Estado de Minas: 18/08/2013
Houve uma época em
que fiz umas crônicas intituladas “Conversava-se assim…”, em que repetia
diálogos comuns em certas épocas. Retratava, por exemplo, como se
falava no governo Figueiredo, como se conversava nos bares durante a
abertura política, quais os possíveis candidatos e quais os problemas.
Se tivesse continuado, poderia publicar um livro com aquele título, e as
pessoas no futuro iam achar estranhas tais conversas. Diriam: “Eram
muito ingênuas as pessoas daquele tempo, como se equivocavam... Teve
gente que desapareceu, perdeu influência e importância”.
Penso nisso ao ler a notícia de que distribuíram pulseiras vips para os rapazes que invadiram a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Com essas pulseiras, condecorados na confusão mental e ideológica que se instalou, podem andar à vontade lá dentro.
Quem serão esses moços daqui a 50 anos?
Pode ser que algum seja candidato a alguma coisa e que até esteja no palácio tendo que enfrentar a multidão lá fora. Nunca se sabe…
Incendiário hoje, bombeiro amanhã.
Ouvi de uma jovem, entusiasmada com as quebradeiras de vitrines e prédios públicos promovidas pelos black blocs e outros ativistas possessos, a seguinte frase:
– É isso mesmo! Temos que botar pra quebrar, se não for assim não se consegue nada.
– Não dá pra protestar sem quebradeira?
– A polícia é selvagem!
– Mas, tem vídeos mostrando que a polícia também foi atacada.
– Fora Cabral! Fora Alckmin!
– Mas se vocês os tirassem, quem iria para seu lugar?
– Faríamos outra eleição.
– E se vocês não gostassem do sucessor?
– Tirava e botava outro.
– Como no Egito?
– É isso aí!
– E se isso virassem briga de sunitas e xiitas?
Quando se tem 21 anos, olha-se o mundo de maneira bem diferente de quem tem 50 ou 70. São olhares diversos, difícil dizer se um é melhor do que o outro. Democracia é a convivência com olhares e posições diferentes. E democracia não é para principiantes. Quem passou por duas ditaduras, como eu, me entende melhor.
Um slogan de jeans diz: Be stupid (seja estúpido). Acho que isso explica a pós-modernidade. Não é um simples slogan, é uma ideologia.
Nos anos 1960, inventou-se uma verdade: não acredite em ninguém com mais de 30 anos. Eu era jovem, entendia o que queriam, mas achava isso uma bobagem, pois todos os autores com os quais aprendia alguma coisa tinham mais de 30 anos.
Aquele era um pensamento de época. Pensava-se assim no Ocidente por causa do utópico poder jovem. Pensava-se assim no Oriente, revolucionariamente, com a guarda vermelha de Mao Tsé-Tung. Levanto os olhos e vejo na estante uma porção de livros sobre a China e a Rússia. Como mudaram! Não consegui achar Cisnes selvagens, em que avó, mãe e filha contam os momentos por que passou a China no século 20. Mas peguei Os anos vermelhos – Memórias sobre a Revolução Cultural chinesa, escrito por Hua Linshan. Vejo que anotei no fim deste livro: “O ‘terror’ das revoluções francesa e russa não é nada comparado com isso”.
Na física e na astronomia, demonstra-se que a posição do observador em relação ao fenômeno modifica a visão do próprio fenômeno. Aliás, lembro-me de uma conferência do Edgar Morin, nos anos 1980, em que ele relatava a experiência feita por psicólogos mostrando que espectadores, de lugares diferentes, tinham visão diferente de um desastre. Onde uns viam um culpado, outros viam uma vítima.
Se você é daquele tempo ou gosta de cinema, deve ter visto Rashomon (1950), filme de Kurosawa. Ali, um crime é visto de maneira totalmente diferente por vários personagens.
Não é preciso ler Nietzsche para entender que a verdade é relativa.
Quanto à estupidez, cuidado! Está na moda.
Penso nisso ao ler a notícia de que distribuíram pulseiras vips para os rapazes que invadiram a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Com essas pulseiras, condecorados na confusão mental e ideológica que se instalou, podem andar à vontade lá dentro.
Quem serão esses moços daqui a 50 anos?
Pode ser que algum seja candidato a alguma coisa e que até esteja no palácio tendo que enfrentar a multidão lá fora. Nunca se sabe…
Incendiário hoje, bombeiro amanhã.
Ouvi de uma jovem, entusiasmada com as quebradeiras de vitrines e prédios públicos promovidas pelos black blocs e outros ativistas possessos, a seguinte frase:
– É isso mesmo! Temos que botar pra quebrar, se não for assim não se consegue nada.
– Não dá pra protestar sem quebradeira?
– A polícia é selvagem!
– Mas, tem vídeos mostrando que a polícia também foi atacada.
– Fora Cabral! Fora Alckmin!
– Mas se vocês os tirassem, quem iria para seu lugar?
– Faríamos outra eleição.
– E se vocês não gostassem do sucessor?
– Tirava e botava outro.
– Como no Egito?
– É isso aí!
– E se isso virassem briga de sunitas e xiitas?
Quando se tem 21 anos, olha-se o mundo de maneira bem diferente de quem tem 50 ou 70. São olhares diversos, difícil dizer se um é melhor do que o outro. Democracia é a convivência com olhares e posições diferentes. E democracia não é para principiantes. Quem passou por duas ditaduras, como eu, me entende melhor.
Um slogan de jeans diz: Be stupid (seja estúpido). Acho que isso explica a pós-modernidade. Não é um simples slogan, é uma ideologia.
Nos anos 1960, inventou-se uma verdade: não acredite em ninguém com mais de 30 anos. Eu era jovem, entendia o que queriam, mas achava isso uma bobagem, pois todos os autores com os quais aprendia alguma coisa tinham mais de 30 anos.
Aquele era um pensamento de época. Pensava-se assim no Ocidente por causa do utópico poder jovem. Pensava-se assim no Oriente, revolucionariamente, com a guarda vermelha de Mao Tsé-Tung. Levanto os olhos e vejo na estante uma porção de livros sobre a China e a Rússia. Como mudaram! Não consegui achar Cisnes selvagens, em que avó, mãe e filha contam os momentos por que passou a China no século 20. Mas peguei Os anos vermelhos – Memórias sobre a Revolução Cultural chinesa, escrito por Hua Linshan. Vejo que anotei no fim deste livro: “O ‘terror’ das revoluções francesa e russa não é nada comparado com isso”.
Na física e na astronomia, demonstra-se que a posição do observador em relação ao fenômeno modifica a visão do próprio fenômeno. Aliás, lembro-me de uma conferência do Edgar Morin, nos anos 1980, em que ele relatava a experiência feita por psicólogos mostrando que espectadores, de lugares diferentes, tinham visão diferente de um desastre. Onde uns viam um culpado, outros viam uma vítima.
Se você é daquele tempo ou gosta de cinema, deve ter visto Rashomon (1950), filme de Kurosawa. Ali, um crime é visto de maneira totalmente diferente por vários personagens.
Não é preciso ler Nietzsche para entender que a verdade é relativa.
Quanto à estupidez, cuidado! Está na moda.
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