segunda-feira, 29 de julho de 2013

Raul Juste Lores

folha de são paulo
Nos EUA, 'clones' de séries amargam vida curta
'Smash', produzida por Spielberg, tentou sem sucesso surfar na onda da musical 'Glee'
RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTONSteven Spielberg como produtor e dono da ideia original, um orçamento de superprodução de US$ 4 milhões por episódio e Anjelica Houston e Debra Messing (de "Will e Grace") no elenco.
A série "Smash" tinha tudo para dar certo, mas virou um grande fracasso na competitiva TV americana, em que os canais abertos, menos afeitos a riscos do que os pagos, reproduzem fenômeno já visto no cinema comercial: o lançamento (invariavelmente malsucedido) de derivados de um único sucesso.
"Smash" quis ser o "Glee" adulto. Vendeu-se como uma série sobre o nascimento de estrelas da Broadway, com números musicais inspirados na música pop.
Depois da audiência decepcionante da primeira temporada, Spielberg trocou produtores, roteiristas e parte do elenco (escalando até a vencedora do Oscar Jennifer Hudson), além de tentar imitar o sucesso "Girls" --o novo musical da trupe era ensaiado no Brooklyn, com "hipsters" de butique. Os poucos espectadores que tinham restado trocaram de canal. (Essa segunda leva é exibida atualmente no Brasil às terças, no Universal.)
O fenômeno se repetiu com "The New Normal", série sobre um casal gay que contrata uma barriga de aluguel para ter um filho (versão sem graça do sucesso "Modern Family") e "1600 Penn", comédia de risos amarelos sobre a vida na Casa Branca, que casava "Family" e bastidores de Washington, à la "Veep".
Nenhuma das duas terá um segundo ano. Séries com vampiros e mortos-vivos que tentam pegar carona em sucessos como "True Blood" e "The Walking Dead" tampouco convenceram.
NASCE UMA ESTRELA
"Smash" até parte de uma boa premissa: a criação de um musical contando a vida de Marilyn Monroe (1926-1962). Ao mostrar a seleção da atriz que dará vida à mítica protagonista, radiografa o surgimento de uma diva --as inseguranças, trapaças, assédios e a bajulação que rondam uma nova estrela.
Com atores vindos da Broadway, recebeu ótimas críticas nos primeiros episódios e teve bom ibope. Mas diversas subtramas novelescas, com adultos infantilizados --especialidade de Spielberg--, acabaram tirando o foco do que interessava. O público pediu o ingresso de volta.
Quando a Folha visitou as filmagens em Nova York, Messing não disfarçava a frustração, e a grande Huston, pouco diva e comemorando a mudança para a cidade depois de anos na Califórnia, perguntava ao repórter se ele queria comer algo.
Se tivesse chegado à terceira temporada, talvez "Smash" fosse transplantada para Washington, cenário dos atuais sucessos "House of Cards" e "Scandal", o que nos obrigaria a espiar deputados e lobistas sapateando. Por sorte, não será necessário.

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