Estado de Minas: 22/03/2013
Boa parte do mundo se comprometeu a reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa e o consumo de petróleo no setor de transportes até 2050. A economia aquecida dos países em desenvolvimento e o número cada vez maior de carros circulando nas metrópoles parecem tornar essa meta, assumida em reuniões das Nações Unidas, praticamente impossível. Contudo, pelo menos nos Estados Unidos — o segundo maior produtor de CO2 do mundo, atrás da China —, o objetivo pode ser até mesmo superado. Um relatório do Conselho Nacional de Pesquisa do país mostrou que, daqui a quatro décadas, os veículos serão 80% menos poluentes do que agora. O caminho até lá, porém, não será nada fácil.
A boa notícia, de acordo com o estudo, é que o feito independe da fonte energética alternativa que vai colocar os motores em funcionamento — seja biocombustível, eletricidade ou hidrogênio. O importante é o design mais eficiente dos veículos, aliado a políticas governamentais que incentivem a escolha inteligente dos consumidores. Apesar de reconhecer que atingir as metas de cortes de CO2 e outros gases é difícil, os autores do relatório afirmam que a tecnologia vai garantir que elas sejam bem-sucedidas.
Não se pode perder mais tempo, contudo. “Para atingir os objetivos de 2050, as fontes alternativas ao petróleo devem ficar disponíveis o mais rápido possível e precisam ter um bom custo-benefício. Essa transição será cara no princípio e vai requerer muitas décadas. Pelo modelo que fizemos, será mais custoso do que a indústria espera”, diz Douglas Chapin, presidente do comitê que elaborou o relatório. De tudo que pode ser feito para alcançar as metas, melhorar a eficiência dos carros é, até agora, a ação mais econômica e fácil de se implementar. Segundo o relatório, a medida vai economizar combustível e diminuir a quantidade de emissões. Para tanto, os veículos precisam ficar mais leves e ter resistência aerodinâmica aprimorada, entre outras adaptações.
Somente remodelar os carros não é o suficiente, alerta o relatório. Para chegar à meta da ONU, a economia de combustível média de todos os veículos da frota americana tem de exceder 1,3 litro por quilômetro rodado, o que, no cenário de hoje, seria altamente improvável. Por isso, os autores lembram que, além do design, é necessário investir em veículos elétricos híbridos, baterias elétricas, células elétricas de hidrogênio e gás natural comprimido. Algumas dessas tecnologias já existem ou estão para serem implementadas por montadoras como Toyota, Chevrolet, Nissan, Mercedes e Honda.
“Apesar da redução nos custos com abastecimento, principalmente no caso de veículos abastecidos por gás natural ou eletricidade, o preço inicial dos carros será alto, o que poderá ser uma barreira significativa para popularizar sua aceitação pelo mundo”, diz o relatório. “Todos esses veículos são e continuarão a ser dezenas de dólares mais caros que os convencionais”, alerta o documento. Além disso, particularmente no início, acredita-se que alguns dos combustíveis alternativos não serão fáceis de achar, enquanto outros, devido à necessidade de estocar energia, poderão reduzir a capacidade de passageiros por carro. “A aceitação em larga escala é, contudo, essencial. Para atingirmos as metas, uma grande quantidade de veículos alternativos deverão ser comprados muito antes de 2050”, diz Douglas Chapin.
Cenários O relatório identificou vários cenários que podem atender às demandas de 2050, no sentido da redução dos gases de efeito estufa. Cada um combinou veículos de alta eficiência a pelo menos uma das três fontes alternativas de energia — biocombustível, eletricidade ou hidrogênio. Veículos movidos a gás natural também foram considerados, mas as emissões de CO2 desses veículos são muito altas para se chegar aos objetivos da ONU. Nos Estados Unidos, o único biodiesel produzido em quantidades comerciais é o etanol proveniente do milho. Por isso, o relatório considera que as biomassas lignocelulósicas, que incluem resíduos da agricultura, como cascas de árvore e bagaço da cana, serão as fontes de energia mais viáveis para a substituição de combustível no país.
Combinada aos carros eficientes, esses resíduos naturais e renováveis podem fazer com que os EUA cheguem a 80% de redução de consumo de petróleo e emissão de gases de efeito estufa. No Brasil, as biomassas lignocelulósicas são o biocombustível mais pesquisado atualmente. A Petrobras, por exemplo, estuda a adição de bagaço de cana de açúcar ao etanol para produzir o álcool de segunda geração.
Professor do Departamento de Engenharia Química da Universidade de Virgínia em Charlottesville e integrante do comitê que elaborou o relatório, Ramon L. Espino diz que, enquanto carros elétricos não emitirão nenhum gás de efeito estufa, a produção de eletricidade deve ser considerada, pois recursos fósseis são necessários nesse processo. “Esses veículos precisarão de baterias, que são fáceis e baratas de projetar. Mas, por enquanto, a autonomia ainda é baixa. Encontrar baterias avançadas é um dos maiores desafios tecnológicos para os carros elétricos”, avalia.
O uso do hidrogênio como célula de combustível nos veículos elétricos também é altamente ecológico, pois o carro só emite água. Contudo, também há que se melhorar muito a tecnologia antes de ela se tornar viável. “Durante a produção do hidrogênio, grandes quantidades de gases de efeito estufa são emitidos. Os métodos que emitem poucos gases são ainda muito caros e precisam de mais desenvolvimento antes de se tornarem competitivos”, alerta o relatório.
Campanhas “Os avanços tecnológicos necessários para atender às metas de 2050 são desafiadores e não é garantido que isso ocorrerá, mas sem eles não atingiremos os objetivos”, diz o documento. Para os consultores do Comitê Nacional de Pesquisa dos EUA, é impossível afirmar, agora, quais tecnologias vão ter sucesso, por isso, a melhor abordagem será investir muito em pesquisa tanto em combustíveis quanto em design, com participação ativa da indústria e dos governos. “Os esforços de pesquisa têm de avaliar quais métodos de produção emergirão como os mais promissores.”
Enquanto técnicos deverão trabalhar arduamente em relação a essas questões, políticos terão de fazer sua parte e começar a intervir na produção de combustíveis até 2025 no máximo. Além de subsídios econômicos, o documento sugere fortes campanhas de conscientização das famílias, para que se convençam da necessidade de adotar fontes combustíveis renováveis e não poluentes. “É essencial que as políticas que promovam essas tecnologias não sejam introduzidas para o público pouco antes de os novos combustíveis estarem disponíveis”, aconselham os autores do relatório.
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