sexta-feira, 14 de junho de 2013

Vilão ofusca os mocinhos de 'Star Trek' como um malvado com causa

folha de são paulo
RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A CIDADE DO MÉXICO

"Ele é o melhor ator com quem trabalhei na vida". Geralmente, diretores são comedidos ao falar sobre seus comandados no set. Comentários assim provocam ciúmes e cochichos nos corredores.
A afirmação de J.J. Abrams sobre Benedict Cumberbatch, seu vilão em "Além da Escuridão - Star Trek", sequência do sucesso de 2009 que resgatou a série criada por Gene Roddenberry nos anos 1960, mostra o impacto que o inglês teve sobre o cineasta.
Editoria de Arte/Folhapress
Quando viu na TV a série "Sherlock", da BBC, Abrams notou que poderia ter uma nova face para interpretar o vilão do filme, que na trama se revelará a versão jovem de um dos malvados mais icônicos da saga interestelar protagonizada por Kirk (Chris Pine) e Spock (Zachary Quinto).
"Minha cabeça ficou a mil por hora", lembra o diretor, que, na época, queria Benicio del Toro para o papel.
Convidado, Cumberbatch precisava mandar rapidamente ao cineasta um vídeo interpretando certas páginas do roteiro. "O problema é que todo mundo estava de folga por causa do fim do ano", relembra o ator à Folha. "Então, pedi para um amigo me filmar com um iPhone."
Cumberbatch dividia aparições em TV com papeis coadjuvantes em filmes como "Desejo e Reparação" (2007) ou "A Outra" (2008). Em 2010, tudo mudou com a estreia de "Sherlock", uma modernização do detetive com Cumberbatch no papel título.
Criada de forma ousada (o detetive usa drogas, é quase um sociopata), a série da BBC transformou-se no grande sucesso do canal, com 8 milhões de espectadores, ganhou vários prêmios BAFTA, o mais importante do cinema e televisão ingleses, e Cumberbatch foi indicado ao Emmy e ao Globo de Ouro. Ele roda agora a terceira temporada. A segunda terminou com o personagem se jogando de um prédio.
Editoria de Arte/Folhapress
Star Trek - Os tripulantes da nave Enterprise
Star Trek - Os tripulantes da nave Enterprise
"É interessante, não? Precisamos surpreender e satisfazer de maneira inédita quem está esperando as respostas. Precisa ser algo que ninguém tenha feito anteriormente, mas espere mais alguns meses. Não vou falar nada."
Manter a boca fechada já é uma tradição para Cumberbatch. No novo "Star Trek", seu personagem foi vendido como John Harrison, um terrorista intergaláctico.
Mesmo depois da estreia do filme nos Estados Unidos e com o próprio IMDB, o maior banco de dados online, revelando a verdadeira identidade de Harrison, o ator nunca entrega o ouro.
Mas ele não foge do assunto ao falar das motivações do personagem. Ele é um terrorista criado para ser a solução final dos terráqueos para o fim da guerra, uma arma escondida entre seus pares que precisa ser desativada.
GRANDES QUESTÕES
"Nenhum ato de violência é justificado, mas precisamos conversar sobre isso, porque o terrorismo agora faz parte da vida moderna. 'Star Trek' foi criada para trazer grandes questões", diz o ator.
"O filme não condena ou apoia o terrorismo, mas ele pergunta o que motiva essa violência e como ela pode ser cíclica. Precisamos olhar para além da vingança e não apenas punir os culpados, mas nos perguntar o que aconteceu para despertar tamanho ato de terrorismo. Precisamos ser cuidadosos."
Injetando emoção e motivação em Harrison, Benedict Cumberbatch é a coluna vertebral de "Além da Escuridão - Star Trek". Não se surpreenda ao, repentinamente, começar a torcer pelo "vilão", caçado por Kirk e Spock após a explosão de um prédio e o assassinato de vários líderes da Frota Estelar, a força de paz universal de "Star Trek".
"John Harrison é tão fiel a sua tripulação quanto Kirk. Ele se importa tanto que perde o controle e isso dá uma dimensão maior ao personagem", afirma Cumberbatch.
O ator vai emprestar voz ao dragão Smaug na continuação de "O Hobbit" e interpretará Julian Assange na biografia do criador do WikiLeaks.
"Mas vamos ter tempo para falar sobre tudo isso depois." Ele já sabe como é o jogo em Hollywood.
Editoria de Arte/Folhapress
ALÉM DA ESCURIDÃO - STAR TREK
PRODUÇÃO EUA, 2013
DIREÇÃO J.J. Abrams
ONDE Kinoplex Itaim 5, Cidade Jardim Cinemark 7 e circuito
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
O jornalista RODRIGO SALEM viajou a convite da Paramount
CRÍTICA - SCI-FI
Uma gororoba para preencher espaços entre as explosões
ANDRÉ BARCINSKICRÍTICO DA FOLHAEm tempos remotos, numa galáxia não tão distante chamada Hollywood, viviam seres cheios de criatividade e boas ideias: os roteiristas.
Hoje, esse povo foi substituído por androides, cuja noção de narrativa se resume a empilhar personagens caricatos em cenas com explosões e usar efeitos especiais e 3D para anestesiar plateias.
"Além da Escuridão - Star Trek", de J.J. Abrams, deve ter batido algum recorde intergaláctico de contagens regressivas: cada vez que o roteiro estacionava em uma cena, os roteiristas ""três!"" inventavam uma bomba-relógio ou algum dispositivo que ameaçava destruir o universo.
Fora a mania de "explicar" a periculosidade: "Se não desligarmos a rebimboca da parafuseta em cinco segundos, o Accelerator Tabajara vai liberar feixes de radiação rocambólica destruidora!"
OK, é só diversão. Mas, por US$ 180 milhões, seria demais pedir uma história minimamente divertida e não essa gororoba que preencher tempo entre as explosões?
Hollywood chegou audaciosamente a um lugar onde nenhum homem jamais esteve: onde a qualidade não importa, se você tem efeitos especiais e 500 mil salas para lançar um filme.

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