Federação Mundial do Coração e OMS criam
projeto global para reduzir mortalidade por doenças cardiovasculares.
Uma delas, a hipertensão, ganha ações de conscientização a partir de
amanhã
Humberto Siqueira
Estado de Minas: 24/04/2013
A
TV chamou a atenção dos telespectadores recentemente com a imagem de um
bandido caindo subitamente enquanto assaltava um posto de gasolina, em
Mogi das Cruzes (SP). Ele foi vítima de um infarto fulminante e, em
questão de segundos, morreu, evidenciando a fragilidade humana. Esse
tipo de ocorrência é mais comum do que parece e tem crescido. Em reação
ao número crescente de doenças do coração que levam ao óbito, a
Federação Mundial do Coração (FMC), alinhada com a Organização Mundial
de Saúde (OMS), deu início ao projeto global “Reduzindo a mortalidade
global em 25% até 2025” no Brasil. As entidades visam conscientizar a
população da gravidade das doenças cardiovasculares (DCVs) e a
importância da prevenção.
As DCVs são as maiores causadoras
de mortes prematuras em todo o mundo, sendo responsáveis por cerca de
17,3 milhões de óbitos por ano, 31,3% de todos os casos. No Brasil, esse
número chega a 300 mil anualmente, ou uma morte a cada dois minutos. Os
dados de toda a América Latina, incluindo o cenário brasileiro, também
são preocupantes: 40% das mortes precoces ocorrem durante os anos mais
produtivos de uma pessoa, antes dos 60 anos de idade. Entre as DCVs mais
comuns estão o infarto, a insuficiência cardíaca e a hipertensão. Esta
última tem um dia nacional dedicado à ela, que é na sexta-feira, quando
ações de mobilização e conscientização da sociedade serão divulgadas.
No
Brasil, os principais fatores de risco com alta incidência na população
e que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares são
o tabagismo, maus hábitos alimentares, hipertensão arterial, uso
abusivo do álcool, obesidade e colesterol alto. “O tabagismo mata 50% de
seus usuários. Sem contar os danos à saúde do fumante passivo. A
proibição de fumar em locais públicos, em nível nacional, é fundamental.
Assim como o acordo com a indústria para reduzir o sódio em seus
produtos”, alerta a CEO da FMC, Johanna Ralston.
Jagat
Narula, professor de medicina e cardiologia no Mount Sinai Hospital, de
Nova York, diz que as pessoas precisam repensar seus níveis de
colesterol. “Um bebê, que precisa de colesterol para crescer e
desenvolver o cérebro, nasce com níveis em torno de 30 miligramas por
decilitro (mg/dl). Com 3 anos, já atingiu níveis acima de 100mg/dl.
Somos os únicos animais na Terra em que o colesterol supera a casa dos
100. O que definimos como normal, não é”, aponta.
POUCA FRUTA,
LEGUME e exercício De acordo com a pesquisa telefônica nacional
(Vigitel) feita em 2011 com adultos brasileiros pelo Ministério da
Saúde, apenas 15% fazem atividade física de lazer; 18,2% comem frutas e
verduras cinco ou mais dias por semana; 34% comem alimentos ricos em
gordura; e 28% tomam refrigerantes em cinco ou mais dias por semana.
Esses fatores de risco estão associados ao aumento do sobrepeso e da
obesidade, que atingem, respectivamente, 48% e 14% dos adultos.
A
doença cardiovascular é a principal causa de hospitalização no país,
gerando o maior custo para o sistema nacional de saúde. Segundo
levantamento feito em 2010 pela Global Burdenof Disease Study sobre a
Carga Mundial de Doenças (CMD), a doença isquêmica do coração e o
derrame foram, respectivamente, a segunda e a terceira causas mais
comuns de mortes prematuras no Brasil naquele ano. A doença isquêmica do
coração representou 9,9% da mortalidade prematura, enquanto o derrame,
7,3%.
De acordo com a médica Márcia de Melo Barbosa, que em
junho será empossada presidente da Sociedade Interamericana de
Cardiologia, há uma falsa ideia de que doenças cardíacas são coisa de
gente rica. “Isso não é verdade. Está provado que as doenças não
transmissíveis (DNT’s) são, efetivamente, as mais prevalentes na
população de baixa renda. É a que tem menor controle dos fatores de
risco como obesidade e pressão arterial elevada”, afirma.
Segundo
Gláucia Maria Morais, professora de cardiologia na Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), 80% das mortes se dão na população de baixa
renda. “A maior causa é a aterosclerose. Na necropsia, mesmo daqueles
que vieram a óbito por outras razões, detectamos que 75% têm algum grau
de placa aterosclerótica nos vasos”, revela. Gláucia acredita ser
necessário agir sobre determinantes sociais, mobilizar meios de
comunicação, criar fórum de discussão internacional e proporcionar
cursos a distância para médicos da família para perseguir a meta
traçada. De acordo com o Ministério da Saúde, fatores de risco como
tabagismo e obesidade são mais comuns entre a população de menor
escolaridade e renda.
Embora a incidência de doenças cardiovasculares
e doenças não transmissíveis (DNT) permaneça elevada, as políticas e os
programas reforçados durante a última década alcançaram sucessos
notáveis. Houve uma redução de quase 20% entre 1996 e 2007 nas taxas de
mortalidade por DNT no Brasil, o que tem sido atribuído à expansão da
saúde básica, à melhoria da qualidade dos serviços de saúde e a uma
redução no consumo de tabaco (de 1989 a 2010, as taxas de tabagismo
diminuíram de 34,8% para 15,1%).
