Com efetivo maior, PM terá esquema especial em pontos críticos e uso de câmeras
Além de evitar roubos e furtos no próximo domingo, plano de segurança visa conter ataques homofóbicos
"Se dois eventos dessa grandeza registrarem esses tipos de ocorrência, será a cidade de São Paulo que estará em xeque", afirma Nelson Matias Pereira, 46, diretor e um dos fundadores da Parada Gay paulistana, que ocorre no domingo. "E a opinião pública não vai aceitar."
Ao menos três questões centralizam as discussões entre a Parada, a PM e a Guarda Civil Metropolitana: aumentar o número de policiais no trajeto, dobrar a vigilância em relação aos arrastões e tentar coibir a venda ilegal de bebidas alcoólicas.
A Folha apurou que, dos 1.200 policiais militares anunciados inicialmente, o evento pós-Virada gerou um reforço de 50% no efetivo (ou seja, mais 600 policiais).
Durante a Parada Gay, que começa na avenida Paulista e vai até o final da Consolação, a PM montará esquema especial em pontos críticos.
São eles: as cercanias do Masp, por causa da grande concentração de pessoas; a esquina da Paulista com a Consolação, preocupante devido às manobras dos trios elétricos; e a região da praça da República, que receberá o show de encerramento, às 18h30.
Só para a região da República, serão deslocados 400 PMs. O local também terá mais iluminação, segundo o diretor da Parada.
A Guarda Civil Metropolitana vai quase dobrar o efetivo em relação ao ano passado: de 500 para 900 homens.
Outra medida para tentar conter os arrastões é o uso do chamado Olho de Águia pela Polícia Militar, utilizado geralmente em casos extremos.
O sistema permite comandar câmeras que podem ser instaladas em motocicletas, carros e helicópteros da polícia. As imagens são transmitidas para centrais de comando.
"É que claro que o que aconteceu na Virada se tornou um fator preocupante para nós", diz Vagner Cano, 50, coordenador de projetos e planejamento da Parada Gay.
MORTE
A Virada Cultural, que mobilizou milhares de paulistanos nos dias 18 e 19 deste mês, terminou com um saldo de arrastões, prisões e uma morte violenta, após um assalto."O público da Parada é diferente e mais vulnerável. Basta lembrar dos ataques homofóbicos que ocorrem", afirma Cano.
Um dos três eventos turísticos mais importantes da cidade, a 17ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que será realizada a partir das 12h, terá como tema "Para o armário, nunca mais: União e conscientização na luta contra a homofobia".
Em nota, a PM disse que informará "nos próximos dias" o esquema de segurança da Parada. Já a Guarda Civil Metropolitana não se manifestou até a conclusão desta edição.
Trios elétricos darão 'grito de alerta' sobre prevenção a assaltos
Mensagens objetivam reforçar cuidados com celulares, máquinas fotográficas e consumo de bebidas alcoólicas
Homens da Guarda Civil Metropolitana vão coibir ambulantes, principalmente os que vendem o vinho químico
A Parada Gay vai contar com um "grito de alerta".
Ele virá dos 17 trios elétricos que vão percorrer o trajeto que começa na avenida Paulista e segue até o final da Consolação, no centro de São Paulo, no domingo que vem.
As mensagens, que serão lidas nos trios, têm o objetivo de reforçar os cuidados em relação ao uso de celulares e máquinas fotográficas.
"Vou enfiar o meu celular nos peitos e o dinheiro na calcinha bem no fundo, porque não sou boba", brinca a drag queen Amanda Sparks, que decidiu, pela primeira vez, ir montada à parada.
"Confesso que essa onda de arrastões me assusta. Além do efeito Virada, me preocupo também com o efeito Feliciano", diz, se referindo a manifestações homofóbicas.
Os trios elétricos vão emitir ainda alertas sobre o consumo descontrolado de bebidas alcoólicas, principalmente o "veneno da muvuca": o vinho químico.
A organização costurou com a Guarda Civil Metropolitana uma ação para tentar coibir o comércio de ambulantes.
Bebida ilegal feita com álcool comum, corante e groselha, o vinho químico surgiu na clandestinidade em 2009. Com altíssimo teor alcoólico, a garrafa custa pouco, R$ 5.
Não é a primeira vez que a bebida se torna alvo das autoridades. No ano passado, o vinho químico também foi motivo de preocupação.
CONTRA O PRECONCEITO
Acostumado a participar de outras Paradas, o DJ Sérgio Oliveira, 27, o Sérjô, dos clubes A Lôca e The Week, diz que não teria coragem de participar do evento paulistano se fosse para "ir no chão".
Nas palavras do DJ, que vai tocar em um dos trios elétricos, a Parada Gay de São Paulo cada vez mais assume contornos de uma "Parada de arruaceiros com gay no meio".
"Perdeu o caráter político e de diversão. Agora, você tem que ficar o tempo todo em alerta. Não se pode nem tirar uma foto ou usar o celular. O que é isso, gente?"
A repercussão sobre a violência no fim de semana da Virada Cultural acendeu a luz vermelha. "Pena que São Paulo não saiba lidar de maneira civilizada com eventos de grande porte", diz Sérjô.
Vagner Cano, 50, coordenador da passeata, diz que, "fora o caráter festivo, a Parada, é bom que se diga, é uma manifestação pelo direito".
A educadora Elisangela Mello, 46, concorda. Diz que o paulistano precisa ocupar os espaços da cidade. "Não podemos ficar acuados. Aí, sim, perderemos essa luta."
Elisangela nunca foi à Parada. No domingo que vem, ela pretende cruzar a avenida Paulista de mãos dadas com o filho João, de seis anos.
"Acho que é o momento para ele conhecer um evento tão bacana que ajuda a combater um dos nossos piores males: o preconceito."
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