quinta-feira, 25 de julho de 2013

Janio de Freitas

folha de são paulo

Das ruas e de gabinetes


O consenso sobre as manifestações de rua foi de que repudiaram os políticos em geral e, no entanto, de repente vê-se uma concentração sobre um alvo individual, com efeitos imediatos. Mas, ainda veladas, e fora das ruas, há iniciativas para colher também outros personagens dos preparativos eleitorais em curso. Encoberto pela visita do papa Francisco, o ambiente político esquenta em torno de Sérgio Cabral, mas também de Eduardo Campos e Aécio Neves, para citar alguns que estão na roda.
No caso de Sérgio Cabral, o decreto desesperado com que pretendeu até violar o sigilo das comunicações pessoais, como tentativa de identificar ativistas das agitações de rua, reflete o quanto está abalado com o repentino desmoronar do plano para sua sucessão, na qual deixar o governo não significaria perda de poder e de proteção. Mesmo a nota oficial com intenção de atenuar o erro acentuou a evidência do aturdimento: nega o que está explicitado com clareza no decreto e oficializado por sua assinatura.
Eleger o sucessor é uma necessidade para Cabral, que fez uma coleção de adversários tendente a esmiuçar cada sombra do seu governo. Mas reconstruir-se como cabo eleitoral indispensável para uma vitória eleitoral de Luiz Fernando Pezão neste momento não cabe nem como divagação.
Apesar dos cuidados com que os meios de comunicação o cercam, no mínimo como prevenção contra Lindbergh Farias.
O assédio a Cabral, aliás, ofereceu a solução do problema que perturbava, no Rio, o comando do PT e a possível recandidatura de Dilma Rousseff. De um lado, os petistas percebem que Lindbergh pode, afinal, abrir uma oportunidade de que o PT consiga alguma coisa no Rio, depois de tanto esvaziamento. De outro, Cabral prometia combater essa possibilidade a ponto de ameaçar o apoio do PMDB do Estado a Dilma. Sua ameaça perdeu força.
O governador Eduardo Campos nega superfaturamento que justifique o pedido da Polícia Federal, ao Ministério Público, de inquérito sobre contrato entre o governo pernambucano e a empresa Ideia Digital. Mas o pedido não foi desmentido e, em princípio, se foi feito é por haver algo a passar por exame. E aí está o motivo de uma iniciativa política para movimentar, em futuro próximo, esse e outros assuntos, digamos, polêmicos do governador. Inclusive, e talvez sobretudo, de volta ao caso dos precatórios em que se viu envolvido quando secretário da Fazenda.
Aécio Neves é objeto de uma busca, jornalística ou política ou ambas, que seria relacionada com uma investigação ou já um processo de natureza fiscal -nenhum dos dois com existência confirmada. Além dos primeiros questionamentos a aparecerem sobre seu governo.
Com isso, as pretensões eleitorais começam a deixar a fase palavrória, devida mais à criatividade jornalística, e a entrar na de disputa mesmo. Com tudo o que de ruim há nesse longo processo.
DESUMANAS
Não satisfeitos com paralisar anteontem cirurgias, exames e atendimentos clínicos em 14 Estados, como hipotética forma de protestar contra a contratação de médicos estrangeiros, médicos militantes programam novas suspensões de suas atividades nos dias 30 e 31. Com a expectativa de aumentar o número de Estados aderentes.
Dado que a vinda de estrangeiros não será por culpa dos pacientes que, nas paralisações, sofrem, movem-se com dificuldade para chegar em vão aos hospitais, veem remarcadas para o infinito as suas cirurgias e consultas, eles merecem que sejam importados mais médicos para suprir as omissões da militância injusta.
Daniel Marenco/Folhapress
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e quintas-feiras.

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