Simples assim
André Novais Oliveira roda seu primeiro longa dentro de casa, no Bairro Amazonas, com elenco formado por familiares. O diretor já fez bonito em Cannes e vai mostrar seu trabalho nos EUA
Carolina Braga
Estado de Minas: 25/07/2013
Os moradores do Bairro Amazonas, em Contagem, podem até não saber. Mas a rotina mudou totalmente naquela casa verde de fundos com pitangueira na porta. Quando a novela ocupa as telinhas nas redondezas, a residência de Norberto e dona Zezé vira – literalmente – coisa de cinema.
O casal é protagonista de Ela volta na quinta, o primeiro longa-metragem da jovem produtora Filmes de Plástico, criada em 2009. Não por acaso, roteiro e direção são assinados por André Novais Oliveira, o caçula da família, que incluiu também o irmão e a cunhada no elenco.
“Minha influência vem muito das coisas que vejo no dia a dia”, confessa o cineasta. Destacado com menção especial na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, em maio, o curta Pouco mais de um mês, também de André, trilhava caminho parecido. Contava a história do namoro do diretor acrescida de elementos ficcionais. Ela volta na quinta é mais ou menos assim. Agora, o foco está na relação dos pais e dos filhos com as respectivas companheiras.
“É aquela história: quem conta um conto aumenta um ponto. É mistura, mas o filme foi roteirizado”, esclarece Gabriel Martins, o sócio da produtora encarregado de cuidar da fotografia. Na Filmes de Plástico, rodízio é lei. Quando André assume a direção, Gabriel cuida da câmera, enquanto Maurílio Martins se responsabiliza pelo som. Thiago Macedo Correia coordena a produção. Nada é fixo.
O quarteto tem conquistado espaço em conceituados eventos cinematográficos no Brasil e no exterior. Contagem ganhou o prêmio de direção no 43º Festival de Brasília. Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides foi exibido no 34º Festival Internacional de Curtas de Clermont-Ferrand, na França, e no 41º Festival Internacional de Roterdã, na Holanda.
Pouco mais de um mês tem agenda animada. Depois de Cannes, será exibido em Los Angeles, na semana que vem, antes de marcar presença no Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul. Nada disso afeta a simplicidade da turma. Aliás, essa é a característica da estética seguida pela Filmes de Plástico. A “ideologia do simples” domina a linguagem.
Descontando a sofisticação da câmera (uma Red Epic adotada pela equipe de O senhor dos anéis), tudo na produção de Ela volta na quinta é muito simples. Rodado dentro da casa do diretor, o filme traz fotografia sem sofisticação. “Optei pela iluminação natural ou mesmo por lâmpadas fortes para algumas cenas. Às vezes, rola um diálogo com a direção de arte. Usamos abajur, por exemplo”, explica Gabriel. Esse tom intimista se reproduz nas cenas.
Aparentemente, André Novais é calmo e discreto. No set, nada de gritos estridentes de “rodou” ou “corta”. O tom de voz é baixo tanto para comandar a equipe quanto no momento de passar orientações para o elenco. “Pai, não precisa demorar tanto para falar. Pode ir direto”, recomenda ele, delicadamente, atrás da câmera.
“Fazer um longa é, ao mesmo tempo, diferente e igual. A questão é a quantidade de dias de filmagem. Os curtas a gente roda em um dia. Agora, são 17”, compara André. O projeto original, beneficiado pela lei federal de incentivo à cultura, contemplava outro curta. Porém, à medida que trabalhava o roteiro, o diretor se deu conta de que poderia avançar. “Não via esse filme como um curta, mas nem conseguia explicar por quê. Nas entrelinhas, havia coisas que poderiam ser expostas”, detalha. Assim foi feito.
A estrela do lar
Entre uma cena e outra, chama a atenção a alegria de rodar o primeiro longa-metragem da Filmes de Plástico. O clima familiar domina o set. Na claquete está escrito assim: direção de Andrezera, produção de Thi, fotografia de Gabito e som de Maurilove.
Na mesa da sala, dona Zezé faz questão de oferecer bolo de chocolate e guloseimas à equipe e às visitas. Sorridente, a atriz não esconde o orgulho dos filhos: “Esses meninos desciam a Afonso Pena correndo para chegar a tempo da sessão no Cine Humberto Mauro. Eles viam tudo naquele Festival de Curtas”.
Aposentada da Rede Ferroviária Federal, Zezé lembra quando o filho anunciou o desejo de ingressar na Escola Livre de Cinema: “Ele fazia o curso técnico de edificações e estágio. Mas o salário não dava para pagar as outras aulas. Você acredita que o André fez até faxina para completar o valor?”.
Grande incentivadora, dona Zezé não costuma negar os pedidos do filho. Ela participa pela terceira vez de uma produção da Filmes de Plástico. “É muita emoção ser dirigida aqui por meu filho e por essa equipe. Estou me sentindo a mãe de todos eles”, diz.
Agora, a expectativa de dona Zezé é se ver na telona. A emoção será redobrada.
FILMES DE PLÁSTICO
2013
» Pouco mais de um mês (22min)
Roteiro e direção: André Novais Oliveira
2012
» Sorín (em finalização)
Direção: Gabriel Martins e Maurílio Martins
2011
» Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides (18min)
Direção e montagem: Gabriel Martins
» Domingo (11min)
Direção, roteiro e montagem: André Novais Oliveira
2010
» Contagem (18min)
Direção: Gabriel Martins e Maurílio Martins
» Fantasmas (11min)
Roteiro e direção: André Novais Oliveira
» Pelos de cachorro (15min)
Direção e montagem: Gabriel Martins e Maurílio Martins
2009
» Filme de sábado (18min)
Roteiro, direção e montagem: Gabriel Martins
» No final do mundo (5min)
Direção: Gabriel Martins
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