Gabriel de Sá
Estado de Minas: 24/07/2013
Brasília – A festa em Exu, no sertão de Pernambuco, no último mês de dezembro, foi das boas. Na comemoração pelo
centenário
do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, o sanfoneiro Dominguinhos, considerado
pelo próprio mestre como o seu sucessor, foi a estrela maior. Quando
subiu ao palco montado na cidade natal do Velho Lua, o instrumentista de
Garanhuns (PE) esbaldou-se. Foi sua despedida da vida artística. No dia
17 daquele mês, ele foi internado em um hospital do Recife e,
posteriormente, transferido para São Paulo. Dominguinhos lutava contra
um câncer de pulmão havia seis anos. O músico morreu ontem, por volta
das 18h, aos 72 anos. Segundo nota publicada pelo Hospital
Sírio-Libanês, o óbito foi em decorrência de complicações infecciosas e
cardíacas.
Em dezembro, Dominguinhos deu entrada no hospital com pneumonia e arritmia cardíaca. Naquela semana, chegou a sofrer oito paradas cardíacas. Foi sedado e passou a respirar com a ajuda de aparelhos. Ele sofria também de insuficiência ventricular e diabetes. Como o quadro clínico não foi revertido, a família optou por levá-lo para São Paulo. Apesar do estado grave, ele apresentou leve recuperação e chegou a deixar a unidade de terapia intensiva há alguns dias. Contudo, retornou na segunda-feira. O enterro deve acontecer no Recife, após velório na capital paulista.
Ontem à noite, em Garanhuns, o público do Festival de Inverno da cidade fez um minuto de silêncio pela perda do cidadão ilustre. Nascido em 12 de fevereiro de 1941, José Domingos de Morais assumiu com maestria o posto de Luiz Gonzaga. E foi além. Ajudou a continuar difundindo os ritmos nordestinos pelo país e mostrou-se um compositor com dotes inegáveis. Como sanfoneiro, não tinha para ninguém. Os colegas de ofício não se cansam de repetir que ele era o melhor. Os xotevs e baiões, por vezes, perdiam espaço para um Dominguinhos mais suave, mas sempre impressionante.
Oito baixos O talento de Dominguinhos apareceu precocemente. Na infância, ele e os irmãos formaram o trio Os Três Pinguins, no qual tocava sanfona de oito baixos. O pai, mestre Chicão, era afinador dos bons. Durante a vida, o número de baixos foi aumentando exponencialmente à medida que seu dom ganhava fôlego.
Em 1949, aos 8 anos, quando tocava seu fole na porta de um hotel para ganhar uns trocados e ajudar a família, foi percebido por um certo Luiz Gonzaga do Nascimento. O sanfoneiro lhe deu um número de telefone e pediu que o garoto o procurasse no Rio de Janeiro, o que só ocorreria alguns anos depois. Dominguinhos havia se mudado para lá com a família e ganhou uma sanfona do padrinho.
Gonzaga guiou o protegido a vida toda. Foi ele quem sugeriu o apelido pelo qual o pupilo se tornou conhecido. Foi em um LP do Rei do Baião que Dominguinhos estreou em disco, com uma pequena participação. O ano era 1957. O jovem abraçou gêneros além dos nordestinos, como o samba e o bolero, e fez a noite carioca, na qual desfilou todo o seu virtuosismo, ganhando cancha para seguir em frente.
Já afamado e de volta a seu estilo original, nas décadas seguintes acompanhou Gonzaga, Gal Costa e Gilberto Gil em turnês. Consagrado cantor e instrumentista, o artista se tornou uma das maiores referências da música popular brasileira. Gravou mais de 40 LPs e CDs, participou de discos de Caetano Veloso, tocou com Sivuca e, mais recentemente, com Yamandú Costa.
Coleção de clássicos
O Dominguinhos compositor também se tornou célebre. Fez parcerias com nomes de peso da MPB, que emprestaram versos para as melodias sinuosas de sua sanfona. Com o amigo Gilberto Gil, compôs Lamento sertanejo e Abri a porta – esta, sucesso do grupo A Cor do Som. Com Chico Buarque, Tantas palavras e Xote da navegação. E o que dizer de De volta para o aconchego, coautoria com Nando Cordel que ganhou o país na voz de Elba Ramalho? Isso aqui tá bom demais também é dele e de Nando, assim como Gostoso demais, que ganhou interpretação de Maria Bethânia.
Anastácia, companheira na vida e de música por 11 anos, assina com Dominguinhos grande parte de sua obra – algo além de 200 canções. A parceria começou em 1966. Eu só quero um xodó e Tenho sede, por exemplo, sáo da dupla. Ambas foram gravadas por Gil, mas a primeira ultrapassou 400 versões. Em 2002, Dominguinhos ganhou o Grammy Latino com o álbum Chegando de mansinho. Cinco anos mais tarde, foi indicado novamente ao prêmio, na categoria Melhor Disco Regional, com Conterrâneos. (Colaborou Sérgio Rodrigo Reis)
Repercussão
"É muito triste. Perdi um amigo e um parceiro querido."
Chico Buarque, compositor
"'Lá se vai, o meu amor, deixando uma grande saudade...' Dominguinhos, eterno amor, amizade sincera!!"
