CLÁUDIA COLLUCCI
SÃO PAULO - No pacote de medidas anunciadas anteontem para a saúde, a presidente Dilma Rousseff deixou de fora uma questão crucial: o que pretende fazer para melhorar a qualidade dos alunos em medicina e dos próprios médicos que atuam hoje no país?Há sete anos o "provão" criado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) mostra que mais de 50% dos formandos em medicina não têm domínio de áreas básicas para exercer a profissão.
O fraco desempenho dos alunos é explicado por vários fatores, en- tre eles a estrutura deficiente das faculdades, a péssima avaliação interna dos alunos e a falta de punição às escolas ruins.
Por meio do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), o governo federal sabe quais são as faculdades de baixa qualidade, mas pouco ou nada faz para impedir que elas continuem despejando no mercado maus profissionais.
Médicos malformados representam um risco ao paciente e aos sistemas de saúde. Pedem exames demais e enxergam o doente de menos.
O governo estufa o peito para dizer que seguirá o modelo inglês na formação dos médicos, no que diz respeito aos dois anos de treinamento no sistema público de saúde.
Só se esquece de frisar que o cidadão inglês não fica nas mãos de um recém-formado sem supervisão de um tutor. O "estágio" é com o intuito de aprendizado, não é para "tapar buraco" na rede básica de saúde ou nos serviços de emergência.
O Reino Unido também adota uma avaliação externa periódica dos futuros médicos e toma para si a responsabilidade de aferir a competência deles antes que cheguem ao mercado.
É o mínimo que se espera do Brasil, que diz querer investir na formação de "especialistas em gente", que nada mais são do que "médicos das antigas" (como diziam nossas avós), aqueles que, com exame físico apurado e um bom dedo de prosa, conseguiam acertar o diagnóstico.
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