Dois repórteres da editoria de polícia do jornal 'Vale do Aço', de Ipatinga, foram assassinados em pouco mais de um mês
Profissionais são orientados a não saírem sozinhos da Redação; suspeita é de atuação de grupo de extermínio
Primeiro foi a morte do repórter Rodrigo Neto de Faria, 38, em março. No último domingo foi assassinado o repórter fotográfico Walgney Carvalho, 43. Os dois trabalhavam na editoria de polícia do jornal "Vale do Aço".
Existe a suspeita de envolvimento de policiais que fariam parte de um grupo de extermínio que atuaria na região. Por isso o temor dos jornalistas, especialmente entre os da cobertura policial.
Desde a morte de Faria, o "Vale do Aço" não consegue preencher duas vagas abertas no jornal por falta de candidatos, disse o editor da publicação, Breno Brandão.
No "Diário Popular", também de Ipatinga, uma repórter policial pediu demissão na última segunda-feira e saiu do Estado, afirmou o editor-chefe Fernando Benedito Jr.
O temor se reflete na rotina das duas pequenas redações, que têm de cinco a oito jornalistas cada uma. E ainda na apuração das reportagens.
"O pessoal que está em campo, até de outras editorias, está receoso e preocupado", disse Brandão, que tem incentivado a saída de repórteres para coberturas externas sempre com um colega, ainda que de outra empresa.
Segundo Benedito Jr., as reportagens que exigem apuração mais aprofundada foram deixadas de lado. A cobertura está limitada a ocorrências da Polícia Militar e demais informações oficiais.
Para acompanhar as investigações e cobrar apuração e segurança, jornalistas da cidade formaram um comitê batizado Rodrigo Neto.
O jornalista produzia reportagens investigativas e tentava elucidar uma série de 14 homicídios ocorridos nos últimos anos na região, que não foram solucionados.
Um dos casos ocorreu em 2008. Um adolescente infrator foi morto, teve a cabeça decepada e embrulhada em folhas com reportagens escritas pelo jornalista. O embrulho foi jogado na casa de um capitão da PM que apurava o crime.
Já Carvalho havia prestado informações à polícia sobre a morte do colega de trabalho, segundo o deputado estadual Durval Ângelo (PT), da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Minas.
O governador Antonio Anastasia (PSDB-MG) reconheceu haver uma "organização criminosa" na região, mas evitou citar a possível participação de policiais para não atrapalhar as investigações, a cargo da polícia mineira.
Entidades de classe e grupos ligados aos direitos humanos têm cobrado apuração e segurança. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência acompanha o caso.
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