Dilma sem folga no dia do trabalho
É impossível imaginar que as manifestações de hoje tenham efeito neutro sobre a imagem do governo Dilma ou não piorem o clima de mal-estar político e social no país.
Mais ou menos bem-sucedidas em termos de aglomerações ou tumulto, as manifestações trabalhistas tendem a:
1) tornar mais visíveis ou ruidosas reivindicações que não serão atendidas por governo e/ou Congresso;
2) elevar a tensão entre empresas e governos (empregadores), por um lado, e centrais e sindicatos;
3) piorar o mal-estar na economia. Não importa o juízo que se faça das reivindicações e das reações a tais demandas, empresas e seus representantes vão se irritar com a conturbação extra (já começaram os protestos contra a "desordem que prejudica a produção");
4) deixar gente com dinheiro grosso (a finança) ainda mais arisca, pois mais variáveis políticas e econômicas ficarão turvadas pela incerteza (Dilma vai perder de vez o Congresso? Quem vai ganhar a eleição? O que será do resto da política econômica? O que o Congresso pode aprovar neste ambiente tumultuado?).
A lista de reivindicações das centrais e sindicatos é antiga, mas as negociações a respeito delas, quando havia, estavam circunscritas a parte do Congresso que ainda mantem relações com o sindicalismo e a uma ou outra secretaria de governo que enrolava o assunto. Não era um debate entre o público em geral.
Mas a coisa muda quando há reivindicações na rua, publicidade, acompanhadas de conturbação, em meio a um clima de revolta geral e com um Congresso que ameaça entregar os dedos (dos outros) a fim de manter seus anéis.
As centrais querem redução da jornada de trabalho para 40 horas sem redução de salário -mesmo acuado, dificilmente o Congresso entraria em conflito com seus financiadores, para nem discutir as implicações econômicas de tal decisão. Talvez evitem aprovar a lei que facilita a terceirização etc. Se tanto.
As centrais querem ainda o fim do fator previdenciário e outros aumentos para aposentados -o governo não tem como pagar. Querem o fim de privatizações, como a da exploração do petróleo, além de reivindicações igualmente específicas (não colam, portanto) ou genéricas demais ("serviços públicos de qualidade").
A CUT queria ainda levar para a rua a regulamentação dos meios de comunicação (mais dor de cabeça para o governo) e a defesa do plebiscito da reforma política (mais controvérsia com o Congresso).
Nada disso deve ir para a frente, a não ser em caso de convulsão maior ou de um Congresso decididamente desembestado e disposto a dar uma facada em Dilma Rousseff.
Quem vai ficar contente com tal resultado?
Não serão as centrais ou os trabalhadores e passantes que simpatizarem com as reivindicações.
Não serão empresários, grandes, pequenos ou micro, que terão prejuízos diretos, vão reclamar da deterioração do ambiente econômico ou se irritar ainda mais com um governo que (dizem) tem grande responsabilidade pela presente confusão.
Congressistas ligados a movimentos sociais e de trabalhadores, muitos do velho núcleo do PT, serão ignorados por um governo sem margem de manobra financeira ou política para dar alguma satisfação às revoltas várias.
Grande ou pequeno, haverá prejuízo para o governo de Dilma.
Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi Secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve às terças, quintas e domingos, no caderno 'Mercado'.
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