Prolapso genital, caracterizado pela
queda da parede da vagina e que causa desconforto na relação sexual e
perda da qualidade de vida, atinge 20% das mulheres a partir dos 40 anos
Lilian Monteiro
Estado de Minas: 10/07/2013
O nome assusta. O
desconhecimento leva muitas mulheres a acreditarem que seu caso é
único, e, por vergonha, não procuram tratamento. Mas a queda da parede
da vagina, o prolapso genital, é mais comum do que se pensa. A doença
pode surgir a partir dos 40 anos e atinge duas em cada 10 mulheres,
trazendo problemas na vida sexual, incontinência urinária e piora
considerável da qualidade de vida, segundo a ginecologista Sílvia
Carramão, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Popularmente
conhecido como “bexiga caída”, o prolapso genital é caracterizado pela
queda da parede da vagina devido ao enfraquecimento dos músculos da
região pélvica, causando o deslocamento de órgãos como útero, bexiga,
reto, intestino delgado e uretra. “Existem quatro graus de prolapso. Nos
mais graves, a mulher sente uma bola na região genital, que causa
enorme desconforto e constrangimento. Ela passa a evitar o parceiro, já
que, além da vergonha, o ato sexual pode se tornar doloroso. A doença
prejudica também a qualidade de vida, uma vez que causa perda
involuntária de urina”, explica a ginecologista. O principal sintoma,
segundo Sílvia, “é a sensação de uma bola saindo pela vagina. A bola é a
parede da vagina caindo”, acrescenta a médica. O que provoca dor
intensa, dificuldade para evacuar, perda de urina, desconforto na região
genital e impressão de saliência na vagina.
A ginecologista e
obstetra Nilce Consuelo Verçosa, do Hospital da Mulher e Maternidade
Santa Fé, de Belo Horizonte, reforça que pesquisadores brasileiros
enfatizam que o prolapso genital é uma doença multifatorial. “Para seu
desenvolvimento, contribuem fatores sobre os quais não é possível
intervir, como idade e história familiar, e outros, que podem ser
alterados, como obesidade, paridade, tipos de partos e macrossomia fetal
(excesso de peso do recém-nascido), assim como fatores ou patologias
que aumentem a pressão abdominal, como tosse crônica e tumores
abdominopélvicos”.
Nilce lembra que segundo o estudo realizado
pelos pesquisadores Andrea Moura Rodrigues e colaboradores da Escola
Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp),
o principal fator na população brasileira foi a concomitância de um
parto vaginal (normal), macrossomia fetal e história familiar positiva
para distopia (localização anormal de um órgão). A médica destaca que
ginecologistas e obstetras são os responsáveis por cuidar de mulheres
com prolapso, assim como trabalhar na prevenção da doença.
“O parto,
quando ocorre sob a supervisão de um médico, é uma das oportunidades
ideais para isso, pois cabe ao obstetra indicar a via de parto adequada a
cada paciente, reconhecer possíveis lesões no assoalho pélvico e
fornecer o tratamento adequado em tempo hábil”.
Ela explica que o
prolapso é considerado uma hérnia do conteúdo pélvico no canal vaginal e
ocorre quando os músculos do assoalho pélvico se debilitam ou se
danificam e não podem mais sustentar os órgãos pélvicos, que incluem
uretra, bexiga, útero, intestino delgado e reto. “Incide
preferencialmente em mulheres idosas e multíparas. O ápice se dá entre
60 e 69 anos, porém pode ser detectado a partir dos 40”.
Sílvia
Carramão, apesar de admitir que o parto vaginal (normal) é um agravante,
explica que a cesárea também provoca lesão no assoalho pélvico vaginal e
o risco do prolapso genital aumenta. Ela conta que o diagnóstico tem
relação ainda com a menopausa, diabetes, cirurgias abdominais ou
vaginais prévias, retirada do útero, envelhecimento e algumas doenças
musculares, neurológicas e genéticas. “Estudos mostram que, a cada
década de vida, dobra a chance de a mulher apresentar o prolapso
genital, sendo que 11% delas até os 70 anos precisarão de tratamento
cirúrgico”.
FORTALECIMENTO DA MUSCULATURA
Vale
lembrar que a doença afeta também mulheres jovens, portanto é preciso
estar atenta aos sinais do corpo. Por isso é fundamental manter o peso
adequado e fazer exercícios para a musculatura vaginal com indicação de
um médico ou fisioterapeuta. A ginecologista Sílvia lembra que o
tratamento varia de acordo com a intensidade de cada caso. Nos prolapsos
mais leves, são indicados exercícios para a região pélvica, e nos
avançados, cirurgia.
De acordo com a médica, a cirurgia pode ser
tradicional, para restaurar a anatomia normal, ou com a utilização de
malhas sintéticas, por via vaginal ou laparoscópica, que corrigem os
defeitos do assoalho pélvico, fortalecendo a região.
“A doença
acomete 20% das mulheres e 11% são casos cirúrgicos. A intervenção,
geralmente, resolve e o risco de reincidência é de 10%. São tratamentos
com ótimos resultados, mas podem ter efeitos colaterais, como a rejeição
da tela ou sua exposição na mucosa vaginal. O paciente precisa
consultar um médico para verificar a melhor indicação. E como toda
cirurgia, exige cuidado e repouso”.
Além dos sintomas próprios da
doença, a médica da Santa Casa de São Paulo destaca que as mulheres
convivem com o medo de falar sobre a doença. E apesar de frequente,
muitas a desconhecem. “É comum sentirem-se envergonhadas. Escondem e não
pedem ajuda. Ou acham que é normal, consequência da idade. Mas isso é
mito. O prolapso genital tem tratamento e cura. As mulheres não precisam
sofrer. Bastam procurar seu ginecologista que o problema será
resolvido”.
SAÚDE PÚBLICA A ginecologista e
obstetra Nilce Consuelo Verçosa reforça que o prolapso genital é uma
condição ginecológica que não ameaça a vida, mas causa incômodo e
angústia. É doença comum, que pode causar impacto psicológico, familiar,
social e financeiro.
“As informações epidemiológicas são quase
sempre inexatas, uma vez que muitas mulheres escondem o problema ou o
aceitam como consequência natural do envelhecimento ou dos partos
vaginais. Estima-se que os prolapsos são responsáveis por 400 mil
procedimentos/ano nos Estados Unidos, com o custo anual de US$ 1
bilhão”.
Em virtude das melhores condições de vida, da consequente
redução da mortalidade, da diminuição da taxa de natalidade, Nilce
enfatiza que como a população brasileira está envelhecendo, a chance de
aumento no número de casos é grande.
“É estimado que em 2050 o
Brasil contará com aproximadamente nove milhões de mulheres com 80 anos
ou mais. Frente ao envelhecimento, à grande morbidade proporcionada pelo
prolapso genital e aos elevados custos do tratamento, é possível
concluir que há um significativo problema de saúde pública”.
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