quarta-feira, 24 de abril de 2013

Casamento - Eduardo Almeida Reis

Casamento deve ser por interesse e o motivo é simples: a paixão acaba, enquanto o interesse é eterno 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 24/04/2013 

No tempo de antigamente, um sabiá, um violão e uma cruel desilusão era tudo que ficava um ano e meio depois do desmoronamento do lar. Hoje, tem gente que guarda um canário-da-terra, uma guitarra elétrica e a cruel desilusão continua a mesma, porque o ideal de toda e qualquer união continua sendo até que a morte separe os otimistas. Culpa de quem? Da paixão, é claro, que obnubila o discernimento. Obnubilado, o discernimento vai de grota e o cavalheiro, bem como a dama, acham que aquele sentimento arrebatador, estonteante, inebriante, indescritível –  é eterno: não é. Há quem fale em seis meses e quem fale em dois anos, mas um dia a paixão acaba e os dois caem na real. Aí, já viu, né? Conviver é muito difícil. Casamento deve ser por interesse e o motivo é simples: a paixão acaba, enquanto o interesse é eterno. Veja-se o exemplo de Elizabeth Alexandra Mary e Philip of Greece and Denmark, quatro filhos, casamento realizado em 20 de novembro de 1947, na Abadia de Westminster.

Não é nada, não é nada, são quase 66 anos de união estável, posto que pavimentada de percalços. Retiro os percalços, que entraram em nosso idioma em 1371, porque acabo de descobrir que também significam proveito, vantagem, benefício que se obtém por meio de alguma atividade; ganho, lucro. Digamos, então, que a união de Elizabeth e Philip tenha sido pavimentada de obstáculos, mas vai caminhando porque fundada, antes e acima de tudo, no interesse. A Wikipédia tem o descoco de dizer que ela se apaixonou por ele em 1939, quando tinha 13 aninhos: desconcordo. Inteligente, a princesinha britânica, depois de conhecer uma porção de príncipes europeus, deve ter constatado que Philip of Greece and Denmark era menos ruim que os outros, quase todos “prejudicados” pelos sucessivos casamentos consanguíneos de suas famílias.


Notas televisivas
Sete anos de pastor Jacó serviu; sete dias ficou sem tevê o philosopho. Problemas diversos sem a interferência de Labão, pai de Raquel, serrana bela. Finalmente, “habilitaram” aquela panelinha parabólica voltada para o céu e tive minha dose diária de crimes pavorosos. A começar pelo enviado especial da GloboNews, que reportou qualquer coisa ocorrida “tardiamente” na Venezuela. Notei que era tarde da noite aqui no chatô e fui parar em cama, como escreveu o padre Vieira, aos 18 aninhos, na Carta ânua, de 1626, ao geral dos jesuítas, em latim e em vernáculo. Sem tevê, andei relendo Vieira. Na Carta ânua, aprendi que Dieneces, o Espartano, quando lhe disseram que os inimigos (os persas) eram tão numerosos que as suas setas obscureciam o sol, replicou: “Tanto melhor: combateremos à sombra!”.

Dia seguinte, telejornal das 7h, repórter engravatado falando ao vivo do cemitério de Itapecerica da Serra (SP), dizia da “feliz coincidência” de a recém-nascida Gabriela ter tido alta, na véspera, da UTI neonatal do hospital em que sua mãe, Daniela, de 25 aninhos, morrera no mesmo dia em consequência de um tiro que lhe deram na cabeça, assaltante de presumíveis 19 anos, 1,75m, pardo, que fugiu de moto com um comparsa. Linda secretária de 25 anos, casada, primeira filha, assaltada e morta. Falar é difícil, escrever também, mas “feliz coincidência” foi demais para começar o dia ao vivo e em cores.

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