Vilhena Soares
Estado de Minas: 04/07/2013
Não se estresse! O
conselho, repetido frequentemente em prol da saúde, corre o risco de
cair em desuso. É que a temível tensão, em estado moderado, pode fazer
bem ao organismo, segundo um estudo da Universidade de Berkeley, na
Califórnia (EUA). Nessa condição, ela ajuda no estado de alerta e
estimula células responsáveis pela memória. A descoberta é positiva para
estudos neurológicos, que, a partir dela poderão desenvolver novos
tratamentos para distúrbios emocionais.
Segundo os pesquisadores, os seres humanos precisam dessa reação do corpo para sobreviver. “O estresse é um grande mediador do comportamento dos mamíferos. A resposta adequada a uma reação de estresse percebido facilita a sobrevivência e a propagação da espécie” explica Daniela Kaufer, uma das integrantes do estudo, publicado no jornal Elife.
Para comprovar essa teoria, os estudiosos realizaram um experimento com ratos. Os animais foram isolados em laboratório e passaram por situações desconfortáveis, como choques nas patas, imobilização dentro de sacos e permanência em ambientes estranhos em posições desconfortáveis. Depois de submeter as cobaias a essas etapas de desconforto, os cientistas identificaram nos animais o aumento de um hormônio semelhante ao cortisol, que, em humanos, está relacionado a respostas ao estresse.
Depois de 14 dias, outros testes foram feitos nos ratos e os pesquisadores perceberam que houve também uma ativação de neurônios recém-nascidos. “Duas semanas depois do estresse agudo, a constatação desses neurônios novos mostra que os ratos tiveram melhora na região relacionada à memória. Nossos resultados sugerem um papel benéfico para esse estresse breve sobre o hipocampo, que também é capaz de melhorar a compreensão da capacidade de adaptação do cérebro”, explica, no estudo, Daniela.
Trabalhos anteriores já apontavam o estresse como algo benéfico e serviram de base para o novo estudo americano. “Pesquisas recentes com macaco-esquilo adulto mostram que lidar com o estresse social estimula a neurogênese adulta (processo de formação de novos neurônios) e melhora a memória”, explica a neurocientista. “Esses trabalhos, em conjunto com os nossos resultados, evocam a possibilidade de que o estresse agudo possa ser benéfico para a saúde do cérebro e em particular no hipocampo”, complementa Daniela, no texto divulgado.
Instinto A reação ao estresse é uma sensação que existe desde os primórdios. Segundo o neurologista Maurice Vincent, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esse fenômeno fisiológico beneficia os seres humanos ao protegê-los de perigos latentes. “O conjunto de alterações que caracteriza o estresse se instala a partir de uma ameaça ao animal como decorrência de uma interação entre o cérebro e o corpo diante da percepção de um grande perigo”, explica.
O especialista detalha que a origem dessa reação está ligada ao hipotálamo, região do cérebro observada pelos cientistas do estudo americano. “A principal alteração no sistema nervoso central é a ativação do chamado eixo hipotálamo-hipofisário e do sistema nervoso autônomo, reação mediada por hormônios liberados agudamente, principalmente os chamados hormônios glicocorticoides, como o cortisol, citado nesse estudo “, define o especialista.
Vincent destaca também que o estresse positivo só passa a ser prejudicial em excesso, quando deixa de ser agudo e passa a ser crônico. “Os seres humanos podem se expor a períodos prolongados de atividade elevada dos mesmos sistemas cerebrais que nos ajudam a sobreviver a esses desafios mais agudos. Essa exposição surge com o desenvolvimento de ansiedade e pode ser decorrente da exposição constante a ambientes hostis, como ruído constante, pressões pessoais no trabalho ou na família, entre outros. O estresse crônico, ao contrário do agudo, causa problemas de saúde a longo prazo”, compara Vincent.
Neurocientista da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Tomaz também indica pontos positivos da pesquisa americana. “O que é mais importante ressaltar nesse estudo é como o estresse desencadeia reações no organismo, os eventos neurológicos, porque, assim, poderemos evoluir nas pesquisas”, explica o especialista. “Com base nesse conhecimento, seria possível desenvolver, no futuro, medicamentos e terapias que eventualmente pudessem aumentar a resistência ou facilitar algumas respostas de memória para situações estressantes.” Segundo Tomaz, essas descobertas poderiam ser utilizadas em tratamentos de distúrbios como o estresse pós-traumático, comum em veteranos de guerra e em sobreviventes de tragédias.
