domingo, 4 de agosto de 2013

Eduardo Almeida Reis - Padrão Fifa‏


Eduardo Almeida Reis - eduardo.reis@uai.com.br

Estado de Minas: 04/08/2013 


Agora que o padrão Fifa entrou na moda, me dei conta de que, nos anos todos em que fui obrigado a escrever sobre esportes, com ênfase para o futebol, inventei a brincadeira de Cronista-Fifa para fugir do indecoroso pronome sujeito “eu”, em que chafurda a esmagadora maioria dos cronistas deste país grande e bobo. Antes, quando escrevi durante 15 anos pequenos textos diários de até 500 palavras, fui Texticulista, sempre fugindo do pronome sujeito, muitas vezes dispensável em português, como ensinou Celso Cunha, tio de Andrea e Aécio Neves da Cunha. Há coisa de sete anos adotei a figura do Philosopho.

Por falar em padrão Fifa, ouço dizerem que o gramado do Estádio Mané Garrincha já está uma porcaria e que muitas “arenas” construídas ou reformadas por bilhões de reais não têm espaços reservados para as câmeras de televisão, instaladas sobre andaimes.

Sem tevê o negócio vai ficar meio difícil. Noite dessas, zapeando o televisor, passei pelo jogo do Cruzeiro com o Atlético-GO, quando a Raposa ainda vencia por 1 x 0. Não se via vivalma nas arquibancadas centrais; só uns poucos torcedores atrás de um dos gols. Manhã seguinte, recebi os jornais, mas de edições que fecharam às 21h, sem notícia do jogo e do público pagante.

As providências para receber o papa Francisco disseram bem do país em que vivemos. Caças, helicópteros, tanques, milhares de PMs, policiais civis, não sei quantos homens do Exército e da Força Nacional, radares, baterias antiaéreas – um país em guerra não movimenta tropas em tamanha quantidade. E isso para receber a figura máxima do catolicismo.

Será que alguém, aqui ou alhures, teria interesse em atirar no papa, sequestrar o papa, molestar o papa? Não creio. Contudo, se um maluco quiser matá-lo, não há de ser um caça da FAB avoando lá em cima que o impedirá.

Internet

Atribuído ao baiano João Ubaldo, circula na internet um texto muito bem escrito, com dois errinhos de digitação, musicado, em que todos os males do Brasil são atribuídos aos eleitores brasileiros, que não sabemos escolher nossos parlamentares e nossos administradores.

Dá para perceber que o texto não é de Ubaldo, porque chama de “ladrão” ilustre ex-presidente da República, e o escritor baiano, homem educado e informado, seria incapaz de calúnia desse jaez, mesmo porque não ignora a honestidade de todos os nossos ex-presidentes.

Se alguns enriqueceram e ficaram bilionários foi porque souberam economizar ao longo de suas vidas. Admitamos que, em termos atuais, um presidente receba limpos R$ 30 mil. Economizando R$ 29.990, ao fim de um ano terá R$ 359.880, cerca de R$ 1.430.000 em quatro anos de mandato. Reeleito, sempre economizando, poderá comprar apartamento médio no Bairro de Lourdes, Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, onde um apartamento realmente bom está custando quatro vezes as economias de oito anos de mandatos presidenciais.

Quanto à nossa culpa nas urnas, desconsideremos a justa suspeição sobre os mecanismos das urnas eletrônicas: se um hacker invade o sistema do Pentágono, um menino de 6 anos invade o sistema do nosso Tribunal Superior Eleitoral. Com ou sem manipulação, não há dúvida de que votamos mal. Extinta a República Velha, odioso período em que havia parlamentares alfabetizados, as eleições modernas são isto que se vê nos parlamentos e nos palácios.

Na República Velha, os coronéis do interior conheciam os rapazes mais estudiosos e brilhantes das regiões sobre as quais tinham controle, cuidando de enviá-los como seus representantes às assembleias, às câmaras, ao Senado. Que, por falar nele, obrou muito mal ao proibir a eleição de suplentes aparentados com os senadores eleitos. Em que outro país, dos mais de 190 reconhecidos pela ONU, existe a sorte, a boa estrela, a felicidade de contar no respectivo Senado com a figura admirável de um suplente como Edison Lobão Filho? Que outra pessoa, entre as mais de 7,5 bilhões que povoam a Terra, teria a competência senatorial de Lobão Filho, enquanto seu ilustre pai exerce as funções de ministro de Minas e Energia, ele que é justamente considerado a maior autoridade mundial nas áreas em que ministra?

O mundo é uma bola
4 de agosto de 1578: na Batalha de Alcácer-Quibir, o rei de Marrocos derrota o Exército português e o rei dom Sebastião, de Portugal, desaparece do mapa. Coroa herdada por seu tio-avô, o cardeal-rei dom Henrique, abrindo caminho para a crise dinástica em que Portugal seria governado pelos reis espanhóis de 1580 a 1640.

Dom Sebastião, retratado pelo historiador português Oliveira Martins, era rapaz complicado, desengonçado, com um lado maior que o outro, não muito amigo de mulheres, tanto assim que importaram da França um médico precursor da terapia recomendada pelo pastor Feliciano, deputado federal (PSC-SP). Curado ou não, sumiu em Alcácer-Quibir ensejando o sebastianismo, crença mística, propagada em Portugal logo após seu desaparecimento, segundo a qual Sebastião, como um novo messias, retornaria para levar o país a outros apogeus de glórias e conquistas.

Ruminanças
“Os otimistas escrevem mal” (Paul Valéry, 1871-1945). 

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