segunda-feira, 27 de maio de 2013

Uma travessia - Sérgio Rodrigo Reis‏

De volta ao Grande Teatro do Palácio das Artes, Milton Nascimento relembrou os sucessos e os parceiros constantes 


Sérgio Rodrigo Reis

Estado de Minas: 27/05/2013 

Toda vez que Milton Nascimento passa por Minas o clima é de celebração. Não foi diferente no fim de semana, quando fez mais uma apresentação da turnê Uma travessia. Cercado por amigos músicos, o cantor celebrou mais uma vez com a plateia seus 50 anos de carreira – há pouco mais de um ano, ele esteve aqui dando início à temporada de shows revivendo seus grandes sucessos. E foram muitos. Maria Maria, Canção da América, Nada será como antes, Lilia e, claro Travessia, foram relembradas com o coro em uníssono que as cantou de cor no Grande Teatro do Palácio das Artes. Quem foi adorou.

“Gosto muito de Milton e acho o Clube da Esquina marcante; o descobri no anos 1970 e, desde então, venho acompanhando todo o trabalho dele. Há bastante o que comemorar. Se ele tivesse nascido fora do Brasil já seria conhecido ao redor do mundo, pois tem discos antológicos”, afirma Camilo Lara, professor de sociologia de história do Cefet. A admiração se renova com as gerações atuais. A vendedora Kátia Kuster é bom exemplo. “Nunca fui ao show e esta foi a primeira vez. Ele é um ícone. A oportunidade de ouvir um apanhado das músicas ao longo da carreira dele é única”, comemora. O funcionário público Oswaldo Ribeiro tem outros motivos para gostar do ídolo. “Ele consegue fazer música universal”, conclui.

Milton Nascimento não conseguiu projeção sozinho. E fez questão de deixar isso claro durante o show. Contou que começou a tocar na mesma noite que o pianista Wagner Tiso, numa boate de Três Pontas, Sul de Minas. “Eu com 14 anos, ele com 12.” Segundo ele, Tiso foi sua maior escola e fonte de inspiração para criação de composições como Nos bailes da vida. Outro amigo querido que fez questão de reverenciar foi Lô Borges. Cantou com ele hits como Clube da esquina número 2 e saiu de cena para que Lô pudesse relembrar sozinho as músicas O trem azul e Nuvem cigana. Quando voltou ao palco, ao lado da banda formada por Kiko Continentino (piano), Guido Santiago (saxofone), Gastão Vilerroy (baixo), Lincoln Cheib (bateria) e Wilson Lopes (guitarrista), provou por que mereceu tirar este ano para relembrar seus feitos, pois sucesso, pela alegria demonstrada pela plateia, é algo que vai longe.

Casos do clube

Ângela Faria

Acredite se quiser: o disco que chacoalhou a MPB em 1973, projetando Milton Nascimento e seus companheiros para o mundo, quase se chamou Documento secreto nº 5. “O que a Odeon vai fazer com essa garotada?”, costumava ouvir o técnico Nivaldo Duarte, enquanto registrava no estúdio – em dois canais! – clássicos como Trem azul, Nada será como antes e Cais. Sabe aquele sino tocando no fim de San Vicente? Está lá por causa do Nivaldo. 

Milton ligava o gravador e cantava por toda a noite. Improvisava, inventava, juntava tudo numa fita e a entregava para Wagner Tiso no estúdio. “Tira daí a coisa, né?, dizia Bituca ao amigo, tecladista e arranjador. Aqueles compassos misteriosos foram dar no álbum Clube da Esquina, assim batizado devido à canção composta por Milton com os irmãos Márcio e Lô Borges. Sabe o que a turma ouviu até cansar antes de gravá-lo? A ópera-rock Tommy, do the Who. Coube a Ronaldo Bastos organizar o tsunami criativo.

O livro Clube da Esquina 40 anos, que será lançado hoje em BH, reúne casos e mais casos sobre o histórico álbum. Muito já se escreveu sobre Milton, Lô, Márcio, Wagner, Ronaldo, Fernando Brant, Beto Guedes e Toninho Horta. Agora, o “lado b” promete: curtir os causos de Tavito, Luiz Alves, Nelson Ângelo, Rubinho Batera, Marilton Borges, Nivaldo Ornelas, Célio Balona e Pacífico Mascarenhas, entre outros.
Aquele álbum não inovou apenas por sua estética musical. Também fez história sua programação gráfica. Sobretudo a capa: sem título e sem nome de cantor, exibindo apenas a foto de dois garotinhos sentados à beira de uma estrada. Em março do ano passado, o Estado de Minas descobriu os misteriosos meninos. São rapazes humildes do interior fluminense: José Antônio Rimes, o Tonho, e Antônio Carlos de Oliveira, o Cacau. Ambos ignoravam ter rodado o mundo num disco. Anonimato, aliás, não é privilégio deles. No fim do livro, há o “Álbum de retratos” com cerca de 70 imagens sem legendas. Ok, os mosaicos dos álbuns Clube da Esquina 1 e 2 eram assim. Mas isso não combina com obra que se propõe a registrar algo tão precioso.

Clube da esquina 40 anos
Organização: Márcio Borges. Edição: Assembleia Legislativa e Imprensa Oficial de Minas Gerais. Lançamento hoje, às 20h, no plenário da Assembleia (Rua Rodrigues Caldas, 30, Santo Agostinho) com homenagem a Milton e artistas do Clube. Edição limitada. Serão sorteados 100 exemplares para o público. O Museu Clube da Esquina disponibilizará o livro posteriormente mediante cadastro e reserva. Informações: www.museuclubedaesquina.org.br

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