Estado de Minas - 24/07/2013
Embalada pelo sucesso do robô Curiosity, agência espacial dos EUA quer
coletar novas pistas sobre a existência de vida em Marte. Nova missão
deve custar US$ 1,5 bilhão
Roberta Machado
Brasília
– Em 2020, a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) deve enviar um
novo veículo de exploração a Marte; desta vez, em busca de sinais que
provem que organismos vivos já existiram no Planeta Vermelho. O plano é
um passo lógico seguindo as descobertas de que Marte teve um passado
cheio de água, com direito a rios que corriam no solo avermelhado até
que a perda de quase toda a atmosfera do planeta os fez desaparecer. Mas
há quem acredite que o corpo celeste conserve traços de vida ativa até
hoje, escondida em forma microbiana sob o solo – e que ignorar essa
possibilidade seria um desperdício de uma missão bilionária, que precede
a tão aguardada missão tripulada agendada para 2030.
Depois do
sucesso científico e midiático da missão do robô Curiosity no ano
passado, a Nasa parece tentar repetir a dose sem se arriscar a qualquer
tipo de fracasso. O Laboratório de Ciência de Marte (MSL) confirmou que o
planeta tem um ambiente adequado para a vida, e forneceu diversas
provas de que ele era ainda mais habitável no passado. A intenção agora é
confirmar a suspeita de que o passado marciano abrigou organismos.
“O
passo da evidência da habitabilidade para sinais de vida passada é
grande”, assegura Ken Farley, professor de geoquímica do Instituto de
Tecnologia da Califórnia (Caltech) e um dos cientistas que participam do
planejamento da missão. “Mesmo se nenhum sinal de vida seja descoberto,
uma indicação de que Marte não teve vida seria um progresso
significativo no processo de entender as circunstâncias da vida
existente na Terra e as possibilidades de vida extraterrestre”,
assegura.
Para essa jornada, a Nasa deve reaproveitar o projeto do
veículo de seis rodas que chegou a Marte de paraquedas em agosto de
2012. “O orçamento vai se beneficiar dos investimentos feitos no projeto
MSL reutilizando muito do design e do trabalho de engenharia feito para
aquele projeto”, justifica Farley. Até mesmo peças sobressalentes do
laboratório móvel devem ser aproveitadas na nova missão. O orçamento não
foi definido, mas a agência espera investir US$ 1,5 bilhão com o
equipamento, sem contar os custos do lançamento. Projetar, construir e
enviar o Curiosity para Marte custou US$ 2,5 bilhões.
As ferramentas
de análise ainda devem ser escolhidas por meio de uma competição, mas a
diretriz da missão já deixou claro que experimentos biológicos estão de
fora dos planos de viagem. O veículo deve carregar ferramentas de
análise de imagem, mineralogia e química elementar e orgânica. A receita
é parecida com a missão de 2011, com a exceção de que agora as análises
de minerais devem ser feitas a uma escala microscópica. Sem grandes
novidades que o diferenciem de antecessores, o novo robô pode acabar se
perdendo em meio a uma coleção de equipamentos científicos enviados nas
últimas quatro décadas a Marte – alguns ainda funcionam, enquanto outros
já se enferrujaram (veja arte).
A maior esperança da missão está no
plano da Nasa de recolher amostras marcianas para serem enviadas à
Terra. O robô deve ser capaz de selecionar mais de 30 fragmentos do
planeta para exame detalhado. No entanto, ainda não é certo como elas
serão enviadas à Terra – as rochas devem ficar à espera de algum tipo de
“resgate” em Marte. “Ciência é uma coisa lenta. Não dá para esperar que
uma missão chegue lá, resolva todas as questões científicas e dizer se
existiu vida ou não. Ela (a missão) vai colocar mais uma pecinha num
grande quebra-cabeça que estamos montando há muitos anos”, ressalta
Douglas Galante, do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia (AstroLab) da
Universidade de São Paulo (USP).
Incerteza A
insegurança da Nasa tem origem antiga. Em 1975, a agência enviou para
Marte as sondas Viking, um ambicioso projeto que tinha como objetivo
traçar um perfil da superfície e atmosfera marcianas, além de provar a
existência de vida no planeta. Os resultados históricos obtidos pelo
equipamento foram considerados inconclusivos por alguns especialistas.
“A Nasa não vai procurar por vida sobrevivente em Marte até que tenhamos
um protocolo definitivo para fazê-lo, capaz de dar uma resposta
inequívoca”, critica Alberto Fairen, astrônomo da Universidade de
Cornell.
Assinatura biológica Quase 40 anos
depois da missão Viking, os pesquisadores continuam sem saber como obter
um atestado definitivo de assinaturas biológicas em Marte. “A
instrumentação necessária para fazer isso está atualmente além da
capacidade que acreditamos ter no nível de fidelidade necessário para
convencer a comunidade de cientistas do que uma bioassinatura definitiva
é no presente”, lamenta Jack Mustard, professor da Universidade de
Brown e um dos responsáveis pelo projeto espacial.
Para a agência,
uma busca por sinais de vida atual teria de se basear no conhecimento
que já temos sobre o assunto, issto é, em princípios que regem os
organismos na Terra. As regras, no entanto, podem não se aplicar ao que
quer que exista em Marte. O veículo explorador de 2020 deve procurar por
sinais universais, como estruturas celulares preservadas, compostos
minerais de origem biológica e estruturas químicas e orgânicas que
caracterizem formas de vida.
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