Elba Ramalho, cantora
"A gente perdeu um dos grandes elos entre a música do interior, do sertão nordestino, e a música da elite.”
Wagner Tiso, compositor
"Dominguinhos me ensinou muita coisa, mudou minha vida musicalmente. Ele levou adiante e elevou o legado do Rei do Baião. É como se Gonzaga estivesse morrendo hoje."
Yamandu Costa, violonista (que gravou o disco "Lado B" com o sanfoneiro)
Em dezembro, Dominguinhos deu entrada no hospital com pneumonia e arritmia cardíaca. Naquela semana, chegou a sofrer oito paradas cardíacas. Foi sedado e passou a respirar com a ajuda de aparelhos. Ele sofria também de insuficiência ventricular e diabetes. Como o quadro clínico não foi revertido, a família optou por levá-lo para São Paulo. Apesar do estado grave, ele apresentou leve recuperação e chegou a deixar a unidade de terapia intensiva há alguns dias. Contudo, retornou na segunda-feira. O enterro deve acontecer no Recife, após velório na capital paulista.
Ontem à noite, em Garanhuns, o público do Festival de Inverno da cidade fez um minuto de silêncio pela perda do cidadão ilustre. Nascido em 12 de fevereiro de 1941, José Domingos de Morais assumiu com maestria o posto de Luiz Gonzaga. E foi além. Ajudou a continuar difundindo os ritmos nordestinos pelo país e mostrou-se um compositor com dotes inegáveis. Como sanfoneiro, não tinha para ninguém. Os colegas de ofício não se cansam de repetir que ele era o melhor. Os xotevs e baiões, por vezes, perdiam espaço para um Dominguinhos mais suave, mas sempre impressionante.
Oito baixos O talento de Dominguinhos apareceu precocemente. Na infância, ele e os irmãos formaram o trio Os Três Pinguins, no qual tocava sanfona de oito baixos. O pai, mestre Chicão, era afinador dos bons. Durante a vida, o número de baixos foi aumentando exponencialmente à medida que seu dom ganhava fôlego.
Em 1949, aos 8 anos, quando tocava seu fole na porta de um hotel para ganhar uns trocados e ajudar a família, foi percebido por um certo Luiz Gonzaga do Nascimento. O sanfoneiro lhe deu um número de telefone e pediu que o garoto o procurasse no Rio de Janeiro, o que só ocorreria alguns anos depois. Dominguinhos havia se mudado para lá com a família e ganhou uma sanfona do padrinho.
Gonzaga guiou o protegido a vida toda. Foi ele quem sugeriu o apelido pelo qual o pupilo se tornou conhecido. Foi em um LP do Rei do Baião que Dominguinhos estreou em disco, com uma pequena participação. O ano era 1957. O jovem abraçou gêneros além dos nordestinos, como o samba e o bolero, e fez a noite carioca, na qual desfilou todo o seu virtuosismo, ganhando cancha para seguir em frente.
Já afamado e de volta a seu estilo original, nas décadas seguintes acompanhou Gonzaga, Gal Costa e Gilberto Gil em turnês. Consagrado cantor e instrumentista, o artista se tornou uma das maiores referências da música popular brasileira. Gravou mais de 40 LPs e CDs, participou de discos de Caetano Veloso, tocou com Sivuca e, mais recentemente, com Yamandú Costa.
Coleção de clássicos
O Dominguinhos compositor também se tornou célebre. Fez parcerias com nomes de peso da MPB, que emprestaram versos para as melodias sinuosas de sua sanfona. Com o amigo Gilberto Gil, compôs Lamento sertanejo e Abri a porta – esta, sucesso do grupo A Cor do Som. Com Chico Buarque, Tantas palavras e Xote da navegação. E o que dizer de De volta para o aconchego, coautoria com Nando Cordel que ganhou o país na voz de Elba Ramalho? Isso aqui tá bom demais também é dele e de Nando, assim como Gostoso demais, que ganhou interpretação de Maria Bethânia.
Anastácia, companheira na vida e de música por 11 anos, assina com Dominguinhos grande parte de sua obra – algo além de 200 canções. A parceria começou em 1966. Eu só quero um xodó e Tenho sede, por exemplo, sáo da dupla. Ambas foram gravadas por Gil, mas a primeira ultrapassou 400 versões. Em 2002, Dominguinhos ganhou o Grammy Latino com o álbum Chegando de mansinho. Cinco anos mais tarde, foi indicado novamente ao prêmio, na categoria Melhor Disco Regional, com Conterrâneos. (Colaborou Sérgio Rodrigo Reis)
Repercussão
"É muito triste. Perdi um amigo e um parceiro querido."
Chico Buarque, compositor
"'Lá se vai, o meu amor, deixando uma grande saudade...' Dominguinhos, eterno amor, amizade sincera!!"
Elba Ramalho, cantora
"A gente perdeu um dos grandes elos entre a música do interior, do sertão nordestino, e a música da elite.”
Wagner Tiso, compositor
"Dominguinhos me ensinou muita coisa, mudou minha vida musicalmente. Ele levou adiante e elevou o legado do Rei do Baião. É como se Gonzaga estivesse morrendo hoje."
Yamandu Costa, violonista (que gravou o disco "Lado B" com o sanfoneiro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário