Filhos de artistas seguem a vocação 
familiar e buscam força dentro de casa para enfrentar os desafios da 
carreira. Lira Ribas, Malvina Lacerda e Júlia Dias estreiam nos palcos 
  
Ailton Magioli
    Estado de Minas: 22/03/2013 
O primeiro cachê, de R$ 50, pago pelo 
próprio pai quando ela tinha 15 anos, foi suficiente para provar: a arte
 estava no sangue. “Não era brincadeira, mas trabalho”, conta Júlia 
Dias, que hoje, aos 22, integra o elenco de Clara negra, a terceira 
montagem de sua carreira. Filha de Maurício Tizumba, a cantora e atriz 
representa apenas uma entre tantas gerações que seguem a vocação da 
família.
Tendência em evidência em um mercado em constante 
ebulição, a herança genética artística vem revelando talentos 
promissores. Que o diga a atriz Lira Ribas, de 32, cujo porte atlético 
(1,84m) e potência vocal, a princípio, podem até assustar a 
concorrência. “Lá em casa, costumam dizer que minha voz é de cachoeira, 
de quem nasceu perto de cachoeira”, diverte-se a ex-jogadora de vôlei. 
De tanto treinar e jogar em ginásios, ela continua falando alto graças 
aos 18 anos dedicados às quadras.
Filha do cantor Marku Ribas, a 
ex-integrante da Seleção Brasileira infantojuvenil e adulta de vôlei 
optou pelo palco depois de jogar nove meses pelo Panathinaikos, na 
Grécia, em 2006. “Já não queria mais o esporte. Sempre gostei de teatro,
 mas não tinha tempo para me dedicar a ele”, justifica. Em 2007, ela 
passou a integrar a Cia. Odeon, do diretor Carlos Gradim, seu professor 
na PUC Minas.
A exemplo de Júlia Dias – cuja carreira artística é
 assumidamente influenciada pelo pai, Maurício Tizumba, ator, cantor, 
compositor e instrumentista –, Lira atribui sua escolha profissional a 
Marku Ribas. “Ele me inspira muito”, confessa, entusiasmada com a 
emoção, o frescor e a jovialidade com que o músico lida com o ofício. 
“Ele está comemorando 50 anos de carreira este ano”, orgulha-se. Outra 
referência para ela é a irmã, a cantora Júlia Ribas.
Morando em 
Belo Horizonte há 17 anos, Malvina Lacerda, de 30, diz que a família foi
 decisiva na hora da opção profissional. “Até porque, esse caminho não é
 muito fácil”, reconhece. Natural de Diamantina, ela é filha da pianista
 e maestrina Eunice Ribeiro Lacerda, ex-diretora do Conservatório 
Estadual de Música Lobo de Mesquita, que funciona na cidade histórica, 
Malvina é a primogênita. Seus irmãos são o cantor e compositor César 
Lacerda, radicado no Rio de Janeiro, e Sérgio Rodrigo Lacerda, 
compositor de música contemporânea radicado na Alemanha.
Graduada
 em turismo, Malvina passou sete anos sem cantar. Voltou a se exercitar 
no projeto Gota d’água, em 2011. Pianista desde os 5 anos, ao se 
transferir para a capital ela estudou na Fundação de Educação Artística.
 Foi aluna da pianista Berenice Menegale e dos cantores Eládio 
Pérez-González e Valéria Val. Preparando o primeiro disco solo como 
intérprete, Malvina terá por base o recém-estreado show Romã, para o 
qual garimpou repertório junto a jovens autores no eixo BH-Rio-São 
Paulo.
Lira Ribas acaba de encenar ... E peça que nos perdoe, de 
Éder Rodrigues. A peça, que nasceu de cena curta originalmente 
apresentada no festival promovido pelo Grupo Galpão, marca a estreia do 
Grupo Revólver, que a atriz integra ao lado de cinco atores. “Queremos 
solidificar nosso trabalho em BH, além de promover intercâmbio com 
outros estados”, diz Lira. Graduada na escola de artes cênicas da 
Fundação Clóvis Salgado, atualmente ela estuda no Teatro Universitário 
da UFMG.
 Filha única de Maurício Tizumba, Júlia Dias conta que a
 arte sempre foi muito natural para ela. “Meu pai me levava para a 
coxia. Às vezes, até dormia sobre a capa do violão”, recorda. Foi 
tocando tambor e fazendo backing-vocal que ela estreou profissionalmente
 aos 15 anos. Aos 18, já estava no teatro: fez o musical infantojuvenil O
 negro, a flor e o rosário, protagonizado pelo pai. “Atuar ao lado dele 
foi tranquilo”, recorda, salientando que o temor veio só recentemente, 
quando ela trabalhou em Oratório – A saga de dom Quixote e Sancho Pança.
 “Fiquei com medo”, confessa Júlia, que diz ter “relaxado” no decorrer 
da temporada.
Estudante de comunicação social na PUC Minas, no 
ano passado a jovem artista viajou para Rosário, na Argentina, para 
fazer intercâmbio. Os seis meses previstos inicialmente acabaram se 
esticando para um ano. Júlia aproveitou para dar aulas de tambor mineiro
 e de pandeiro aos hermanos, além de atuar em espetáculo ao lado de 
bailarinos argentinos. Ela conheceu o violonista e percussionista 
Belizário Tousich, com quem se casou.
 “Uma nova cena está sendo 
construída em BH”, constata Júlia, atribuindo grande importância à força
 do pai na hora de optar pela profissão artística. “Mas sinto que ele 
também tem receio. Afinal, conhece as dificuldades de viver de arte no 
Brasil”. Para orgulho de Tizumba, ela se graduou no Teatro Universitário
 da UFMG, em 2011, 20 anos depois de ele passar pela mesma escola.
DNA musical
Aos
 34 anos, Diana Horta Popoff, filha da flautista Lena Horta e do 
contrabaixista Yuri Popoff, surpreende em sua estreia fonográfica com 
Algum lugar (Delira Música). Em vez de tocar flauta transversa – 
especializou-se nesse instrumento no Conservatório Brasileiro de Música 
–, ela canta as próprias composições e toca teclado. Produzido por 
Márcio Lomiranda, o CD autoral inclui Caminhos da Diana, que a amiga 
Bianca Gismonti, filha de Egberto Gismonti, fez em sua homenagem.
Radicada
 na França, onde se casará nos próximos meses, Diana vai além da 
harmonia – famosa herança familiar (é sobrinha do violonista e 
compositor Toninho Horta). Revela-se uma intérprete integrada à 
sonoridade contemporânea. No texto do encarte, Ivan Lins afirma que ela 
foge do padrão das cantautoras, tão em evidência. “É um trabalho único, 
sem clichês. Para uma voz incrivelmente delicada e pequena, um adjetivo 
mais apropriado: adorável”, avaliza Ivan.
Nenhum comentário:
Postar um comentário