Mudança de sinal
Desemprego tem primeira alta anual desde 2009 e constitui mais um sinal de esgotamento da política econômica do governo Dilma
São consistentes os sinais de deterioração da economia brasileira. Às evidências já conhecidas soma-se agora a taxa de desemprego, que, pela primeira vez desde 2009, apresenta uma alta em relação ao mesmo mês do ano anterior.
O dado negativo no mercado de trabalho é particularmente ruim na atual conjuntura, em que os indicadores de confiança na economia também têm constituído um quadro desalentador.
A confiança da indústria em julho, por exemplo, caiu 3,7 pontos em relação a junho e atingiu o menor nível em quase quatro anos. Não há grande novidade aí: a produção industrial encontra-se no mesmo patamar de 2008, e o setor tem sido o mais prejudicado nos últimos anos pela sobrevalorização do real diante do dólar e pelo choque interno de custos.
O indicador também tem diminuído pelo lado do consumidor, com especial velocidade no mês de julho. Trata-se de evidência de que as famílias passaram a desconfiar cada vez mais de seu poder de compra no futuro --aspecto reforçado pela piora da confiança quanto ao emprego atual, que teve queda de 11,4 pontos.
Componente essencial da dinâmica econômica, a confiança impulsiona a disposição de empresários e consumidores para investir e comprar. Sem ela, a demanda da economia cai. Inicia-se, com isso, um ciclo recessivo que a prejudica ainda mais, numa espiral viciosa.
É justamente nessa armadilha que caiu o governo federal ao conduzir a política econômica de forma errática e interferir, muitas vezes de forma autoritária, na dinâmica empresarial de vários setores.
O que ainda mantinha a esperança em uma recuperação era o mercado de trabalho. De fato, era algo surpreendente a resistência do emprego no cenário de baixo crescimento do PIB.
Pois agora o aparente paradoxo começa a se resolver --pelo lado ruim. A taxa de desemprego de junho, de 6%, ainda é, em si, baixa, mas a primeira elevação do índice (na comparação anual) desde agosto de 2009 indica mudança de tendência no mercado de trabalho.
É certo que as manifestações recentes contribuíram para a queda dos indicadores de confiança do consumidor, já que elas chamaram a atenção para diversos pontos de descontentamento. Não se descarta alguma melhora nesse item.
Quanto ao mercado de trabalho, porém, é improvável uma reversão. Por ser custoso contratar e demitir, o emprego é o último a sair da inércia diante de mudanças de cenário. Mas, uma vez em movimento, é difícil de parar.
EDITORIAIS
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Sobrevida de Assad
Com uma carta endereçada a senadores americanos, o general Martin Dempsey, chefe militar dos EUA, deixou evidente que deve ser descartada, ao menos por ora, uma intervenção militar na Síria.
Não chega a representar uma mudança de política para o país árabe, mas o documento assinado pelo chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas reforça os sinais de que os EUA já consideram a permanência prolongada do ditador Bashar al-Assad no poder.
O relatório do Pentágono é explícito ao afirmar que um ataque à Síria, além de caro, seria perigoso. Entre os riscos listados estão a dificuldade de evitar "um envolvimento mais profundo" e a possibilidade de "inadvertidamente auxiliar extremistas ou provocar o emprego de armas químicas".
Quanto aos custos, o general Dempsey é inequívoco. Opção menos arriscada, armar e treinar forças rebeldes na Síria, por exemplo, demandaria milhares de soldados americanos e consumiria, inicialmente, US$ 500 milhões anuais.
Ataques aéreos exigiriam centenas de aeronaves, navios e submarinos, com gastos bilionários e resultados questionáveis --segundo o general, Assad poderia resistir a essa investida.
Mesmo uma zona de exclusão aérea, alternativa menos agressiva, imporia aos Estados Unidos gastos mínimos de US$ 1 bilhão por mês --aplicados em aviões, equipamentos eletrônicos, inteligência-- e poderia ter efeito reduzido, uma vez que as forças do ditador atacam sobretudo por terra.
Confrontada com essas razões pragmáticas, às quais se somam o risco de baixas, a Casa Branca opta, compreensivelmente, por limitar sua atuação ao fornecimento de armas leves aos insurgentes sírios.
O impasse, no entanto, continua. Desde o início do conflito, em março de 2011, estima-se em 100 mil o número de mortos e em 1,4 milhão o total de refugiados.
Os EUA, que reconhecem as dificuldades de uma ação militar, deveriam centrar esforços na diplomacia a fim de convencer a Rússia --principal aliada da Síria-- a aumentar a pressão sobre Assad.
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