Escolher a área de que mais gosta, procurar uma instituição e não esperar nada em
troca são receitas positivas para se engajar em alguma causa social e ambiental
Junia Oliveira
Estado de Minas: 28/05/2013
Algumas
pessoas impressionam pelo espírito de solidariedade, arrancam elogios
de quem as observa dedicar algumas horas do dia a simplesmente fazer o
bem, sem cobrar retorno. Quem está de fora se pergunta como isso é
possível, se contagia e sente vontade de fazer o mesmo, mas não sabe
como. Voluntários afirmam: basta apenas dar o primeiro passo. Depois,
tudo se passa de forma natural. O Estado de Minas elaborou, com a ajuda
de quem gosta de ajudar, um guia para aqueles que querem entrar nesse
mundo e precisam apenas de uma forcinha para começar.
O início do
processo é a pessoa ter dentro de si a consciência de ajudar o próximo
sem ter nada em troca. O segundo passo é identificar a área de que mais
gosta ou onde se sente bem – se ajudando crianças, idosos, morador de
rua, dependentes químicos, entre outros. O terceiro é procurar alguma
instituição ou pessoa envolvida em projeto social para orientação. A
dica vem de quem entende do assunto: o bacharel em direito Daniel
Favarini, de 25 anos.
Há pouco mais de três anos, ele idealizou o
Dona de Leite, que arrecada latas de leite em pó e as distribui para as
crianças com idade entre 6 meses e 7 anos, moradoras do Ribeiro de
Abreu e bairros vizinhos, na Região Nordeste de Belo Horizonte. O
objetivo é complementar a alimentação para combater a desnutrição e a
obesidade infantil. Os voluntários fazem ainda palestras sobre diversos
temas, sugeridos pelas próprias famílias, e visitam as casas para
verificar o estado dos meninos.
Ações como essas têm conquistado
novos adeptos a cada dia. Pesquisa do Instituto Paulo Montenegro de
2011 revela que, no Brasil, um quarto da população se dedica ao
voluntariado. A consultora de projetos da Gerência de Desenvolvimento
Social do Sesi, Laura Boaventura, afirma que as pessoas estão cada vez
mais engajadas e isso não ocorre somente em momentos de tragédias ou
desastres naturais. “Elas estão participando mais e exercendo a
cidadania. E as redes sociais têm contribuído para isso”, diz.
Laura
chama a atenção para a diferença entre ações específicas, quando as
pessoas se unem para resolver algo pontual, e as mais duradouras. “Temos
trabalhado muito com o conceito de voluntariado transformador, aquele
que gera motivação para o voluntário, e que pode mudar a realidade de
quem faz e de quem recebe a ação. Se pensarmos numa mudança de contexto,
alteramos uma perspectiva”, relata.
ESCOLHA Além de querer, é
preciso ficar atento à escolha da instituição e, para muitas pessoas, o
grande impasse é como ter a certeza de optar por uma entidade séria. A
coordenadora do setor de extensão da reitoria da Universidade Fumec,
Carmem Schffer, orienta o futuro voluntário a prestar atenção à
relevância social dos serviços prestados pela organização à sociedade. É
importante ainda verificar e ter conhecimento das ações que são
desenvolvidas e da avaliação que os beneficiados fazem dos serviços
recebidos. Marcar reuniões com dirigentes e funcionários, conversar
informalmente com quem é atendido, observar a divulgação na mídia,
pesquisar informações na internet e em instituições públicas que
credenciam esse tipo de instituição também ajuda a se assegurar da
idoneidade da organização.
Para quem quer se engajar, mas não
sabe como, a professora sugere ações simples. Uma delas é acessar
portais na internet que cadastram voluntários e procurar na associação
de bairro os programas que são desenvolvidos na comunidade. Instituições
religiosas, ONGs e escolas podem também ser bons referenciais. Carmem
Schffer também pondera a eficácia das ações pontuais. “Não considero
doações de dinheiro e objetos como sendo as mais relevantes. Ações de
voluntariado relevantes são doação de sua capacidade de trabalho, de
parte do seu tempo, de suas competências e habilidades a quem
necessita”, ressalta.
“Podemos doar nossas horas em ações que
promovam o bem-estar social, a cidadania, valorize o beneficiado como
ser humano, que promovam saúde, qualidade de vida, melhorias nas
condições de vida, capacitação do outro para superar as dificuldades
enfrentadas. Dessa forma, todos, nas diversas áreas de atuação
profissional, têm algo a doar e de relevância social”, acrescenta.
Inspiração vem da família
Doar
algumas horas do dia é lição que Daniel Favarini aprendeu em casa, com a
família. Ele se dedicou a vários projetos sociais, mas, há três anos e
meio, se viu no momento de engajar e motivar as pessoas a ajudar
crianças carentes e desnutridas. Foi, então, que criou o projeto Dona de
Leite, que hoje conta com 14 voluntários que atendem 100 famílias e um
total de 150 crianças. “Com certeza, é importante a pessoa doar (algum
item ou dinheiro), mas o resultado muito maior de aprendizado é com o
voluntariado. Ele faz aprender, crescer e valorizar o que temos em casa,
à medida que conseguimos transmitir esse amor pelo próximo. Trabalho
voluntário é muito mais prazeroso que o recurso financeiro”, ressalta.
Nesse
mesmo barco entrou a técnica em contabilidade e nutricionista Jarlene
Gomes Melo, de 39. Ela conheceu o Dona de Leite no fim de 2011, ao
assistir a um vídeo sobre o projeto na faculdade. No início do ano
passado, ela aderiu à causa. Uma vez por mês, faz a “chamada
nutricional”. As crianças vão até a sede, no Bairro Ribeiro de Abreu,
onde são pesadas e medidas para o acompanhamento do estado nutricional.
Aquelas com baixo peso ganharam uns quilinhos a mais graças ao leite,
complemento alimentar.
“Se tenho tempo, conhecimento e amor pelo
que faço, tenho que retribuir a alguém e isso nem sempre tem um lado
financeiro. Trabalho voluntário é algo que engrandece, pois aumenta o
contato com pessoas carentes de informação, de atenção. Essa é a maior
satisfação: ser profissional, sem ser remunerado, mas podendo ajudar”,
afirma. Jarlene incentiva quem quer seguir o mesmo caminho: “Não precisa
ter uma profissão, todo mundo pode ser voluntário, dando atenção,
ouvindo aquelas pessoas, acolhendo com carinho. Tenho necessidade de
fazer algo por alguém. Algumas pessoas têm isso dentro de si, outras não
descobriram ainda. E só custa doar um pouco do seu tempo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário