domingo, 28 de julho de 2013

Mônica Bergamo

folha de são paulo

Renata Sorrah conta como envelhecer é um aprendizado difícil

Renata Sorrah, 66, moradora do Jardim Botânico, no Rio, anda "encantada" por São Paulo. "Sei que também tem violência, mas tô achando a cidade tão bonita", diz.
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E emenda elogios a duas figuras da cena cultural paulistana: o diretor do Sesc, Danilo Santos de Miranda, e o secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira.
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"O Danilo podia passar uma temporada no Rio, ficar uns dois anos lá", diz à repórter Lígia Mesquita. "E eu adoraria ter o Juca nosso secretário no Rio [risos]. Estamos muito carentes em toda essa parte cultural."
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No ar em "Saramandaia", Renata Sorrah se reinventa

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Leticia Moreira/Folhapress
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Aos 66 anos, a atriz diz que envelhecer é difícil: "Você tem que saber se inventar"
A atriz cita teatros do Rio que estão fechando. "O Gloria fechou... O Eike [Batista, dono do hotel Gloria] prometeu fazer outro e até agora nada." A carioca passou um mês e meio vindo toda semana para a capital paulista apresentar "Esta Criança", que ficou em cartaz até junho no Sesc Vila Mariana.
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A montagem da Cia. Brasileira de Teatro levou o Prêmio Shell de melhor cenografia, direção e iluminação e rendeu a Renata o de melhor atriz. "Acho muito bom ganhar prêmio. Tem gente que fala: 'Hum, prêmio?'. Eu acho um reconhecimento."
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O texto, do francês Joel Pomerat, fala de relações familiares. "O mundo tá tão moderno; as relações, virtuais. E a gente esquece essa celulazinha que é a familiar. Se você começa bem, se seu DNA tá bom, tá meio caminho andado", afirma.
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É nos palcos que ela busca novas famílias, atuando, na maioria das vezes, com grupos teatrais. "Comecei com o Amir Haddad [diretor teatral] no Tuca. E o Amir me falou: 'O teatro salva'."
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E ela, que chegou a cursar psicologia, concorda com o diretor. "O teatro me salvou, fez eu ser uma pessoa melhor. Não sei o que seria se não fosse atriz. Mas ele me ajudou a abrir minha cabeça, a ter compaixão pelo outro ser humano, a saber traduzir a vida pra mim", diz.
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Sempre procurou revezar o trabalho nos palcos com atuações na televisão. Muitas delas marcantes na história da teledramaturgia nacional, caso da alcoólatra Heleninha em "Vale Tudo" (1988) e da vilã Nazaré Tedesco em "Senhora do Destino" (2004).
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"Não tenho preconceito com a TV. É um trabalho para os atores", diz. "Sempre tive sorte. Nunca fiz algo que pensei: 'Ai, que horrível, não queria ter feito'. Claro que tem coisas que gosto mais, e outras que gostei um pouco menos, mas fiz bem."
Está no ar em "Saramandaia", novela das 23h da Rede Globo, como Leocádia, mãe de Gibão (Sergio Guizé), um rapaz que tem asas. "Estou adorando. É contra todo esse preconceito, esse bullying com pessoas diferentes", afirma ela, sobre os personagens que dão vida ao realismo fantástico da trama de Ricardo Linhares, inspirada em Dias Gomes. "Hoje todo mundo tem que ser igual, tem que se vestir igual, pensar igual. Então é legal você aceitar as diferenças."
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A atriz falou à coluna sobre outros temas como envelhecer, relações virtuais e a cultura das celebridades. A seguir, um resumo dos principais pontos.
ENVELHECER
Você aprende, assim como quando é criança, quando é adolescente. Todas as partes da vida são aprendizado. Você aprende a envelhecer também. Tem que aprender, senão não fica bom. Tô num ponto que é difícil. Tá ligado ao final. Quando você é adolescente, tem um caminho grande. Quando se tem mais de 60, você começa a ver que isso é finito, tem alguns amigos que morrem, tem seu pai com 99 anos.
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Tenho um neto de três anos, uma neta de um. É revigorante. Ainda quero trabalhar muito, fazer coisas legais.
PAPÉIS APÓS OS 50
O teatro é mais generoso [com as mulheres]. A TV e o cinema, não. Aí você começa a fazer as mães. Você tem que saber se inventar, inventar a vida. Não pode deixar a vida montar em cima de você, senão ela te maltrata. É você que monta nela, dá a direção.
VAIDADE
Tudo é aprender. Você vê fotos suas mais jovem e fala: "Como tava bonitinha". E eu nem me achava tão bem [risos]. Já fiz plástica nos olhos, mas agora decidi que não vou mais fazer.
CELEBRIDADES
Tem ator que gosta desse 'star system', dessa coisa de celebridade, de ser atriz o tempo inteiro. Eu acho que ser atriz é outra coisa, é minha profissão. Tenho orgulho, gosto, estudo. Mas isso não me dá glamour, nada.
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E há agora uma coisa tão engraçada, de as pessoas normais quererem ser celebridades. Acho uma maluquice essa coisa de "quero aparecer, ser celebridade por um dia".
PRIVACIDADE
Não gosto e nunca deixei muito [invadirem a minha privacidade]. Nossa vida é tão boa quando tem um charme, uma coisa que é só sua, acho essencial. Não existe disposição maior do que você estar no palco. Ali podem me devastar, escanear. Mas, fora dele, não. É a minha vida, são as minhas coisas; tenho minha casa, meus amores, meus amigos, meus netos.
SÓ NO VIRTUAL
Tenho um pouco de medo dessas relações virtuais. Por isso, cada vez gosto mais do teatro. Tenho medo dessa solidão das pessoas em frente a um computador. Vejo às vezes em restaurante casais que não conversam, cada um com seu iPhone ou seu tablet. Acho um pouco assustador, não sei no que isso vai dar.
CINEMA
Eu tenho vontade de fazer mais cinema [seu último filme foi "Árido Movie", de Lírio Ferreira, em 2006].
Folha - Você já contou que o recado na sua secretária eletrônica era em alemão porque esperava que um dia o diretor Wim Wenders ligasse para você. Hoje de quem espera um telefonema?
Um Woody Allen, um Stephen Daldry. Mas sabe quem eu gostaria mesmo? O Karim Ainouz [cineasta cearense]. Eu fiz uma pequena participação em "Madame Satã" [2002], adoro ele.
LEI ROUANET
Acho que a lei hoje em dia é às vezes mal usada. Para coisas que você fala: "Não é possível". A lei é boa, mas precisa ser revista. Pra quem dar, como dar. E o Norte do país? Os artistas de lá têm as mesmas oportunidades que nós aqui do Sul temos?
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Será que tem que ter Lei Rouanet pra fazer livro de final de ano de empresa? Aí não acho bacana. Mas, pra montar espetáculo, é.
Folha - E o que acha de musicais que captaram dinheiro com a lei e cobram R$ 300 o ingresso?
Acho uma loucura. Se você ganha incentivo fiscal público, se está usando dinheiro público, o ingresso tem que ser barato. Custar muito caro fica muito elitista.
DILMA ROUSSEFF
Foi minha candidata, em quem votei. Gosto dela.
Mônica Bergamo
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

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