SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma das maiores tradições dos filmes e séries da saga "Jornada nas Estrelas" é discutir temas da ordem do dia transpostos para o gênero da ficção científica. "Além da Escuridão - Star Trek" não foge a essa regra. E, como não podia deixar de ser, o terrorismo é a bola da vez.
Não que a questão tenha passado despercebida dos antigos produtores da série.
Num episódio do terceiro ano do seriado "Jornada nas Estrelas: A Nova Geração", exibido em 1989, a Enterprise chega a visitar um planeta vitimado por ataques terroristas de uma ala radical de sua própria população.
Divulgação | ||
Enterprise pega fogo em cena do filme "Além da Escuridão - Star Trek" |
Naquela ocasião, a inspiração vinha dos conflitos na Irlanda. Mas, da mesma forma que o 11 de Setembro fez saltar de nível a percepção global do terror, o novo filme de J.J. Abrams eleva as apostas no universo fictício.
Desta vez, o atentado é na própria Terra do século 23, até então retratada como um paraíso idílico na franquia. E o perpetrador é um humano --e membro da Frota Estelar.
No final das contas, descobre-se que o Osama bin Laden de Abrams, de início apresentado como John Harrison, longe de ser um vilão unidimensional, é também uma vítima de um sistema conspiracionista instalado no seio da própria Federação e que se alimenta da guerra interestelar.
O terrorismo surge aqui não como um fim em si mesmo, mas como o sintoma da corrupção que emana de suas próprias vítimas.
É uma proposta arrojada, que jamais poderia ser empurrada para o público americano em outra forma que não fosse no futuro distante.
Por outro lado, não é fácil para o espectador deglutir a alegoria, com o tema submerso em duas horas de ação estonteante e desenfreada.
J.J. Abrams é ousado. O que destoa da tradição de "Jornada nas Estrelas" --e para melhor.
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