quarta-feira, 3 de abril de 2013

Cinemateca tem contas limitadas, perde funcionários e congela planos

folha de são paulo

Ex-menina dos olhos do MinC absorveu R$ 105 milhões desde 2008 para projetos e instalações
Ministério da Cultura faz pausa para rever destino da verba; Marta assume gestão da crise iniciada em janeiro
SILVANA ARANTESDE SÃO PAULOO Ministério da Cultura (MinC) trata publicamente como uma "crise de crescimento" -nas palavras de Leopoldo Nunes, secretário do Audiovisual- a turbulência que ameaça paralisar a Cinemateca Brasileira.
Desde 2008, a Cinemateca obteve R$ 105 milhões para realizar projetos, renovar e ampliar suas instalações.
A cifra foi informada à Folha pela Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC), signatária de termo de parceria com o MinC que prevê a gestão conjunta das atividades.
Os sinais de vigor da Cinemateca eram vistos como exemplo de êxito e faziam da instituição uma espécie de menina dos olhos do MinC.
Agora, o ministério avalia que falhou na obrigação de acompanhar acuradamente a aplicação dos recursos. E fez pausa para sua revisão.
Após a exoneração do diretor da Cinemateca, Carlos Magalhães, em janeiro passado, a SAC não tem recebido luz verde do MinC para movimentar a conta corrente com dinheiro destinado a projetos da entidade.
Estão depositados nela R$ 8,3 milhões, segundo informações obtidas pela Folha junto à SAC. Incapaz de acessar os recursos, a SAC dispensou 57 profissionais que estavam sob sua contratação.
Com as dispensas, o quadro de funcionários que executam atividades regulares na Cinemateca caiu de 132 para 75. "Estamos parando", diz Maria Dora Mourão, conselheira da SAC. "Tratam-nos como um bando de amigos que se deleitaram com tanto dinheiro. O trabalho está todo comprovado. A SAC é auditada pela Pricewaterhouse. Decidimos contratar a Price para uma auditoria analítica -pegar todos os documentos e analisar tudo o que foi feito e os resultados", afirma.
Protegendo suas identidades sob o guarda-chuva de uma Comissão de Funcionários, os profissionais contratados pela SAC que permanecem na Cinemateca expressaram àFolha o temor de que a transição administrativa seja "fatal para a instituição".
O presidente do Conselho da Cinemateca, o professor e crítico Ismail Xavier, reuniu-se anteontem com a ministra Marta Suplicy (Cultura) para tratar do assunto.
"Foi uma reunião muito produtiva. Estabeleceu-se uma plataforma de diálogo", afirma Xavier.
Em resumo, Marta assumiu a gestão da crise.

    "Temos que limpar a área", diz secretário
    DE SÃO PAULOO secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Leopoldo Nunes, diz que a secretaria falhou, "nos últimos anos", em sua obrigação de acompanhar e prestar contas do convênio com a Sociedade Amigos da Cinemateca.
    "Agora temos que limpar a área; fazer o que não foi feito", afirmou, em entrevista àFolha. Leia trechos a seguir.
    -
    Folha - O MinC desconfia de que houve desvio de recursos na Cinemateca Brasileira?
    Leopoldo Nunes - Não. Em hipótese alguma. Não temos nenhuma condição de emitir juízo sobre isso. Sinceramente, não temos. Não dá para dizer isso. Quem tem que dizer são os órgãos responsáveis.
    Funcionários preveem retrocesso no desempenho das funções da Cinemateca.
    Talvez seja a oportunidade de a Cinemateca ganhar uma maturidade institucional que ela nunca teve. Ela tinha 4/5 dos funcionários terceirizados. Você não sustenta uma instituição federal com 1/5 de funcionários concursados.
    Quando ocorre uma crise dessas, a primeira coisa que acontece é terceirizado ser desligado. Foi o que aconteceu agora.
    Quem assume a direção da Cinemateca?
    Estamos numa fase excepcional de atender esses requisitos que deveriam ter sido observados há cinco anos. No mínimo, mais seis meses.
    De interinidade de Olga Futema na direção?
    No mínimo. Espero que Olguinha, nossa "generala", aguente bravamente a missão.
    Preocupa a condição de preservação do acervo?
    Eu diria que a situação da Biblioteca Nacional é melhor do que a da Cinemateca.
    Então a Cinemateca chegou ao fundo do poço?
    Não. A Cinemateca ficou muito bonita por fora, mas ela tinha 15 preservadores em 2002. Hoje, ela tem três.
    Os cineastas que depositam seus filmes na Cinemateca podem ficar tranquilos?
    Cada vez mais. Não se compara com o que a Cinemateca era há dez anos. Temos uma das melhores do mundo nisso. Mas esse trabalho tem que ser completado.

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