Pedetistas e amigos lamentam a
permanência de documentos do político em guarda-móveis e apostam no fim
da disputa em torno do espólio para garantir a preservação do material
Alessandra Mello
Estado de Minas: 19/04/2013
Integrante do Grupo dos Doze, movimento de
apoio ao governo de João Goulart, deposto em 1964, o ex-deputado federal
Genival Tourinho, filiado histórico do PDT, lamenta a situação do
acervo do ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, Leonel
Brizola, revelada pelo Estado de Minas na edição de ontem. Há cerca de
cinco anos, cartas, documentos, livros, fotografias e objetos pessoais
de Brizola estão em um guarda- móveis no Bairro Inhaúma, subúrbio da
capital fluminense, em um prédio sem nenhuma condição para abrigar
documentos valiosos de um dos maiores líderes trabalhistas brasileiros,
falecido em 2004, aos 82 anos. “O tratamento dado à sua memória não é
condizente com a grande liderança que ele foi. Brizola foi o primeiro
governador a peitar os americanos”, destaca Genival, que militou ao lado
do político e de outro pedetista histórico, Darcy Ribeiro, contra o
regime militar.
A esperança dos amigos e brizolistas é que o fim
das disputas em torno do espólio do ex-governador possa resolver o
destino do acervo, que teria, entre suas preciosidades, cartas e
documentos inéditos de fatos históricos como a Rede da Legalidade,
organizada por Brizola do Rio Grande do Sul para impedir a deposição de
João Goulart. Um acordo na Justiça em torno do espólio teria sido selado
em dezembro do ano passado e o processo arquivado pelo Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro.
A divulgação do local onde está
guardado o acervo desagradou à família do líder trabalhista. O
guarda-móveis na entrada da Favela da Galinha fica em um prédio com
janelas quebradas e sinais de infiltração nas paredes. Ao lado da
construção, passa um córrego não canalizado, tomado por lixo e esgoto. O
guardião dos documentos é Manoel de Oliveira Gonçalves, dono de uma
transportadora e guarda-volumes. Ele admite que o estabelecimento não é
apropriado para a manutenção do acervo.
A permanência dos
documentos em local precário se dá em meio à disputa pelo espólio
político do líder pedetista travada pelos netos do ex-governador que
ocupam cargos eletivos no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e aliados
do ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi (RJ), reeleito presidente do PDT.
Procurados pela reportagem, os netos do ex-governador, a deputada
estadual Juliana Brizola (PDT-RS) e o vereador Leonel Brizola (PDT-RJ),
irmãos do ex-ministro do Trabalho Brizola Neto (PDT_RJ), não quiseram
dar entrevistas. Lupi também não quis falar sobre o assunto. Segundo sua
assessoria, a situação do acervo é de responsabilidade da família e o
partido não pode interferir.
O acervo de Brizola pertence ao
único filho vivo do ex-governador, João Otávio Brizola, responsável na
Justiça pelo inventário do espólio do pai, e aos filhos de Neusinha
Brizola, também filha do ex-governador, falecida em 2011. Eles são donos
também dos direitos de imagens e da história de Brizola, segundo apurou
a reportagem. O terceiro filho de Brizola, José Vicente, morto em 2012,
teria vendido sua parte para os irmãos. No guarda-volumes em Inhaúma, o
material só pode ser visitado ou retirado com autorização de João
Otávio, que reside no Rio de Janeiro e em Montevideú, no Uruguai.
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