segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os gigantes do Galpão - Ailton Magioli‏

Teatro - Aliando tradição e popularidade, novo espetáculo do premiado grupo mineiro atrai multidão ao parque ecológico da Pampulha, em BH


Ailton Magioli

Estado de Minas: 10/06/2013 




Muita expectativa e ainda mais público para ver Os gigantes da montanha, novo espetáculo do grupo Galpão, ontem à noite, no parque ecológico da Pampulha. Mas quem deixou para o último dia acabou reclamando. "Não dá para ver nada. O palco é pequeno, tem muita gente em pé na frente de quem está sentado”, queixou-se a estudante Sofia Carvalho, de 13 anos, que resolveu ir embora, desistindo de ver a montagem ao lado da mãe e de uma amiga. “É super-comum as pessoas deixarem para vir na última hora e o espaço, normalmente, não comporta”, lamentou Gilma Oliveira, da produção do Galpão, lembrando que o feriado da semana passada acabou contribuindo para que muitos deixassem para assistir ao espetáculo ontem e anteontem. Segundo cálculos do segurança Fernando Nascimento, mais de 6 mil pessoas passaram pela catraca do parque no sábado, enquanto no domingo esse número teria ultrapassado os 7 mil. Na verdade parecia haver muito mais gente.

Empolgada, a produção do Galpão calculava em 10 mil e 12 mil as plateias de sábado e domingo, respectivamente, lamentando o fato de as pessoas deixarem para ver o espetáculo no final da temporada, depois de quatro apresentações na semana passada, na Praça do Papa, quando um público estimado em 25 mil pessoas assistiu à peça que marca o retorno do grupo a seu palco principal – a rua. E mais uma vez sob a direção de Gabriel Villela, depois do sucesso de Romeu & Julieta, que se tornou um marco na carreira do grupo.”É um acontecimento único no mundo do teatro mobilizar essa multidão toda diante de um textro de Luigi Pirandelo não tão fácil”, comemorava o ator Eduardo Moreira, classificando Os gigantes da montanha como um novo fenômeno na carreira da premiada companhia.”E isso não ocorre apenas em Belo Horizonte, mas em toda cidade em que nos apresentamos”, acrescentou o ator, atribuindo o sucesso de público à trajetória vitoriosa de 30 anos de carreira do grupo mineiro. “É a junção do popular com o erudito”, definiu Eduardo Moreira, justificando o novo sucesso da companhia. Para Moreira, a estética do diretor Gabriel Villela é visualmente muito poderosa, além de reconhecida pelo público, que também embarca na linguagem popular do espetáculo, uma fábula que une o mundo da magia ao mundo do teatro. “É quase uma epifania teatral”, empolgou-se ele, salientando o fato de já na primeira música o público entrar no espetáculo.

Uma hora antes da apresentação era possível constatar a popularidade do Galpão diante da plateia. Acompanhado de 40 pessoas, Alan Keller, secretário-adjunto de Cultura de Sete Lagoas, desembarcava de um ônibus especialmente alugado por um grupo para assistir ao espetáculo no Parque Ecológico da Pampulha. “Vieram pessoas de Paraopeba, Caetanópolis e Cordisburgo, além de Sete Lagoas”, comemorava o secretário.”Meu sonho é ser um (integrante do) Galpão”, revelou o técnico-administrativo Yan Heyder, de Cordisburgo.”O que mais nos motiva é saber que há um grupo de teatro tão grandioso no estado”, acrescenta o secretário Alan Keller.

“Tudo isso só comprova a capacidade que o teatro tem de emocionar e promover a aglomeração de pessoas”, afirmou o ator Antonio Edson, pouco antes de entrar em cena. Até as 19h era possível ver gente entrando no parque, que teve as catracas liberadas nas duas portarias diante do acesso do público, que não parava de chegar depois da hora marcada para o início do espetáculo, 18h. De acordo com os guardas responsáveis pela segurança do espaço, em dias de apresentações artísticas no local o público aumenta sensivelmente no parque, que normalmente recebe aos fins de semana famílias inteiras em busca de lazer e diversão.

O Triângulo Mineiro (Araxá, Uberlândia e Uberaba) é a próxima parada do Galpão, que em julho vai levar o novo espetáculo a festivais de Ouro Preto, Ouro Branco e Caxambu, no Sul do estado. O eixo Rio-São Paulo vai receber Os gigantes da montanha em agosto e setembro. O Nordeste (Natal, Recife e Fortaleza) tem datas sendo agendadas para outubro e novembro. De acordo com a produção do grupo mineiro, os festivais de Bogotá (Colômbia) e de Caracas (Venezuela) também já manifestaram interesse na nova performance do Galpão, que ontem provocava reações diversas na plateia.

