Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
lança disco dedicado a Schubert e anuncia mais dois com peças de
Villa-Lobos. Fabio Mechetti quer dobrar o número de concertos a partir
de 2015
Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 04/07/2013
A Orquestra Filarmônica de Minas
Gerais aproveita o concerto de hoje à noite, no Palácio das Artes, para
vender o peixe de seu primeiro disco comercial, que traz a Sinfonia nº 9
em dó maior, D. 944 (conhecida como “A grande”), do austríaco Franz
Schubert. Ao final da apresentação, cujo repertório homenageia o
bicentenário dos compositores Giuseppe Verdi e Richard Wagner, o público
poderá comprar o CD. Paralelamente, estão a caminho dois álbuns
dedicados à obra de Heitor Villa-Lobos e produzidos em parceria com o
selo Naxos, referência internacional em música clássica. Um deles será
lançado ainda este ano.
Para uma orquestra, a gravação de um
disco tem significado bem diferente em relação à realidade dos artistas
da música popular. Os próprios regentes não chegam ao consenso, como
fica claro na contraposição das ideias do romeno Sergiu Celibidache e do
austríaco Herbert von Karajan: o primeiro se recusou a gravar por
acreditar que tal processo é incompatível com o ato espontâneo e único
de fazer música; o segundo perseguiu a perfeição sonora ao registrar
praticamente todo o repertório sinfônico tradicional.
Para o
maestro paulistano Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular
da filarmônica, o disco funciona como retrato da evolução da orquestra,
criada em 2008 e composta por músicos brasileiros e estrangeiros. “O CD
já é algo ultrapassado, mas importante para tornar mais acessíveis as
performances do grupo. No futuro, queremos permitir que esse acesso se
dê por download pago”, adianta. Isso seria viabilizado a partir de 2015,
quando será inaugurada a sede da orquestra, na futura Estação da
Cultura Presidente Itamar Franco, no Barro Preto, na capital mineira.
O
quarto disco da filarmônica será gravado lá, pois o espaço foi
projetado especificamente para comportar a orquestra. Os anteriores se
valeram do desafio de encontrar local adequado para a tarefa. No caso
dos dois CDs que sairão pelo selo Naxos, um registro se deu no Grande
Teatro do Palácio das Artes e o outro num teatro da cidade vizinha de
Ibirité. “É impossível achar local em Belo Horizonte que tenha
silêncio”, reclama Mechetti. Na segunda gravação, músicos e maestro
foram interrompidos diversas vezes pelo barulho do trem de carga.
O
repertório do álbum dedicado a Schubert, explica o regente, fez parte
do programa da orquestra no ano passado. “Quisemos mostrar a competência
do grupo e nessa peça se vê isso. A sinfonia é conhecida, o que torna
mais fácil a venda do CD”, explica Mechetti. A primeira prensagem terá
duas mil cópias. “Gravação de música clássica é quase o oposto de música
popular. A Naxos, por exemplo, não quer o que se tornou muito
conhecido. Além disso, as prioridades estão na qualidade sonora e
artística, bem como na relevância para as orquestras, criando arquivo
que valorize a história de cada uma”, afirma o regente.
Expectativa
Fabio
Mechetti revela que os concertos regulares (24, atualmente) serão
dobrados quando a orquestra estiver em sua sede definitiva. “Isso vai
facilitar muito a nossa vida e nos dará plenas condições de trabalho.
Vamos tocar mais vezes e de forma mais regular. Poderemos ter mais
opções de assinatura e de concertos especiais. Atualmente, ficamos
dependentes da agenda do Palácio das Artes”, explica. Além disso, as
repetições de concertos não apenas contribuirão para o aprimoramento
artístico, mas também ajudarão a reduzir custos.
“Os dados
mostram que o número de assinantes de nossas temporadas aumenta todos os
anos. Os concertos estão sempre lotados. Há interesse de Belo Horizonte
por nosso trabalho. O momento é ótimo, mas temos de reconhecer que há
muito a ser feito. Todas as grandes orquestras do mundo têm 100 anos. Em
termos de crescimento interno, haverá grande salto em 2015, com a nossa
nova sala”, conclui.
Aliança estratégica
Assim
como Fabio Mechetti, outros regentes são otimistas em relação à
possibilidade de ampliar a cena da música clássica em Belo Horizonte. “A
cidade comporta até mais orquestras. O grande problema é a divulgação.
Poderíamos ter duas salas cheias para ouvir grupos num mesmo dia. Quando
o evento é bastante divulgado, o público comparece”, diz Marco Antônio
Maia Drumond, fundador e regente titular da Orquestra de Câmara
Sesiminas.
Colaborações entre orquestras e artistas populares são
importantes para formação de público. Drumond anuncia dois projetos do
gênero: um com a banda Jota Quest (10 shows em setembro) e outro com
Skank (ano que vem), fora a turnê com o pianista Arthur Moreira Lima
pelo interior mineiro a partir deste mês. Nesse sentido, vale lembrar o
projeto Sinfônica pop, com artistas da MPB e Orquestra Sinfônica de
Minas Gerais. Wagner Tiso, Zizi Possi, Nana Caymmi e João Bosco foram
alguns dos convidados.
Miniturnê
O
concerto de hoje da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais terá regência
de Fabio Mechetti e a pianista Lilya Zilberstein como solista convidada.
O repertório reúne As vésperas sicilianas: abertura (Verdi), Concerto
para piano nº 3 em dó maior, op. 26 (Prokofieff), O navio fantasma:
abertura (Wagner) e O cavaleiro da rosa, op. 59: suíte (Strauss). O
grupo repetirá o programa no interior paulista: apresenta-se em Campos
do Jordão (amanhã, no Auditório Claudio Santoro) e em Paulínia (sábado,
no Theatro Municipal). A convidada acompanhará a minitemporada.
SÉRIE ALLEGRO
Concerto
da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Regência: Fabio Mechetti.
Convidada: Lilya Zilberstein (piano). Hoje, às 20h30, no Grande Teatro
do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$
60 (plateia 1), R$ 46 (plateia 2) e R$ 30 (plateia superior).
Meia-entrada para estudantes e maiores de 60 anos, mediante comprovação.
Informações: (31) 3236-7400.
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