Pesquisadores do Departamento de Química da UFMG são premiados pela Petrobras por apresentarem inovação para processo de extração do "ouro negro"
Tiago de Holanda
Estado de Minas: 29/07/2013
Realizados por alunos e professores do Departamento de Química da instituição, os dois trabalhos estão entre os ganhadores, na categoria Graduação, da 6ª edição do Prêmio Petrobras de Tecnologia, destinado a trabalhos desenvolvidos em instituições de ensino superior. Um deles, agraciado no tema “Tecnologia de perfuração e produção”, foi executado pelos estudantes Igor Tadeu da Cunha, de 21 anos, e Ivo Freitas Teixeira, de 23, orientados pelo professor Rochel Monteiro Lago. O outro, condecorado no tema “Tecnologia de preservação ambiental”, foi tocado por Nathalia Tavares Costa, de 24, sob a coordenação de Luiz Carlos Alves de Oliveira.
Igor e Ivo tentaram achar uma solução para uma das maiores dores de cabeça do setor: a corrosão dos tubos de metal usados para coletar o petróleo nas reservas subterrâneas e transportá-lo até o local onde é limpo e refinado, etapa necessária para a produção dos derivados. “Todos os anos, o Brasil gasta mais de US$ 8 bilhões para reverter os efeitos da corrosão e as petrolíferas são as indústrias mais prejudicadas”, conta Ivo. A dupla de estudantes e o professor criaram um composto que vem se mostrando capaz de transformar em uma substância não prejudicial aos seres vivos os átomos de enxofre presentes nos poços e considerados os agentes que mais atacam os tubos.
VULCÕES A inspiração dos rapazes foi um tanto exótica. Lendo pesquisas estrangeiras, eles descobriram que há duas bactérias de nomes quase impronunciáveis (Wolinella succinogenes e Rhodobacter capsulatus), encontradas nas cercanias de vulcões. Elas produzem enzimas que fazem o sulfeto (combinação de enxofre e outro elemento químico) exalado das imensas estruturas geológicas virar cadeias de sulfetos. Esses grupos, também chamados polisulfetos, não são corrosivos e podem ser facilmente absorvidos pela natureza, já que o oxigênio do ar os transforma no inerte sulfato. O mesmo fim é alcançado por um compósito criado pelos pesquisadores mineiros.
“Descobrimos que a enzima produzida pelas bactérias é muito semelhante ao grupo quinona, um anel feito de átomos de carbono ligado a átomos de oxigênio”, explica Ivo. A dupla juntou uma matéria orgânica formada por esses elementos ao pó de um mineral, a magnetita, e depois inseriu a mistura em um forno, aquecido a temperatura elevada, entre 400 e 800 graus. O resultado foi que aglomerados de carbono, como minúsculas ilhas, se colaram à superfície do pó. Nos testes em laboratório, esse material foi misturado ao sulfeto de sódio, uma das substâncias presentes no petróleo. Em solução, o compósito criado na UFMG capturou elétrons dos átomos de enxofre, fazendo-os se unirem e formarem as inofensivas cadeias.
Uma próxima fase da pesquisa será aplicar o compósito ao sulfeto de hidrogênio, mais conhecido como ácido sulfídrico, e, posteriormente, ao petróleo. Uma das propostas é grudar o pó de magnetita às paredes da tubulação que transporta o “ouro negro”, desde o início de sua extração. Se tudo ocorrer conforme o esperado, as ilhas de carbono funcionarão como antenas, os elétrons atraídos serão armazenados pela magnetita e, mais tarde, capturados pelos átomos de hidrogênio, o que permitirá o surgimento do gás hidrogênio, não corrosivo. “Nos experimentos, conseguimos ver a quantidade de polisulfetos criados e a velocidade com que isso ocorreu”, diz o estudante Ivo Teixeira.
No entanto, um dos problemas observados foi a perda de eficiência do composto de magnetita, mais enfraquecido a cada aplicação. “O compósito perdeu cerca de 20% da eficácia a cada uso, o que fez com que ficasse desativado após cinco usos”, destaca. Ainda é preciso averiguar a possibilidade de vencer essa adversidade. “Entre um uso e outro, acredito que possamos fazer um tratamento na substância e regenerá-la completamente, mas ainda não testamos isso”, acrescenta o estudante. Outros aperfeiçoamentos precisam ser investigados. “Temos que descobrir quais as melhores condições de preparo do compósito e como aplicá-lo numa carga real de petróleo. Uma coisa é fazer teste em pequena escala, outra é mexer com bilhões de litros”. Ambos os projetos da UFMG são financiados pela Petrobras, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
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