O banditismo corre solto no país inteiro e
não é por culpa do brasileiro nem da frouxidão de nossas leis: deve ser
culpa é da espécie humana, que não vale nada
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 14/06/2013
A polícia do Rio
ocupou mais duas favelas visando instalar UPPs, unidades de polícia
pacificadora, de olho na Copa e nas Olimpíadas. As favelas ficam em
torno do estádio do Vasco e ao lado da Linha Vermelha, via de acesso à
cidade para quem usa o aeroporto do Galeão ou chega de Minas e das
serras fluminenses. Numa próxima etapa, é intenção das autoridades
“pacificar” o Complexo da Maré, conjunto de favelas vizinhas da Linha
Vermelha.
Sempre que alguém fala das favelas cariocas,
paulistanas, belo-horizontinas, soteropolitanas, manauaras e outras, faz
questão de afirmar que os bandidos que as dominam são pouquíssimos e
que 99,7% delas todas são compostas de pessoas ordeiras, honestas e
trabalhadoras.
Se é assim, sugiro que o país inteiro seja
transformado numa favela, considerando que o número de pessoas ordeiras,
honestas e trabalhadoras nos bairros considerados “nobres”, é
muitíssimo menor que os tais 99,7%. O banditismo corre solto no país
inteiro e não é por culpa do brasileiro nem da frouxidão de nossas leis:
deve ser culpa é da espécie humana, que não vale nada.
Espécie
como um todo, o que não impede a existência de gente da melhor
supimpitude. Por exemplo: os leitores do grande jornal dos mineiros.
Nasci e morei no Rio quando a “nobre” Zona Sul só tinha duas grandes
favelas: Praia do Pinto e Catacumba. A hoje imensa Rocinha era, pasme o
leitor, parte do circuito das corridas de Fórmula 1. Surgiu por lá um
dos primeiros motéis, o Trampolim do Diabo, alusão ao trecho do circuito
automobilístico, estabelecimento que dispensava a apresentação de
carteira de identidade e certidão de casamento. Pois é: no Centro da
cidade havia hotéis modestos que exigiam certidão de casamento.
Não
me canso de contar cena que vivenciei diversas vezes: em imensos
cavalos da Hípica, passávamos por dentro da Praia do Pinto e a reação
dos favelados era de admiração pelo tamanho e aspecto dos cavalos.
Vindos do interior, não conheciam cavalos imensos e a tevê não existia
nem no Rio. Assim como não havia o ódio que se vê hoje. E não foi há
milênios, mas ainda outro dia.
Esse fato desmente, em parte,
minha afirmação de que a espécie humana é bela porcaria, mas aí entra o
depoimento do professor Napoleon Chagnon, o mais famoso antropólogo
vivo, que estuda os ianomâmis desde 1964 e prova que a espécie humana é
mesmo de lascar: os ilustres silvícolas, ainda na Idade da Pedra, se
drogavam e se matavam com um entusiasmo de fazer inveja aos piores
traficantes das favelas “pacificadas”.
Tá maus!
Caderno
Prosa, O Globo, 18/5/13, primeira página, anúncio da NAU Editora, PUC
Rio: “Autobiografias: verdades ou ficções? Em Devires autobiográficos,
Elizabeth Muylaert Duque-Estrada (doutora em Letras, PUC Rio) discute a
formação do ‘eu’ a partir da escrita autobiográfica. Para o professor de
teoria da literatura da Uerj Gustavo Bernardo, ‘esse livro já nasce
clássico, fazendo-se obrigatório em qualquer estante de quem deseje
pensar o sujeito moderno, a subjetividade contemporânea e, enfim, a si
mesmo’”.
Em matéria de idioma português, recorro a Sócrates
(469–399 a.C.) para dizer que “só sei que nada sei”. Escrevo de ouvido,
mas desejo pensar o sujeito e a sujeita modernos. Acho impossível que um
professor de teoria da literatura tenha escrito o texto que lhe foi
atribuído no anúncio do livro de Elizabeth.
Que, por falar em
português, zapeando o televisor acabo de ouvir o pândego pastor Malafaia
criticando os “esfameados”. Como não nasci ontem nem trasantontem, fui
ao verbo esfaimar e descobri que vem do português antigo esfamear
(derivado de fame forma antiga de fome), pela forma metatética *esfaemar
em que -e- > -i- > esfaimar.
Donde se conclui que é um
perigo criticar certos pastores. De repente, existe “esfemeado” para
aqueles famintos de mulheres, como o piedoso pastor Marcos Pereira,
proprietário da Adud, Assembleia de Deus dos Últimos Dias, que passou
alguns dos últimos dias na cadeia depois de estuprar uma porção de
crentes.
O mundo é uma bola
14 de junho
de 1897: o exército de Napoleão Bonaparte derrota o Exército russo na
Batalha de Friedlândia, atual Pravdinsk. Em 1846, fundação do estado
norte-americano da Califórnia. Em 1900, o Havaí se torna parte dos
Estados Unidos. Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército
alemão invade Paris. Fosse hoje, os alemães encontrariam por lá um monte
de jornalistas mineiros.
Em 1965, Paulo VI cria a Diocese de
Itabira, terra de gente da melhor supimpitude. Em 1966, o Vaticano
anuncia a abolição do Index Librorum Prohibitorum, o Índice de Livros
Proibidos, no que obrou muito mal. Há livros, e não são poucos, tão
chatos, que devem ser proibidos. Em 1982, termina a Guerra das Malvinas
com a rendição dos argentinos em Port Stanley.
Em 1801 nasceu o
paleontólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund, o nosso doutor Lund, que
morreria em 1880. Em 1832 nasceu o engenheiro alemão Nikolaus Otto,
inventor dos motores de ciclo Otto. Em 1977, nasceu a linda Camila
Pitanga. Hoje é o Dia Mundial do Doador de Sangue.
Ruminanças
“Como os tempos mudaram! Há 20 anos, ser bicha, só muito escondido. E machão nem precisava disfarçar.” (Millôr Fernandes, 1923-2012)
Nenhum comentário:
Postar um comentário