segunda-feira, 27 de maio de 2013

Google Glass - Marion Strecker

folha de são paulo

Google Glass


Se você usa óculos, deve estar se perguntando como é que vai usar o Google Glass. Mandará fazer Google Glass de grau? Google Glass de leitura? Google Glass multifocal? Complicado demais. Vai adotar lentes de contato? Talvez. Ou vai vestir o Glass em cima dos óculos? A ideia é essa, mas nem sempre encaixa.
Pensei que o Google Glass poderia evoluir e sair ele mesmo na forma de lente de contato. Aí sim ficaria imperceptível e não deixaria ninguém com cara de nerd.
Alpino
Que espaço na sua vida terá aquela armação com uma lente só, dotada de câmera e microfone, que ainda não foi oficialmente lançada no mercado? Quanto você pagaria pela traquitana?
O Google já andou vendendo por US$ 1.500 para 2.000 desenvolvedores na Califórnia, sedentos por novidade e esperançosos de criar aplicativos que possam fazer sucesso. Quanto vale o show dos óculos que interagem na internet?
Pra que serve o Google Glass? Fotografar, filmar e compartilhar essas imagens sem usar as mãos. Serve também para falar ao telefone e fazer buscas no Google.
Você aciona funções por comando de voz e vê a ação ou o resultado na frente do seu olho direito. As pessoas vão estranhar você, que ficará olhando para cima até cansar a vista. Embora muito pequena, essa lente-tela transparente ao ser vista tão de perto parecerá grande.
Você vai se sentir estranho, tendo de aprender a comandar um novo aparelho. Será que vai se surpreender gritando com os seus óculos no meio da rua? E em locais barulhentos? Reclamará da qualidade da conexão? Sofrerá com vírus? Terá o aparelho danificado se usar na chuva? Possivelmente sim.
E o design do Google Glass? Farão Google Glass coloridos? Sim! Farão Google Glass com design Philippe Starck? Romero Britto? Louis Vuitton? Por que não? Será que usar o Google Glass ao sol vai causar mancha de sombra num olho só? Certamente. Haverá Google Glass com lente escura? Sim, já há.
Já havia óculos computadorizados para esquiadores, praticantes de snowboard, ciclistas e corredores. A ideia é permitir telefonemas e dar informação em tempo real ao usuário, a partir de um localizador geográfico e tecnologia sem fio.
O marketing é tornar a experiência mais rica, mais segura e menos solitária, já que o sujeito não precisa olhar para o relógio ou segurar o telefone durante a atividade.
Mas há os detratores dessas novas e inevitáveis tecnologias, preocupados com os acidentes que serão causados por mais uma distração. E há os preocupados com a privacidade, seja dos usuários, seja das pessoas em volta, que podem não saber que estão sendo fotografadas, filmadas ou televisionadas.
Privacidade? Os outros me olham, só que não sabem o que estou vendo ou fazendo. Não saberão se os estou fotografando, tuitando, facebookando, instagramando, googlando, e-mailando ou o quê.
Estar com alguém, ainda que olhos nos olhos, nunca mais será a mesma coisa. Em vez de ver e viver o presente inteiro, viverei desatenta, mergulhada no futuro, no passado, na informação além, na pessoa além.
Marion Strecker
Marion Strecker é jornalista e cofundadora do UOL. Começou sua carreira como professora de música e coeditora da revista Arte em São Paulo. É formada em comunicação social pela PUC-SP. Trabalhou na Redação daFolha entre 1984 e 1996, onde foi redatora, crítica de arte, editora da 'Ilustrada', editora de suplementos, coordenadora de planejamento, coordenadora de reportagens especiais, repórter especial, diretora do Banco de Dados, diretora da Agência Folha e coautora do Manual da Redação. É colunista da Folha desde 2010. Pioneira na internet no Brasil, liderou a equipe que criou a FolhaWeb em julho de 1995 e foi diretora de conteúdo do UOL de 1996 a 2011. Viveu em San Francisco, Califórnia, de julho de 2011 a julho de 2012, atuando como correspondente do portal. Mudou-se para Nova York, onde começou a escrever um livro sobre internet, previsto para sair em 2013 pela Editora Record. Atualmente vive em São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário