Líder do PSC volta atrás no apoio dado para que o correligionário pastor Marco Feliciano
continue a presidir comissão. Ex-ministra pede abertura de processo por quebra de decoro 
    
    
  
  
  
    
Maria Clara Prates e Amanda Almeida
    Estado de Minas: 03/04/2013 
Brasília – A onda de 
insatisfação com o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), presidente
 da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM), não para 
de crescer, desta vez dentro da própria Câmara. Ontem, ele teve mais um 
dia de agenda negativa. A deputada Iriny Lopes (PT-ES), ex-ministra de 
Política para as Mulheres e que já presidiu a comissão, protocolou 
pedido de abertura de processo disciplinar contra o pastor, por causa 
das declarações que ele fez no fim de semana, durante pregação em 
Passos, no Sul de Minas — de que a comissão era dominada por “Satanás” 
antes de sua eleição para o cargo. A representação de Iriny será 
encaminhada à Corregedoria da Câmara, cujo presidente ainda não foi 
indicado, o que pode atrasar a análise do processo.
A declaração 
do pastor, no sábado, incomodou até mesmo seus correligionários, como a 
deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), que ameaçou deixar a vice-presidência 
da comissão, mas voltou atrás depois de um pedido de desculpas do 
colega. As desculpas, no entanto, para o líder do PSC, deputado André 
Moura, não são suficientes. Ele defende que elas sejam feitas 
oficialmente, a toda a sociedade.
Sob intensa pressão desde que 
teve início a polêmica envolvendo Feliciano, André Moura lavou as mãos 
ontem, depois de ter declarado, há uma semana, apoio ao correligionário 
para sua permanência na Presidência da CDHM. “Entendo que neste momento a
 coisa tomou proporções maiores que fogem da alçada da bancada e da 
liderança e tem que ser resolvida pela Executiva Nacional do partido e, 
logicamente, pela Mesa Diretora da Casa. Já existe parlamentar que 
anunciou que vai entrar com processo por quebra de decoro. Então, cabe à
 mesa diretora e ao conselho de ética analisarem esse processo”, afirmou
 ele, após participar de reunião de líderes da base aliada.
O 
PSOL anunciou que vai protocolar hoje pedido de investigação contra o 
deputado, na corregedoria e no conselho de ética e decoro parlamentar. 
Na representação, o partido lista o que considera graves irregularidades
 cometidas pelo parlamentar. As afirmações renderam, ainda, nota de 
repúdio assinada por ex-presidentes do colegiado. O grupo anunciou que 
vai fazer gestões na Mesa Diretora da Casa para adotar “providências” em
 relação ao caso.
Também ontem, o ministro do Supremo Tribunal 
Federal Ricardo Lewandowski negou pedido de Feliciano para adiar 
depoimento do parlamentar em processo em que é acusado de estelionato. O
 depoimento está marcado para sexta-feira. O Ministério Público do Rio 
Grande do Sul acusa o pastor de haver recebido cachê para participar de 
evento ao qual não compareceu.
A bancada do PPS, além de estudar a
 possibilidade de uma renúncia coletiva para forçar nova eleição na 
CDHM, anunciou ontem que o partido pretende encaminhar à Comissão de 
Ética da Casa um pedido para apuração da conduta de Feliciano.
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 Na representação entregue ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo 
Alves (PMDB-RN), Iriny Lopes argumenta que a declaração do pastor fere o
 Código de Ética da Casa: “Pode-se concluir que o referido parlamentar 
faltou com respeito com os colegas parlamentares e também com a imagem 
da instituição, infringindo o que preceitua o código de ética”, afirmou.
 A deputada Iriny presidiu a comissão de direitos humanos em 2006.
Mais
 uma vez, Marco Feliciano alegou que foi mal interpretado em sua 
afirmação. Ele explicou que ao se referir ao domínio de Satanás, quis 
apenas se referir a seus “adversários”, mas como estava em um culto 
religioso, lançou mão de uma linguagem bíblica. O pastor garantiu se 
sentir "livre" para continuar o trabalho na comissão. “Eu não disse nome
 de ninguém. Eu estava no culto, num ambiente espiritual. Eu falava 
sobre situações espirituais. Se vocês assistirem ao vídeo, minutos 
depois, eu falei que a comissão fez um seminário com apologia ao sexo 
para crianças até seis anos. Isso para quem é espiritual não é coisa de 
Deus. E se não é coisa de Deus é do adversário. Satanás significa 
adversário. No culto, eu tenho liberdade de expressão”, justificou.
Esvaziada
A
 audiência pública prevista para hoje na Comissão de Direitos Humanos 
foi cancelada na manhã de ontem. A assessoria da comissão não soube 
informar o motivo do pedido de cancelamento. O tema da audiência pública
 era “O desafio da inclusão no mercado de trabalho assegurando a 
igualdade de direitos e oportunidades, sem descriminação de cor, etnia, 
procedência ou qualquer outra”. Desde que assumiu a presidência da 
comissão, em 7 de março, Feliciano conseguiu presidir apenas uma das 
quatro reuniões, em razão dos protestos contra ele, acusado de racismo e
 homofobia. No entanto, na semana passada, a reunião só aconteceu depois
 da troca de salas e reforço policial. Um militante foi preso a pedido 
de Feliciano. Também foi adiada, para a próxima semana, a reunião de 
líderes para discutir a crise na comissão, que aconteceria ontem, em 
razão de Henrique Alves ter se submetido a uma cirurgia de hérnia 
abdominal durante o feriado.
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