Os pesquisadores americanos dizem estar otimistas com os resultados alcançados até o momento, mas eles pretendem avançar no estudo e conseguir desvendar todo o processo do estresse no organismo humano. “Em níveis mais moderados, o estresse agudo pode realmente melhorar a função da memória em ratos. Mais pesquisas serão necessárias para definir com maior precisão os limites desse processo e definir melhor o parâmetro de estímulo necessário do estresse agudo para que ele ocorra de forma eficaz”, diz Daniela Kaufer.
Saiba mais
REAÇÃO AO PERIGO
A interação entre o estresse e o hipocampo é também fundamental para a sobrevivência, já que essa área do corpo está ligada à memória. Existe uma concentração elevada de receptores para glicocorticoides (uma classe de hormônios esteroides caracterizada pela habilidade de se ligar com o receptor de cortisol) no hipocampo e em outras regiões envolvidas com o processamento das emoções. Cientistas acreditam que o estresse agudo leve à ativação do hipocampo durante uma situação de ameaça porque o animal necessita lembrar-se exatamente do local e das circunstâncias relacionadas àquele perigo e não se expor novamente ao mesmo risco. Os seres humanos também se lembram de detalhes relacionados a essas situações. Por exemplo: vítimas de crimes relatam à polícia detalhes tão claros dos agressores que permitem o desenvolvimento de retratos falados.
Questão de exposição
Entenda o que difere o estresse que faz e o que faz mal à saúde
O que é?
O estresse pode ser causado por razões físicas, psicológicas ou sociais. É gerado por um conjunto de reações fisiológicas que,
ao ser levadas ao exagero e em longa duração, podem resultar em um desequilíbrio do organismo.
Estresse agudo
É aquele ligado a situações traumáticas, mas passageiras, como a morte de um parente. Ele é intenso e curto. De acordo com os médicos, é benéfico, já que nos ajuda em situações em que a sobrevivência está em risco. Quando um animal se vê diante de um predador, por exemplo, o estresse pode salvá-lo. Essa reação é chamada de resposta ight-or-flight (lutar ou fugir). Prepara
o corpo para a fuga ou para o embate.
Estresse crônico
É causado pela exposição constante a ambientes hostis, como barulhos ltos e frequentes, poluição, conflitos essoais permanentes, pressões essoais no trabalho ou na família, ntre outros. Ao contrário do agudo, ausa doenças a longo prazo, como soríase, infecções causadas or baixa imunidade e enxaqueca.
Segundo os pesquisadores, os seres humanos precisam dessa reação do corpo para sobreviver. “O estresse é um grande mediador do comportamento dos mamíferos. A resposta adequada a uma reação de estresse percebido facilita a sobrevivência e a propagação da espécie” explica Daniela Kaufer, uma das integrantes do estudo, publicado no jornal Elife.
Para comprovar essa teoria, os estudiosos realizaram um experimento com ratos. Os animais foram isolados em laboratório e passaram por situações desconfortáveis, como choques nas patas, imobilização dentro de sacos e permanência em ambientes estranhos em posições desconfortáveis. Depois de submeter as cobaias a essas etapas de desconforto, os cientistas identificaram nos animais o aumento de um hormônio semelhante ao cortisol, que, em humanos, está relacionado a respostas ao estresse.
Depois de 14 dias, outros testes foram feitos nos ratos e os pesquisadores perceberam que houve também uma ativação de neurônios recém-nascidos. “Duas semanas depois do estresse agudo, a constatação desses neurônios novos mostra que os ratos tiveram melhora na região relacionada à memória. Nossos resultados sugerem um papel benéfico para esse estresse breve sobre o hipocampo, que também é capaz de melhorar a compreensão da capacidade de adaptação do cérebro”, explica, no estudo, Daniela.
Trabalhos anteriores já apontavam o estresse como algo benéfico e serviram de base para o novo estudo americano. “Pesquisas recentes com macaco-esquilo adulto mostram que lidar com o estresse social estimula a neurogênese adulta (processo de formação de novos neurônios) e melhora a memória”, explica a neurocientista. “Esses trabalhos, em conjunto com os nossos resultados, evocam a possibilidade de que o estresse agudo possa ser benéfico para a saúde do cérebro e em particular no hipocampo”, complementa Daniela, no texto divulgado.
Instinto A reação ao estresse é uma sensação que existe desde os primórdios. Segundo o neurologista Maurice Vincent, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esse fenômeno fisiológico beneficia os seres humanos ao protegê-los de perigos latentes. “O conjunto de alterações que caracteriza o estresse se instala a partir de uma ameaça ao animal como decorrência de uma interação entre o cérebro e o corpo diante da percepção de um grande perigo”, explica.
O especialista detalha que a origem dessa reação está ligada ao hipotálamo, região do cérebro observada pelos cientistas do estudo americano. “A principal alteração no sistema nervoso central é a ativação do chamado eixo hipotálamo-hipofisário e do sistema nervoso autônomo, reação mediada por hormônios liberados agudamente, principalmente os chamados hormônios glicocorticoides, como o cortisol, citado nesse estudo “, define o especialista.
Vincent destaca também que o estresse positivo só passa a ser prejudicial em excesso, quando deixa de ser agudo e passa a ser crônico. “Os seres humanos podem se expor a períodos prolongados de atividade elevada dos mesmos sistemas cerebrais que nos ajudam a sobreviver a esses desafios mais agudos. Essa exposição surge com o desenvolvimento de ansiedade e pode ser decorrente da exposição constante a ambientes hostis, como ruído constante, pressões pessoais no trabalho ou na família, entre outros. O estresse crônico, ao contrário do agudo, causa problemas de saúde a longo prazo”, compara Vincent.
Neurocientista da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Tomaz também indica pontos positivos da pesquisa americana. “O que é mais importante ressaltar nesse estudo é como o estresse desencadeia reações no organismo, os eventos neurológicos, porque, assim, poderemos evoluir nas pesquisas”, explica o especialista. “Com base nesse conhecimento, seria possível desenvolver, no futuro, medicamentos e terapias que eventualmente pudessem aumentar a resistência ou facilitar algumas respostas de memória para situações estressantes.” Segundo Tomaz, essas descobertas poderiam ser utilizadas em tratamentos de distúrbios como o estresse pós-traumático, comum em veteranos de guerra e em sobreviventes de tragédias.
Os pesquisadores americanos dizem estar otimistas com os resultados alcançados até o momento, mas eles pretendem avançar no estudo e conseguir desvendar todo o processo do estresse no organismo humano. “Em níveis mais moderados, o estresse agudo pode realmente melhorar a função da memória em ratos. Mais pesquisas serão necessárias para definir com maior precisão os limites desse processo e definir melhor o parâmetro de estímulo necessário do estresse agudo para que ele ocorra de forma eficaz”, diz Daniela Kaufer.
Saiba mais
REAÇÃO AO PERIGO
A interação entre o estresse e o hipocampo é também fundamental para a sobrevivência, já que essa área do corpo está ligada à memória. Existe uma concentração elevada de receptores para glicocorticoides (uma classe de hormônios esteroides caracterizada pela habilidade de se ligar com o receptor de cortisol) no hipocampo e em outras regiões envolvidas com o processamento das emoções. Cientistas acreditam que o estresse agudo leve à ativação do hipocampo durante uma situação de ameaça porque o animal necessita lembrar-se exatamente do local e das circunstâncias relacionadas àquele perigo e não se expor novamente ao mesmo risco. Os seres humanos também se lembram de detalhes relacionados a essas situações. Por exemplo: vítimas de crimes relatam à polícia detalhes tão claros dos agressores que permitem o desenvolvimento de retratos falados.
Questão de exposição
Entenda o que difere o estresse que faz e o que faz mal à saúde
O que é?
O estresse pode ser causado por razões físicas, psicológicas ou sociais. É gerado por um conjunto de reações fisiológicas que,
ao ser levadas ao exagero e em longa duração, podem resultar em um desequilíbrio do organismo.
Estresse agudo
É aquele ligado a situações traumáticas, mas passageiras, como a morte de um parente. Ele é intenso e curto. De acordo com os médicos, é benéfico, já que nos ajuda em situações em que a sobrevivência está em risco. Quando um animal se vê diante de um predador, por exemplo, o estresse pode salvá-lo. Essa reação é chamada de resposta ight-or-flight (lutar ou fugir). Prepara
o corpo para a fuga ou para o embate.
Estresse crônico
É causado pela exposição constante a ambientes hostis, como barulhos ltos e frequentes, poluição, conflitos essoais permanentes, pressões essoais no trabalho ou na família, ntre outros. Ao contrário do agudo, ausa doenças a longo prazo, como soríase, infecções causadas or baixa imunidade e enxaqueca.
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