domingo, 4 de agosto de 2013

Editoriais FolhaSP - Charge

folha de são paulo

Retomada americana
Cada vez mais analistas apostam na aceleração substancial da economia americana já em 2014. Nem foi tão imponente o crescimento do primeiro semestre, mas já se constatam requisitos necessários para um desempenho melhor no próximo ano.
A dúvida, agora, diz respeito à velocidade da retomada e ao comportamento do Fed, o banco central dos Estados Unidos.
A crise financeira parece superada. Depois de longo período, os preços dos imóveis voltam a subir, e a inadimplência retorna aos baixos níveis históricos. Os bancos, que têm boa parte de seus empréstimos garantida por hipotecas, voltaram a ter lucros polpudos. O crédito deverá se expandir.
Além disso, como houve grande salto de produtividade, os custos para empresas americanas são muito baixos na comparação com competidores globais. Adicione-se o preço reduzido de energia, por causa da revolução tecnológica do gás de xisto, e tem-se um cenário novamente atrativo para indústrias que haviam deixado o país.
Não fosse o aperto das contas públicas, que deve subtrair 1,5 ponto percentual do crescimento, este teria sido ainda maior. Estima-se que, no ano que vem, o efeito desse aperto caia pela metade.
Com a economia nesse ritmo, tudo o mais sugere que o Fed, em breve, poderá mesmo diminuir os estímulos ao crescimento. Em outras palavras, o banco central dos EUA deve, num primeiro momento, reduzir a injeção de dinheiro na praça --hoje são US$ 85 bilhões por mês. Depois, em algum momento de 2014, esse tipo de intervenção deve ser interrompida.
Trata-se, a partir daí, de saber quando os juros, atualmente perto de zero, começarão a subir.
O principal empecilho parece ser o desemprego de 7,4%, ainda alto para os padrões norte-americanos. Faltam 2 milhões de postos de trabalho para o país retomar o nível pré-crise. Além disso, a inflação anual, em torno de 1% (a meta é de 2%), não constitui ameaça. Ao contrário do que ocorre no Brasil, não há, nos Estados Unidos, conflito entre crescimento econômico e alta de preços.
Por essa razão, as taxas de juros dificilmente serão modificadas antes de 2015. Quando se trata da maior economia do planeta, contudo, esse horizonte é perto o suficiente para que investidores comecem a redirecionar recursos aos Estados Unidos.
Já estão aí os efeitos desse cenário, como a valorização do dólar e a redução da entrada de capitais em países emergentes. Esse processo, vale lembrar, será duradouro

eDITORIAIS
editoriais@uol.com.br
Leilão de resultados
Licitações de obras de infraestrutura podem deixar importante legado para o país, mas governo se perde com remendos na economia
No último trimestre do ano, pode dissipar-se parte da névoa pessimista que turva perspectivas de empresários e consumidores. Espera-se que, a partir de setembro, ocorram bem-sucedidas licitações de obras e concessões de rodovias, aeroportos, portos, rodovias e campos de petróleo.
O bom resultado financeiro dessas operações preencheria vazios no caixa federal. Vencedores com qualificação técnica inspirariam confiança na realização e na boa gestão dos projetos. O início das obras estimularia a economia. Tais sucessos, enfim, restaurariam parte da confiança no país.
Mas há empecilhos sérios ao deslanche dos leilões. A começar porque o governo se atrasa, por teimosia em admitir a privatização, e se atrapalha na elaboração de normas sobre a disputa e a regulação dos serviços privados.
A inoperância oficial fica evidente em vexames como o dos parques eólicos prontos e sem linhas de transmissão, ou no fiasco da essencial ferrovia entre o Centro-Oeste e o litoral da Bahia.
Outros impedimentos são o momento difícil da economia e a falta de credibilidade do governo. Juros em alta elevam as demandas de retorno das empresas. Protestos de rua e as subsequentes reações demagógicas de governos e parlamentares criam incerteza sobre o cumprimento de contratos.
Tudo isso e o fato de o governo depender demais do sucesso das licitações aumenta o poder de barganha das empresas.
Tais problemas poderiam ser minorados caso houvesse disposição para entender o risco dos empreendimentos privados, em vez de aceitar a privatização como remédio amargo a ser adoçado com a redução do retorno das empresas a níveis inviáveis e com a presença de sócios estatais.
O governo ficou obcecado com a "modicidade tarifária", mas descura da qualidade técnica dos vencedores, dos projetos e da qualidade do próprio serviço.
Faria bem se deixasse de lado projetos inviáveis, como o do trem-bala, a fim de se concentrar no desembaraço das encrencadas licitações de ferrovias úteis.
Nesse caso, as normas estão indefinidas. Ademais, a regulação do setor prevê a participação de uma estatal, a Valec, que vive entre escândalos e inoperância. No caso dos portos, os planos iniciais do governo suscitam ameaças de uma guerra jurídica.
O governo deveria parar de perder tempo com remendos e malabarismos. Reunir os escassos meios das agências reguladoras para colocar de pé bons leilões é opção melhor. Pode ser a última oportunidade de deixar legado útil na área econômica.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário