terça-feira, 28 de maio de 2013

CINEOP » Cinema versus ditadura-Mariana Peixoto‏

Mostra de Ouro Preto será promovida em junho e exibirá filmes realizados entre 1964 e 1969. Em cena, obras de cineastas como Walter Lima Jr. e Nelson Pereira dos Santos 


Mariana Peixoto

Estado de Minas: 28/05/2013 

Antecipando os 50 anos do golpe militar, a Cine OP – Mostra de Cinema de Ouro Preto reúne, entre 12 e 17 de junho, filmes e diretores que atuaram no período de 1964 e 1969. O cinema brasileiro entre o golpe e o AI-5 é o eixo da oitava edição do evento. Quatro cineastas – Nelson Pereira dos Santos, Maurice Capovilla, Francisco Ramalho Jr. e Walter Lima Jr. – vão exibir filmes realizados na época e discutir como foi produzir cinema em plena ditadura. Esse último será ainda homenageado pela mostra.

A preservação da cinematografia nacional sempre norteou a Cine OP, que oito anos depois de sua criação também busca enfatizar a história e a educação. “Quando a gente começou com a mostra, a preservação não era sequer considerada dentro da cadeia produtiva do cinema”, afirma Raquel Hallak, coordenadora-geral do evento. De acordo com ela, ao longo desse período, a Cine OP viu nascer uma entidade de classe – a Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA ) – e avançou nas discussões em torno do assunto durante o chamado Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros.

“Existe hoje uma acumulação de produção, mas não há uma definição de política pública nacional. Pela primeira vez, o Ministério da Cultura irá em peso à mostra para conversar com o setor”, continua. A produção mineira deverá entrar na pauta. “Tanto a Secretaria de Estado de Cultura quanto o Centro de Referência Audiovisual (Crav) vão participar do debate, já que tem que haver plano não só de restauro da filmografia mineira, mas de resguardo”, acrescenta Hallak. Atualmente, são as cinematecas do Rio e de São Paulo que guardam a maior parte da produção brasileira.

Além de Lima Jr., a mostra vai homenagear outro veterano do cinema: o documentarista, pesquisador e escritor Jurandyr Noronha, de 96 anos, que, durante o evento, será nomeado presidente de honra da ABPA. Nascido em Juiz de Fora e radicado no Rio de Janeiro, trabalhou ao lado de nomes históricos do cinema brasileiro, como Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro. Dirigiu alguns filmes e criou, na década de 1970, o Museu do Cinema.

Na seara da exibição, um dos destaques é a chamada Mostra Histórica, que vai apresentar seis filmes produzidos no período militar que tiveram problemas com a censura. Entre eles estão El justiceiro (1968), de Nelson Pereira dos Santos, e Terra em transe (1967), de Glauber Rocha. Olhando para o passado, mas também mirando o futuro, a Cine OP vai promover uma série de pré-estreias nacionais. Na Mostra Contemporânea serão exibidos cinco longas, quatro médias e 30 curtas. Entre eles estão A primeira vez do cinema brasileiro, de Bruno Graziano, Denise Godinho e Hugo Moura, que investiga os bastidores de Coisas eróticas, considerado o primeiro filme brasileiro de sexo explícito, e Cine Holliúdy, de Halder Gomes, que narra a chegada em massa da televisão no interior do Ceará, na década de 1970.

CINE OP – MOSTRA DE CINEMA
DE OURO PRETO
De 12 a 17 de junho, no Centro de Artes e Convenções, Cine Vila Rica e Praça Tiradentes. Todas as sessões têm entrada franca. Programação completa no site www.cineop.com.br.

Principais mostras
Longas
» Histórica
•Anuska: Mulher manequim, de Francisco Ramalho Jr. (SP, 1968)
•Bebel: Garota propaganda, de Maurice Capovilla (RJ, 1968)
•Brasil ano 2000, de Walter Lima Jr. (RJ, 1968)
•El justiceiro, de Nelson Pereira dos Santos (RJ, 1968)
•Terra em transe, de Glauber Rocha (RJ, 1967)
•Trilogia do terror, de José Mojica Marins, Luis Sérgio Person e Ozualdo Candeias (SP, 1968)

» Contemporânea (pré-estreia de longas e médias)
•A primeira vez do cinema brasileiro, de Bruno Graziano, Denise Godinho e Hugo Moura (SP)
•Cine Holliúdy, de Halder Gomes (CE)
•Mazzaropi, de Celso Sabadin (SP)
•Ozualdo Candeias e o cinema, de Eugênio Puppo (SP)
•Sinais de cinza, a peleja de Olney contra o dragão da maldade, de Henrique Dantas (BA)
•Damas da liberdade, de Célia Gurgel e Joe Pimentel (CE)
•Filme para poeta cego, de Gustavo Vinagre (SP)
•Irina, de Sabrina Greve (SP)
•Sobre o abismo, de André Brasil (MG)

» Preservação (pré-estreia da cópia restaurada)
•Bonequinha de seda, de Oduvaldo Vianna (RJ, 1936)

Saiba mais
Afinado
Nascido em 1938, Walter Lima Júnior entrou no cinema pelas mãos de Glauber Rocha. Fez, em 1963, assistência de direção de Deus e o diabo na terra do sol (1963). Dois anos mais tarde, estreou em longas com Menino do engenho, adaptação do romance de José Lins do Rego. Desde então, dirigiu outros 16 filmes, entre eles Brasil ano 2000, que lhe deu em 1968 o Urso de Prata em Berlim, e A ostra e o vento (1997), que saiu com um prêmio do Festival de Veneza. Seu mais recente filme é Os desafinados (2008), sobre cinco amigos que, durante os anos 1960, buscam sucesso tocando bossa nova.

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