Ministro durante a ditadura, o economista depôs ontem à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo
Ele diz que não apoiou a repressão, mas que AI-5 foi necessário porque o país 'estava num estado de desarrumação geral'
"Se as condições fossem as mesmas e o futuro não fosse opaco, eu repetiria. Eu não só assinei o AI-5, como assinei a Constituição de 1988", disse o ex-ministro, que foi um dos signatários do ato publicado em 13 de dezembro de 1968.
Delfim depôs ontem à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, que investiga crimes cometidos pela ditadura na cidade.
Ele foi ministro da Fazenda (1967-1974), da Agricultura (1979) e do Planejamento (1979-1985) no regime militar.
Delfim disse que nunca apoiou a repressão, mas que o AI-5 foi necessário porque o país "estava num estado de desarrumação geral".
O ex-ministro negou que soubesse de casos de tortura quando participou do governo militar e afirmou que havia uma "completa separação" entre a administração pública e os setores militares.
"Eu nunca ouvi dentro do governo nada sobre tortura. Em 1972, eu ainda perguntei para o [então presidente general Emílio Garrastazu] Médici: Existe isso?', e ele disse que não, que o que existia eram os conflitos de rua."
Apesar da insistência dos membros da comissão, que afirmaram que Delfim era o "homem forte" do governo, o ex-ministro negou que soubesse de empresários que teriam financiado a repressão. "Eu nunca tive conhecimento disso", disse.
A vereadora Juliana Cardoso (PT) mostrou fotografia em que Delfim aparece ao lado do empresário Henning Boilesen, apontado como financiador da repressão, mas Delfim negou ter mediado qualquer colaboração para o regime.
"O empresariado tinha a sua opinião, mas não se ouvia a opinião das empresas para fazer política. Talvez tenha sido isso o que gerou o crescimento", disse o ex-ministro, que comandou o chamado "milagre econômico" --período quando o país teve altas taxas de crescimento, no início dos anos 70.
CETICISMO
Os membros da comissão ouviram com ceticismo as respostas do ex-ministro."É muito difícil a gente poder aceitar que o senhor, no cargo que estava, não tinha conhecimento de pessoas que estavam sofrendo aquela situação", disse o vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da comissão municipal.
"Eu tenho muita dificuldade de acreditar que o governo militar era tão disciplinado que a principal figura civil ignorava que vivíamos a tortura que vivíamos, a repressão que vivíamos", disse o vereador Ricardo Young (PPS).
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