ZERO HORA - 18/08/2013
Tem
pessoas que vão a Londres só para fazer um tour pelas suas exposições: é
uma cidade reconhecida pela oferta inesgotável de museus e galerias,
cujo acervo abrange todos os períodos, artistas e tendências. Enquanto
estive lá, um dos pontos altos da programação cultural era a mostra do
holandês Vermeer na National Gallery, mas o que me emocionou de forma
profunda foi Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro reconhecido
mundialmente, que com seu atual ensaio chamado Genesis, em exposição no
Museu de História Natural, eleva ainda mais o status da fotografia como
obra de arte.
Sebastião Salgado sempre esteve comprometido com o
meio-ambiente e é inclusive diretor do Instituto Terra, que promove
ações ecológicas e de sustentabilidade desde muito antes disso virar
moda. Com o olhar afiado para enquadrar a relação entre os homens e o
planeta, dessa vez ele se dedicou prioritariamente a retratar a natureza
em sua forma mais primitiva, e o resultado é difícil de descrever em
palavras: o que vemos é uma beleza dramática que pulsa, tem vida, salta
da parede e nos arrebata como se estivéssemos vendo pela primeira vez
algo que não suspeitávamos existir.
E é isso que intriga, pois
sabemos que existem geleiras, rios, montanhas, planícies, florestas, mas
dessa vez elas nos são mostradas como se não coabitássemos o mesmo
planeta. E a verdade é que não coabitamos mesmo. Abra um mapa: fazemos
parte do todo. Mas é uma relação representada num papel, não de fato.
O
fotógrafo viajou oito anos pelo globo captando imagens no Alaska, na
Patagônia, no Sudão, sempre extraindo a força do essencial e nos
obrigando a reconhecer o quanto vivemos apartados do planeta. Nós,
moradores das cidades, estamos tão engajados numa rotina de velocidade,
asfalto, tecnologia, motores e eletricidade que fundamos um planeta
próprio, cujo nome “Terra” soa até inapropriado.
Fazemos
excursões turísticas àquele outro planeta que fica fora dos limites
urbanos, e também o fotografamos para enfeitar nossos porta-retratos,
mas Sebastião Salgado faz bem mais do que isso: ele resgata a origem de
tudo, aquilo que nunca dependeu do progresso e que ainda resiste com
magistral integridade. E não bastasse essa manifestação de certa forma
política, que nos conscientiza sobre nosso afastamento das fontes
naturais de sobrevivência, ele ainda o faz com um senso estético
arrebatador: suas fotos assemelham-se a uma ópera, não é coisa para
amadores. O homem é um gigante.
A mesma mostra está em exposição no Rio de Janeiro e no início de setembro aterrissará em São Paulo.
Se
estiver ao seu alcance, não perca. É uma rara oportunidade de
estabelecer uma conexão que tem caído a cada dia: a nossa com o planeta
real.
Nenhum comentário:
Postar um comentário