As quedas nos índices de
mortalidade foram especialmente notadas nas doenças cardiovasculares e
doenças respiratórias crônicas. É importante ressaltar que a diminuição
de mortes relacionadas às DNTs entre 1996 e 2007 foi menos acentuada nas
áreas mais pobres das regiões Norte e Nordeste do Brasil, que são as
regiões com as maiores taxas de mortalidade por doenças não
transmissíveis.
ESTRATÉGIA O plano de ação brasileiro deverá
agora dar um passo à frente para que atinja seu objetivo geral: serão
incluídos objetivos aprovados pela OMS sobre a pressão arterial alta, o
principal fator de risco para as DCVs, bem como o tratamento
medicamentoso para prevenir ataques cardíacos e derrames. Como o Dia
Mundial da Saúde (7 de abril) teve seu foco na hipertensão, o plano
brasileiro deverá reconhecer essa e outras metas da OMS.
O
objetivo geral é alcançar uma de redução de 2% ao ano na mortalidade
prematura por DNTs, o que está alinhado com os 25% da meta mundial da
OMS para 2025. O atendimento básico de saúde foi ampliado
significativamente nos últimos anos, com cobertura a cerca de 60% da
população brasileira. Os indivíduos em alto risco e aqueles que
apresentam doenças cardiovasculares podem ser tratados com medicamentos
genéricos de baixo custo. Por exemplo, o uso de ácido acetilsalicílico
(AAS), estatinas e anti-hipertensivos pode reduzir significativamente a
ocorrência de eventos vasculares. Esses medicamentos são considerados
"melhores compras" pela OMS. “Foi implementada no Brasil uma série de
políticas e programas que ampliam cada vez mais o acesso a medicamentos
para doenças cardiovasculares e outras DNTs. Elas são importantes também
para os cofres públicos. Em 2011, 22% da verba do SUS com internações
foi para pacientes com doenças cardiovasculares”, diz Débora Malta,
coordenadora geral de Vigilância de Agravos e DNT do Ministério da
Saúde.
As doenças cardiovasculares também estão entre os
principais causadores de ônus econômico para as famílias e sociedade
brasileira. De acordo com um estudo do Ministério da Saúde de 2007, a
perda de produtividade e queda da renda familiar devido a diabetes,
doenças do coração e acidente vascular cerebral no Brasil deverá causar
prejuízos estimados em US$ 4,18 bilhões para a economia brasileira entre
2006 e 2015.
prevenção
A Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC) realiza, esta semana, ações
comemorativas do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão,
celebrado em 26 de abril, centradas nas escolhas que as pessoas fazem ou
podem fazer para viver mais. A campanha “Eu sou 12 por 8”, organizada
pelo Departamento de Hipertensão da SBC, traz o slogan “Viver mais é uma
escolha que você faz”. O material de divulgação fala da importância de
fazer a medição da pressão arterial, consultar um médico periodicamente e
ter um estilo de vida saudável. O pré-lançamento será amanhã, em
Brasília, e, em BH, a ação ocorre no sábado, pela manhã, no Parque
Municipal Américo René Giannetti, na Avenida Afonso Pena.
Metas globais até 2025
Uso
nocivo do álcool: pelo menos 10% de redução relativa do uso nocivo do
álcool, conforme o caso, dentro do contexto de cada país
Sedentarismo: 10% de redução relativa do predomínio de
atividade física insuficiente
Consumo de sal/sódio: 30% de redução relativa do consumo
médio de sal/sódio da população
Tabaco: 30% de redução relativa do atual predomínio do consumo de tabaco em pessoas de 15 anos de idade ou mais
Pressão
arterial: 25% de redução relativa da predomínio de pressão arterial
elevada ou contenção da predomínio de hipertensão arterial, de acordo
com as circunstâncias de cada país
Diabetes e obesidade: frear o aumento de ambas as patologias
Terapia
medicamentosa para prevenir ataques cardíacos e derrames cerebrais:
recebimento, por pelo menos 50% das pessoas suscetíveis, de tratamento
com medicamentos e aconselhamento (incluindo controle de glicemia) para a
prevenção de ataques cardíacos e derrames
Medicamentos
essenciais e tecnologias básicas para o tratamento das principais
doenças não transmissíveis: disponibilidade, tanto nas unidades públicas
como nas particulares, de 80% das tecnologias acessíveis básicas e
medicamentos essenciais, incluindo genéricos, necessários para tratar as
principais doenças não transmissíveis
saiba mais
pressão alta
A
hipertensão arterial ou pressão alta é uma doença que ataca os vasos
sanguíneos, coração, cérebro, olhos e pode causar paralisação dos rins.
Ocorre quando a medida da pressão se mantém frequentemente acima de
140mmHg por 90 mmHg. O coração é a “bomba” responsável por fazer o
sangue circular por todo o nosso corpo. A força com a qual esse potente
órgão bombeia o sangue através dos vasos é chamada de pressão arterial.
Ela é determinada pelo volume de sangue que sai do coração e a
resistência que ele encontra para circular pelos vasos. A pressão
considerada normal é aquela que, na média, é igual ou inferior a 12 por
8, ou seja, máxima em 120 milímetros e mínima em 80 milímetros de
mercúrio (mmHg).
A hipertensão ocorre quando os valores das pressões
máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (ou 14 por 9).
Valores entre 12 por 8 e 14 por 9 são considerados limítrofes, ou
pré-hipertensão, e podem merecer tratamento em alguns casos, conforme
recomendação médica. Após os 55 anos, mesmo as pessoas com pressão
arterial normal têm 50% de chance de desenvolver a hipertensão.
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