“Senta! Senta! Senta!”, gritavam os mais eufóricos, diante dos que insistiam em permanecer em pé em frente ao palco. As 500 cadeiras disponibilizadas no local não estiveram nem perto de ser suficientes para todos se acomodarem, com a maioria preferindo sentar-se nos platôs gramados que circundam a esplanada do Parque Ecológico, onde foi especialmente montado o palco para as apresentações do fim de semana. Apesar do movimento incessante nas duas portarias, muita gente acabou indo embora, devido às dificuldades de visibilidade.

Mas quem esperou pelo espetáculo não se arrependeu. “Isto aqui está muito bom”, reagiu o comerciante Tarcísio Domingues, que saiu do Bairro Coqueiros em companhia da mulher, das filhas trigêmeas, da cunhada e de duas sobrinhas para curtir o domingo no parque. “Já ouvir falar do Galpão na televisão”, disse ele, enquanto aguardava o início do espetáculo. Pela reação, a peça superou as expectativas.

Um comentário:

  1. Com texto de Luigi Pirandello e direção de Gabriel Villela, o Grupo Galpão volta mais uma vez ao trabalho do teatro de rua com “Os Gigantes da Montanha”. A montagem trás figurinos ricos em detalhes e significados e um cenário primoroso que coloria a noite belorizontina, contudo, mesmo com todos esses elementos, nossos gigantes do teatro não conseguiu trazer de volta a magia cênica que se viu em montagens como Romeu e Julieta, Um Molière Imaginário e Rua da Amargura.

    A fábula narra a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila mágica, povoada por fantasmas e governada pelo Mago Cotrone. Tudo começa muito bem com um coral de vozes unissom que anuncia uma noite de grandes emoções, mas, infelizmente, o que se vê posteriormente são interpretações perdidas e um desenrolar de cenas enfadonhas e desconexas, muito aquém do já realizado em peças anteriores pelos nossos gigantes do teatro mineiro, transformando a encenação de Os Gigantes da Montanha em uma sequência de interpretações monocórdias e repetidas.

    Desde o espetáculo Eclipse, o Grupo tem optado em trabalhar uma linguagem não linear em busca de um surrealismo lírico, contudo, o que se nota em Os Gigantes da Montanha é uma total despreocupação da encenação com que o texto chegue ao público. Isso talvez justifique os rumores de espectadores ao redor sobre não estar entendendo onde a peça queria chegar, ou até mesmo seja um dos motivos pelo qual dezenas de pessoas abandonaram a Praça do Papa no decorrer do espetáculo, possivelmente saudosos da brasa que ardia em encenações que outrora ocorreram naquele mesmo lugar, mas também uma enunciação clara de que não embarcaram na proposta.

    A musicalidade, sempre presente no histórico da trupe se apresenta como elemento fundamental na tradução do universo da fábula para o teatro popular de rua, contudo se por um lado conseguem encantar o público cantando em conjunto, seus números solos vão bem na contramão dessa via sonora. E nem mesmo a boa execução na cena do enforcado de Julio Maciel consegue apagar o estrago sonoro causado após cantar sua música solo. O mesmo não acontece com o solo de Regina Souza ao interpretar Madalena – que traz a cena um dos momentos auges do espetáculo –, e no solo de Eduardo Moreira, que mesmo tendo um coral de vozes femininas ao fundo canta com afinação e suavidade.

    Tarimbada, Inês Peixoto interpreta a condessa Ilse, personagem central da fábula, e mostra em cena toda sua experiência do teatro de rua no que se refere a interação com a plateia, contudo, não consegue fugir dos marcantes estereótipos vocais e gritos histéricos, que já vem lhe acompanhando em montagens como em seu recente trabalho no espetáculo “Till”. Não obtante, essa não é uma característica notada apenas na interpretação de Peixoto, mas também na de vários outros atores, como é notório em Antonio Edson que pega emprestado de seu Tio Vânia várias das entonações utilizadas em seu personagem Cromo, tornando a encenação apenas mais um monte do mesmo.

    Apesar desses atropelos, Os Gigantes da Montanha possui muitos méritos visuais como o deslumbrante cenário feito de madeira de demolição ou mesmo seus figurinos recortados por tecidos trazidos da Ásia, do Peru e de outros cantos do Brasil, que exemplificam o cuidado e os investimentos com a produção do espetáculo. Porém, nem todos esses artifícios foram suficiente para acordar nossos gigantes que pareciam adormecidos nessa noite de 30 maio, mas mesmo assim conseguiu prender até o final grande parte do seu público fiel. Ao meu lado duas espectadoras perguntaram: “Qual o nome desse espetáculo?” Isso nos leva a refletir sobre a responsabilidade da trupe em carregar uma marca tão forte, pois talvez o Grupo Galpão não seja o sabor da nova geração, mas certamente traz consigo um sinônimo de qualidade artística, que arrasta multidões e, por todo esse histórico, merecem nossos aplausos.

    Tia Daniele

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