sábado, 13 de julho de 2013

Histórias da Bahia - Ailton Magioli

Dori, Nana e Danilo Caymmi antecipam comemoração do centenário do pai, Dorival, com CD que faz um passeio pelo repertório do compositor, com direito a fado pouco conhecido


Ailton Magioli

Estado de Minas: 13/07/2013 


Faltam 291 dias para o centenário de nascimento de Dorival Caymmi (1914-2008), como fazem questão de lembrar os filhos Nana, de 72 anos, Dori, de 69, e Danilo Caymmi, de 65. A Copa do Mundo e as eleições do ano que vem, no entanto, contribuem para eles anteciparem as comemorações da data – 30 de abril de 2014, oficialmente – inaugurando a agenda de eventos com o lançamento do CD Nana, Dori e Danilo – Caymmi, pela Som Livre.

Produto da nova incursão de Dori – responsável por arranjos e produção – na obra do pai, o disco tem parte do repertório inspirada no livro O cancioneiro da Bahia, de 1947, além de outras publicações que abordam a consagrada música de Dorival Caymmi. Com prefácio de Jorge Amado, a publicação é considerada o primeiro songbook de que se tem notícia no Brasil, reunindo histórias da Bahia presentes nas canções praieiras e sambas do mestre, além de nas canções recolhidas por ele do folclore.

“Pesquisei para ver o que meu pai não havia gravado”, diz Dori, citando apenas Roda pião, gravada agora no disco por ele e Danilo, além de Fiz uma viagem, que Danilo gravou sozinho. “A MPB anda muito malvista”, constata Dori Caymmi, acusando “o surgimento de uma geração com pouca brasilidade, mais ligada aos meios eletrônicos e às coisas que vêm de fora”.

Se por um lado as cantigas de Dorival mantêm a magia, graças à temática baiana, por outro o mestre surpreende em criações como o fado Francisca Santos das Flores, oportunamente resgatado pelo novo disco da família. “Nana ficou tão empolgada na gravação que saiu dando uma de Amália Rodrigues”, diz, emocionado, Dori, admitindo que a pegada portuguesa que a irmã deu à canção – um dos mais belos momentos do disco – foi muito espontânea.

Além desta, no disco Nana ainda canta História pro sinhozinho, os pot-pourris Modinha para Teresa Batista/Vamos falar de Teresa (com os irmãos Danilo e Dori Caymmi), e Sereia e Rainha do mar/Cantiga de cego (com os mesmos) e A mãe d’água e a menina. Já Danilo e Dori vão de Quando eu durmo /Balaio grande, além de Caminhos do mar, Itapoã e Roda pião. “O disco é apenas o começo”, avisa Dori, que cultiva planos de novas homenagens ao pai no decorrer do ano do centenário.

SEM INVENTAR
Às vésperas de voltar a Los Angeles (EUA), onde vive, o arranjador, cantor, compositor e produtor lembra que vem se dedicando às partituras do pai, por meio das quais a família deverá chegar a outros produtos comemorativos à data, tais como livros e shows, além de discos. A propósito de Nana, Dori e Danilo – Caymmi ele garante que tudo foi feito dentro do respeito da visão que o próprio Caymmi tinha de sua obra. “Sem inventar, mas, claro, com arranjos mais modernos”, pondera Dori.

Debruçado sobre o projeto desde o fim do ano passado, Dori Caymmi diz que ele foi achando o violão adequado para cada canção do disco, inspirando-se para tanto desde em O cancioneiro da Bahia até outras publicações dedicadas à obra de Dorival Caymmi. No disco, os herdeiros lançam um novo olhar sobre canções menos conhecidas do pai, algumas das quais datadas dos anos 1940.

Reprodução de um autorretrato de Dorival Caymmi, pintado pelo próprio músico, a capa do CD já dá ideia de seu conteúdo, com direito à reprodução de vários quadros pintados por ele no encarte. Entre as parcerias, destaque para as feitas com o escritor baiano Jorge Amado. A começar de Modinha para Tereza Batista, especialmente criada pelos dois para a minissérie Tereza Batista, da TV Globo.

 Outra parceria de Caymmi e Amado é Retirantes, que fez parte da trilha da novela Escrava Isaura. Dori faz questão de lembrar que a escolha recaiu sobre as lembranças de infância dos filhos, que jamais esquecem, por exemplo, da mãe Stella Maris Caymmi cantarolando pela casa o fado Francisca Santos das Flores. Depois de São Paulo, onde foi oficialmente lançado, o show do disco deverá viajar em turnê pelo país.


Nana por inteiro
Kiko Ferreira




O Rio de Janeiro que aparece nas cenas iniciais de Rio sonata, filme do franco-suíço George Gachot, tem sombras, nuvens e a mesma bela gravidade da voz da personagem retratada. Densa como a neblina do voo rasante da primeira cena, Nana Caymmi recebe homenagem tão positivamente passional quanto a de outra brasileira retratada por Gachot, Maria Bethânia, no cintilante Música é perfume, de 2005.

Reunindo 32 músicas do repertório atemporal de Nana, com participações de estrelas como Milton, Bethânia, Gilberto Gil, Tom Jobim, João Donato, Erasmo Carlos, Mart’nália, Sueli Costa e o irmão Dori Caymmi, o documentário é fiel à personalidade da filha de Dorival Caymmi, que faz uma aparição menor.

O filme, cuja produção despendeu cerca de seis anos de produção, foi gravado durante os últimos anos de vida dos pais da cantora. E chegou ao público depois que a primeira versão, devidamente apresentada a Nana e Bethânia, responsável pelo lançamento em DVD por seu selo Quitanda, foi reeditada, por questões artísticas do diretor e dificuldades com liberação de direitos autorais de algumas imagens.

Exuberante como as paisagens que intercalam os números musicais, Nana aparece com seus rompantes de sinceridade (como quando diz não entender nem nunca ter cantado repertório da Tropicália e ao criticar a produção musical recente), seus palavrões, sua paixão pelo canto clássico. E até quando não economiza elogios à própria performance: “Eu me adoro cantando”, enquanto cantarola durante uma carteado com amigos, em que se pode ver a assessora de imprensa e divulgadora Ivone Kassu, falecida recentemente.

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