Más notícias, multiplicadas
É curioso como as más notícias se multiplicam, enquanto as boas diminuem. Suponho que a imprensa internacional tenha um novo bebê real no Reino Unido para mimar esta semana, e Londres abriga porção muito maior dela que o Rio de Janeiro. Mas boas notícias sobre a terra até há pouco celebrada pelo sol e samba são difíceis de encontrar, hoje, mesmo com a presença do papa Francisco na cidade.
Não ajuda que o modesto carro do papa tenha tomado o caminho errado, no percurso do aeroporto para a cidade, e encontrado uma multidão entusiástica e indisciplinada. E tampouco ajudou que a polícia tenha empregado armas de choque e gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes diante do Palácio Guanabara, onde o papa havia acabado de conversar com Dilma Rousseff e outros figurões brasileiros, em sua cerimônia de recepção.
Mas os desafios que o novo papa enfrenta no Brasil são óbvios. Enquanto em 1980, 89% da população se declarava católica, hoje apenas 57% dos brasileiros com idade acima dos 16 anos o fazem. A concorrência dos protestantes evangélicos é evidente em todo o Brasil.
Mas as manifestações de massa, os protestos populares e os tumultos nas ruas durante a Copa das Confederações só confirmaram a visão crescentemente negativa sobre o Brasil. O "Financial Times" refletiu o tom de boa parte da cobertura noticiosa internacional quando reportou esta semana que "enquanto o país cambaleia com os protestos, os brasileiros questionam se Rousseff tem a competência política necessária para liderá-los".
O "Financial Times" também apontou que "rumores sobre um retorno de Lula à presidência estão tomando conta de um Brasil abalado". A presidente Dilma Rousseff, acrescenta o jornal, que contava com 58% das intenções de voto ainda em março, no momento obteria apenas 30%, de acordo com pesquisas de opinião pública.
Nuvens escuras para a economia e política certamente existem no horizonte do Brasil. O ambiente econômico mundial é muito menos favorável do que vinha sendo nos últimos anos. A desaceleração na economia chinesa; os problemas continuados na zona do euro; a alta da inflação interna. Tudo isso é agravado pela incerteza quanto a um futuro político que até recentemente parecia decidido mas que agora é muito menos seguro. Os novos e os velhos líderes políticos estão muito conscientes do poder das multidões iradas.
O papa Francisco tem muito a fazer no Vaticano. Dilma Rousseff tem muito a fazer no Brasil. Os dois devem estar contemplando com ocasional inveja a novela no Reino Unido, onde a rainha Elizabeth ainda reina e os três próximos herdeiros ao seu trono já estão aguardando a vez.
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