domingo, 18 de agosto de 2013

Plano de Haddad não ataca problemas, diz professora

folha de são paulo
Pedagoga da Unicamp defende investimento em salário e infraestrutura
Envio de boletim aos pais e centros para a formação de docentes são elogiados pela pesquisadora
FÁBIO TAKAHASHIRICARDO SENRADE SÃO PAULOO pacote para a educação paulistana anunciado na última semana pelo prefeito Fernando Haddad (PT) tem pontos positivos, mas não ataca os problemas principais, avalia a pesquisadora Maria Marcia Malavazi, da Unicamp.
Coordenadora do curso de pedagogia da instituição, Malavazi elogiou o envio de boletim com as notas dos alunos aos pais e a ideia de transformar os CEUs (centros de educação unificados) em unidades para a formação de professores.
Para a pesquisadora, porém, o que mudaria efetivamente a qualidade do ensino público seria o investimento maior em salário do docente --o piso municipal hoje é de R$ 2.152 para 40 horas semanais. Ela também defende investimentos na infraestrutura das escolas.
Entre as medidas anunciadas por Haddad estão o aumento da possibilidade de reprovação dos alunos (em cinco das nove séries), a obrigatoriedade da lição de casa e a realização de provas bimestrais.
Atualmente, os dois últimos pontos são definidos pelas escolas.
A gestão municipal diz querer organizar melhor a rotina dos colégios e exigir mais estudos dos alunos. Em contrapartida, promete melhorar a recuperação dos estudantes (com mais professores) e a formação dos docentes (com mais cursos).
O plano dividiu os analistas. A ONG Todos pela Educação, por exemplo, entende que a proposta é positiva, por tentar implementar "o básico" para um bom ensino.
A seguir, a opinião da pesquisadora da Unicamp.
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Folha - Qual a avaliação da sra. sobre o plano da prefeitura?
Maria Marcia Malavazi - Não ataca o que é importante. A discussão não deveria ser se vai avaliar ou reprovar mais os alunos. A discussão deveria ser: Quando as escolas terão efetivamente condições de ensinar?
A aprovação automática não deu certo. Mas a reprovação também não dará. Um salto de qualidade só viria com melhores condições salariais e de trabalho para os professores, o que poderia atrair profissionais excelentes.
Além de escolas mais bem equipadas, com computadores, laboratórios. E formação melhor dos professores.
A sra. vê pontos positivos no plano da prefeitura?
Gosto da ideia de enviar o boletim com notas aos pais. Não muito pelo ato em si, mas porque isso pode desencadear uma participação maior da família na vida escolar.
Também achei interessante a ideia de transformar os CEUs em centros de formação de professores, eles precisam estar em constante atualização. Só precisa ver a qualidade desses cursos.
Mas são medidas paliativas. A ideia aí é dizer que a culpa pela situação do aluno é do professor, não da estrutura oferecida. Isso acontece na prefeitura e no Estado, não tem muita diferença.
A sra. citou a necessidade de melhorar a formação dos professores, mas gestores e analistas criticam também cursos considerados de ponta, como da Unicamp, por serem muito teóricos e pouco práticos.
A teoria ilumina a prática. O professor tem de saber ensinar em diversas comunidades, sem receita pronta. Os gestores reclamam desses cursos porque eles ensinam o professor a pensar. E, assim, eles não aceitam qualquer medida de um gestor.

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