma substância qualquer. Muitas
vezes, o paciente não tem nem problemas com dependência, mas exagera,
fica agressivo ou impulsivo e acaba se envolvendo em brigas, acidentes
ou violência. Isso é muito comum”, afirma. Ele lembra que quem bebe
muito por tempo prolongado pode ter problemas crônicos, como doenças
cardíacas, no fígado e no pâncreas.
Consumo em
alta em BH
A
pesquisa do Ministério da Saúde apontou que os homens são os que mais
precisam de atendimento por acidentes ou violência relacionada ao
álcool. O Vigitel Brasil, outro trabalho do ministério, reforça o
problema na capital: no ano passado, os belo-horizontinos estavam em
terceiro lugar no ranking de consumo abusivo de bebidas alcoólicas
(cinco ou mais doses numa mesma ocasião), com 31,9% dos entrevistados.
Entre
as mulheres, a capital mineira ficou na quinta posição (12,6%). Por sua
vez, a Pesquisa por Amostra de Domicílio (PAD) da Fundação João
Pinheiro, divulgada em dezembro do ano passado, indicou que um quarto
dos mineiros acima de 14 anos admitiram beber regularmente.
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