Cabral precisa descobrir o Brasil
Governador do Rio atrai protestos porque espalha lorotas e explica-se insul-tando a inteligência alheia
Desde que o "Monstro" saiu às ruas, Cabral desafiou-o. Disse que "essas manifestações estão tendo um caráter, um ar político que não é espontâneo da população". (Na semana passada elas tinham o apoio de 89% dessa população.) Fabricada era a passeata que seu governo organizou para apoiá-lo na disputa pelos royalties do petróleo. Tinha cercadinho VIP e pulseirinhas para celebridades.
Cabral justificou seu uso privado de helicópteros públicos dizendo que "não sou o primeiro a fazer isso no Brasil". Esqueceu-se de dizer que não reincidirá no folguedo. Há duas semanas um carro da sua polícia atirou numa área onde havia manifestantes. Quem foi? Pfff. O prefeito de Miguel Pereira homenageou-o num evento cuja convocação dizia o seguinte aos beneficiários do programa "Renda Melhor": "O não comparecimento poderá resultar na perda do benefício. (...) Levem seus familiares". A prefeitura disse que foi um "equívoco". Sua assessoria esclareceu que não sabia de nada.
No seu pior momento, Cabral informou que "nesses atos de vandalismo tem a presença de organizações internacionais. (...) Sabemos que há organizações internacionais estimulando o vandalismo e o quebra-quebra". Em seguida criou uma comissão para apurar os atos de violência. Havia um casal que se declarou a serviço da Abin. A polícia disse que apreendeu 20 molotovs com um preso? Cadê ele? Vinte coquetéis com uma só pessoa? O único preso, com espalhafato, nada tinha a ver com a história. Salvou-se pedindo socorro à Mídia Ninja. Graças a ela e a um vídeo da TV Globo, sua inocência ficou estabelecida. Quem criou a patranha? No meio disso tudo, a PM prendeu um pedreiro na Rocinha, e ele sumiu. A polícia diz que ele desapareceu depois de ter sido liberado. Cadê o vídeo da sua saída da UPP? A câmera enguiçara na véspera.
A conexão da polícia do Rio e das milícias com barbarizações deveria assustar Cabral. Já houve época em que o submundo das meganhas carioca e federal se meteu em coisa parecida. Num caso, em setembro de 1980, a descrição da cena da explosão de uma banca de jornais na jurisdição da 28º DP chegou ao conhecimento do seu titular e do Palácio do Planalto. Sentaram em cima. Sete meses depois o governo explodiu no Riocentro.
Cabral pode não ter entendido o que está acontecendo no país, mas não se eximirá de ser cobrado pelo que acontece no seu governo.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e passava pela rua Pinheiro Machado quando viu o Palácio Guanabara praticamente cercado pela tropa de choque da Polícia Militar. Por cretino, não sabia o que era aquilo e perguntou a um peregrino o que acontecia. Ele lhe disse que as altas hierarquias dos governos municipal, estadual e federal estavam lá. O idiota foi em frente, convencido de que, com o cerco do Guanabara, o papa Francisco fizera seu primeiro milagre.
CUBATOUR
Boa notícia para o comissariado em geral e para o ministro Aldo Rebelo em particular. Está na reta final a negociação para a abertura de uma frequência de voos da Cubana de Aviación na rota Havana-São Paulo. No próximo Carnaval Aldo poderá ir para a ilha levando a família sem torrar tempo de voo dos jatinhos da FAB. Os companheiros poderão fumar a bordo, pois a Cubana não faz parte da Iata.
LULA NO SÍRIO
Há mais de quatro semanas a equipe médica que acompanha a saúde de Lula marcou um check-up rotineiro para o final deste mês ou início de agosto. Se e quando ele ocorrer, alimentará boatos, mas isso servirá apenas para confirmar que, enquanto a verdade é coisa difícil de se obter, todo boato é verdadeiro, pois, seja qual for, reflete um desejo de quem o passa adiante.
Nosso Guia quer que todas as informações sejam divulgadas.
CUIDADO
O comissariado do Itamaraty acredita que a viagem da doutora Dilma a Washington, em outubro, será um refrigério para sua popularidade. Se ela fizer discursos como o que leu para o papa, podem tirar a carruagem da chuva.
THOMAS REED ERA PODEROSO, LEMBRA DELE?
Na quinta-feira havia cerca de 900 mil pessoas na praia de Copacabana quando o papa Francisco pediu um momento de oração pela jovem Sophie Morinière, que morreu na Guiana Francesa a caminho da Jornada Mundial da Juventude. Fez-se tal silêncio que só se podia ouvir as ondas do mar. Essa mesma multidão silenciosa fazia um barulho estrondoso quando passava o papamóvel.
Esse homem capaz de mobilizar tanta alegria e esperança não tira sua força só da simplicidade e do sorriso. Afinal, a igreja está cheia de padres e bispos tristes. Antes dele, tristes foram Pio 12, Paulo 6º e Bento 16. Alegres, só João 23, João Paulo 1º e, em certos momentos, João Paulo 2º. A força de Francisco, e de todos os papas, vem da capacidade de acordar em todos sentimentos de solidariedade, misericórdia e, caso haja, de fé.
Muita gente vê nesses sentimentos simples banalidades que devem ser submetidas a lógicas superiores (e aí, cada um tem a sua). Para quem acha que ele só deixou palavras, vale a pena recordar um episódio ocorrido no final do século 19, quando um amigo entregou uma cópia de um texto do papa Leão 13 a Thomas Reed, presidente da Câmara dos Estados Unidos. Ele era um dos mais ricos, poderosos e brilhantes políticos da época, e respondeu: "Diante da enorme desimportância disso, fico sem palavras".
Leão 13 mudou o rosto da igreja com a encíclica Rerum Novarum, falando dos direitos e deveres do capital. E Reed? Quem se lembra dele?
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